Caros amigos Flatouters, Petrolheads e apaixonados por viagens. Tentarei, nas próximas linhas, transcrever algumas experiências que eu e a D. Encrenca pudemos vivenciar em nossa última incursão no Velho Continente, no início de junho de 2018.
Tudo começou cinco anos atrás, quando de nossa primeira ida à Europa, quando visitamos sis países (França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Suíça e Itália) e percebemos que o pacote da companhia de turismo era bastante abrangente, porém sem muito tempo para que pudéssemos curtir tudo aquilo que queríamos. O pacote nos fez perder muitas horas dentro de um ônibus, visitando cidades e monumentos, mas sempre engessados quanto aos prazos e alternativas.
Pegue um motorista compulsivo e apaixonado por carros e o deixe trancado dentro de um ônibus, passando pelas melhores estradas do mundo, com todos aqueles carros maravilhosos ao seu redor e você saberá o que significa tortura psicológica. Sim. Foi o que senti…
Comentei isso com alguns companheiros do Clube do Cruze em Juiz de Fora/MG, que deixou de ser um clube para ser uma família (sim, galera! Nunca me esqueço de vocês!) Mas essa é outra história…
Daí que veio o sonho: “Da próxima vez, faremos tudo por conta própria. E de carro…” e de forma inacreditável compreensiva, a D. Encrenca concordou.
Foi assim que economizamos (as moedinhas não caem do céu!), decidimos a data da viagem e passamos grande parte do nosso tempo livre planejando o quê e como faríamos. Alternativas de roteiro, hotéis com preços honestos, custos dos passeios, opções de carros para aluguel, consumo de combustível, pedágios, etc. E esse é o segredo para que tudo corra bem. Planejamento.
Dica 1: Planejamento, planejamento e planejamento. Monte a sua planilha com seu orçamento, custos, datas, locais, endereços, etc. Assim você não terá surpresas durante seu roteiro.
Como seria uma viagem para que pudéssemos ver o que não fizemos na nossa outra aventura por lá, o roteiro deveria ser bem eclético, já que a D. Encrenca manda mais do que o chefe em dias de ataque de nervos. Museus, praças, monumentos, carros, igrejas, motos, mais museus (inclusive os de carros), e por aí vai…
Dica 2: Para quem quiser se aventurar por lá, o site ViaMichelin ajuda muito (www.viamichelin.pt). É um tipo de Google Maps, porém, configurável. Ele calcula os custos com combustível e pedágios nas opções de trajetos sugeridos. Os valores previstos no planejamento foram muito parecidos com os que vivenciamos.
Roteiro definido. Acelera! (#sqn)
Roma e Florença/Toscana. Estas foram visitadas a pé.
Chegamos a Roma e fomos para todos os monumentos possíveis. Foram três dias andando, e aí você imagina o estado em que os pés ficaram…
A grandiosidade dos prédios, a idade dos monumentos e as ruas apertadas lhe remetem a outros tempos… Vale cada passo dado, cada centavo investido.
O uso de carros minúsculos em Roma se torna evidente. Toyota iQ, Smart, Renault Twizy e outros da mesma categoria dominam as ruas, dividindo espaço com as scooters. Quem estiver em um desses carros, poderá estacionar da maneira que achar melhor (na contramão, fazendo baliza ou simplesmente de frente para a calçada). Não importa… para eles, tudo é válido e possível.
Os pequenos…
Também chama a atenção o respeito dos motoristas pelos pedestres, que têm prioridade. E o respeito dos pedestres pela travessia nas faixas. Presenciamos alguns casos em que o pedestre sequer para e olha para os lados antes de atravessar uma rua, porém sempre na faixa…
O uso da seta também foi observado. Eles não economizam essas fantásticas luzinhas que o brasileiro negligencia.
Depois de alguns dias, partimos para Florença, de trem, e a 250 km/h! O que descobrimos é que, muita bagagem e trens não combinam. A bagagem tem que ir naquelas prateleiras acima dos bancos. Se a sua mala for grande e pesada, você terá problemas.
Dica 3: Assim como as passagens aéreas, as passagens de trem compradas com antecedência, têm excelentes descontos.
Florença; que também é um espetáculo por si só. Mais uma viagem no tempo. Ruas estreitas e escuras, prédios com fachadas antigas e interiores modernos e muitos quilômetros percorridos a pé, já que a maioria das ruas no centro histórico não permite o tráfego de veículos automotores.
Agora sim! Acelera!
Chegamos à Toscana e o início da epopeia automotiva que viveríamos nos próximos 11 dias!
Carro alugado ainda no Brasil, por meio de um site (www.rentalcar.com) que era referenciado em todos os blogs que lemos. Acreditei e fiz a reserva e pagamento de um Peugeot 308 Estate (como também são conhecidos alguns SW por lá), ou similar, a ser retirado em Florença e devolvido no aeroporto de Roma.
A nossa primeira opção tinha sido o Alfa Romeo Giulietta, mas não caberia toda a bagagem no porta-malas do hatch médio estiloso… e também porque a locadora era outra e não aceitava o pagamento aqui no Brasil. Pagamentos com cartão de crédito realizados no exterior têm o acréscimo de 6,7% de IOF e o câmbio do dia de fechamento da fatura do cartão…
Porém, na hora de retirar o 308, fui “premiado” com um Fiat Tipo SW 1.6 16v movido a gasolio. Opa… gasóleo? Ah sim… diesel! E isso é bom ou ruim? Com o tempo veio a resposta: é ótimo! O preço do litro é mais baixo que da gasolina (ou benzina, como é chamada na Itália) e as médias de consumo são inacreditáveis. No fim de 3.600 km percorridos, a média foi de 20 km/l. Só o barulho do motor que incomoda um pouco, principalmente em baixas rotações, mas é totalmente aceitável. Às vezes você acha que está batendo pino, às vezes que está batendo biela, mas na verdade, ele está ótimo! É só a falta de costume mesmo…
O carro que recebi estava sujo (ou mal lavado?), porém, com apenas 3.300 km rodados. Quanto ao seguro, é opcional e ficou mais caro que o próprio aluguel do carro. Ainda assim, resolvemos pagar. Menos stress. E a locadora meio que forçou a contratação do seguro alegando que o carro iria circular em outros países. De qualquer maneira, vale pagar para não ter aborrecimento.
O Tipo SW se mostrou extremamente confortável e confiável mas sem a tocada esportiva que queremos. Aliás, recomendo para quem quiser andar muito por lá…
Estacionamento do Rally, em Florença, e as faixas azuis de estacionamento
Já havia reparado que os SW são bem numerosos no trânsito europeu. Talvez haja mais deles do que sedãs nas ruas, principalmente os Mercedes e BMW. E a opção pelo diesel também parece ser a mais correta. Acho que a maioria dos carros que circulam por lá são movidos a diesel.
O tour de um dia pela Toscana nos mostrou que a região é linda e que as cidades, cercadas por muros medievais, não foram feitas para receber os carros que temos atualmente. Em Siena e San Gimignano tivemos que deixar o carro fora do centro da cidade por causa das benditas ZTL (Zonas de Trânsito Limitado).
D. Encrenca e as paisagens da Toscana
Estradas na região da Toscana
Dica 4: Existem aplicativos de celular específicos que apontam as cidades e as suas áreas de tráfego restrito (www.accessibilitacentristorici.it/). Evite alugar carros nas cidades que têm as ZTL. Não é possível circular dentro das ZTL sem que se receba uma multa.
Outra curiosidade são as vagas delimitadas por linhas azuis. O estacionamento nestas vagas está condicionado ao pagamento e, na maioria das vezes, destinadas aos turistas. As vagas delimitadas por linhas brancas são destinadas aos moradores daquela área (sim! Daquela área, e não daquela cidade!). Portanto, todo cuidado é pouco. Estacionar em local errado lhe proporcionará uma bela multa.
Então, Santa Ágata Bolognese
Agora os petrolheads se contorceram em suas cadeiras… Lamborghini!
Próxima à Modena (terra da Ferrari), se encontra a pacata cidade de Santa Ágata Bolognese, onde está localizado o Museo Lamborghini.
Para chegar até lá, é preciso deixar a Rodovia E45 e percorrer um labirinto interminável de pequenas estradas.
Dica 5: use o seu GPS. Sem GPS você não dirige em lugar algum na Europa. E com ele ainda corre-se o risco de errar (e erramos, vocês verão!). Se quiser usar o seu smartphone, compre um chip de uma operadora local. O roaming funciona em toda a Europa, sem custo adicional e poderá usar o Google Maps, Waze, ou outro qualquer, sem problemas.
Eu usei a combinação Maps e chip da Vodafone. O Tipo tem sua central multimídia compatível com o Android Auto, o que ajudou para que viajássemos sem maiores problemas, exceto os de conexão entre o celular e o carro que, às vezes, se recusava a funcionar.
E foi em uma dessas crises existenciais do Android Auto que, na saída da E45, tive que perguntar ao simpático senhor que trabalha na cabine de pedágio (bem próximo à Modena) qual a direção para Santa Ágata. E sorrindo, só perguntou: “Lamborghini?” e com a resposta positiva, ele prontamente nos orientou. Talvez, se fosse um ferrarista, me mandasse para o lado errado… vai saber.
Claro que os italianos são apaixonados por carros, chegando ao ponto de chamarem seus carros de “mia macchina”… seja o carro que for.
O museu Lamborghini e o Centenario
O museu da Lamborghini é, de fato, acanhado. Dois pequenos andares apresentam os carros históricos e modernos. Ali estão expostos o que qualquer gearhead quer ver: Powertrains de 10 cilindros montados em pedestais, carros presos nas paredes, camionetes e SUV, F1… Tudo ali, na frente daqueles que, assim como eu, admiram a marca. Pode-se filmar, fotografar, olhar, babar, mas não pode tocar em nenhum deles. Mas ainda assim vale a pena.
Do 350 GT, Miura, Espada, Gallardo de competição até chegar ao Centenário, todos chamam a atenção. O estado de conservação dos antigos se destaca tanto quanto o design dos carros mais modernos ali expostos. A visitação à fábrica não foi possível por ser domingo…
Diablo e Gallardo – gerações icônicas
Na parede sim, e porque não?
E Deus fez as curvas!
E juntou as melhores delas em um só lugar: Stelvio!
De Santa Ágata seguimos para Bormio. Cidadezinha ao pé dos Alpes, onde se inicia o caminho mais impressionante para um motorista comum – o Passo dello Stelvio. O trajeto de Santa Ágata até Bormio é um colírio, já a partir de Verona, última grande cidade pelo caminho.
Vilas e estradas pelo caminho.
Passamos por lagos formados nos contrafortes dos Alpes, com suas pequenas vilas ao redor, túneis que parecem não ter fim, estradinhas de mão dupla e sem acostamento em meio a florestas, tudo isso emoldurado pelos contrafortes dos Alpes. A via SS42 deve ser o paraíso para os motociclistas… filas intermináveis de motos de todos os tamanhos e modelos que se pode imaginar.
Dormimos em Bormio, cidade que costuma hospedar os ciclistas que treinam para as provas de subida de montanha – esporte bastante difundido por lá. Só então tive que fazer o primeiro abastecimento. Cerca de € 60,00 de diesel e 21 km/l de média até então.
Por lá, a maioria dos postos de combustível funciona no esquema de self-service. Você abastece o carro e paga no caixa da lojinha de conveniência, bastando informar o número da bomba que você usou. Existem também os postos que têm os frentistas e que cobram cerca de € 0,30 a mais por litro. Ahhh… O litro do diesel na Itália custa cerca de € 1,50 na Itália e € 1,20 na Alemanha e Áustria.
Saindo de Bormio, entramos no Passo dello Stelvio, uma das várias passagens por cima dos Alpes entre Itália, Suíça e Áustria. Pouco mais de 20 km de subida, com uma diferença de 1.580m de altitude entre a cidade e o topo da passagem, e incontáveis curvas de 180 graus. Em algumas curvas você quase precisa parar o carro para ver se pode continuar sem bater em quem está vindo no sentido contrário. Um paraíso para quem gosta de dirigir e aproveitar a paisagem. Esta estrada fica fechada ao trânsito por mais de seis meses no ano, devido a quantidade de neve que se acumula por lá.
O início da subida e os intermináveis e incansáveis cliclistas
No sentido contrário estava acontecendo um rally de carros antigos. Dezenas de raridades como Aston Martin, Porsche de rally (com aqueles faróis redondos em carenagens sobre o capô), Mercedes, Triumph, etc, e suas equipes de apoio dividiam o espaço (democraticamente) com centenas de ciclistas (também com suas equipes de apoio), passando por túneis escavados na pedra e de mão única. Parece uma confusão, mas tudo ocorre de maneira ordenada e fluida. E a prioridade é dos ciclistas!
Carros do rally e os túneis
Paisagens ou cenários de filme?
No alto do Passo, existem alguns hotéis e lojinhas de souvenir. A maioria delas tem como público alvo, os cliclistas. Lá no alto, todos (ciclistas, motociclistas, motoristas) param para descansar um pouco. Acho que mais por causa do visual do que para deixarem as máquinas esfriarem ou para recuperarem o fôlego. Alemães, austríacos e italianos são a maioria por lá, mas tem placas de todos as partes da Europa.
No alto do Passo e as suas lojinhas
Vistas para o lado Italiano e para o Austríaco, respectivamente
Depois de apreciar a vista maravilhosa, veio a descida em direção à Áustria. Tão bonita e desafiadora quanto à subida, mas com vegetação e relevo bem diferentes. A cada quilômetro rodado dá vontade de parar para tirar mais fotos.
E então os túneis gigantes (mais uma vez)…
Visual da descida, sentido Áustria
Parada em Innsbruck para conhecer a cidade, comer e dormir para seguirmos para os castelos na Alemanha.
E as paisagens na saída do Passo, sentido Áustria…
A secadora da Fiat…
No dia seguinte seguimos para Füssem, na fronteira com a Alemanha, para conhecermos o castelo de Neuschwanstein, que serviu de inspiração para o castelo da Cinderela na Disney / EUA (agora vão me sacanear…).
Lugar diferenciado pelo relevo e vegetação e seus castelos. E um deles data do século XIX (sim! XIX), obra do Rei Ludwig II, que achava que seria legal voltar no tempo e mandou construir um castelo no estilo medieval, onde ninguém deveria entrar para conhecer (hoje, é o castelo mais visitado na Alemanha. E ele deve estar rolando de raiva dentro do túmulo). Por essa e outras, ele foi considerado louco, destituído do trono e enviado à prisão, onde morreu (de causas desconhecidas) no dia seguinte à sua chegada, no auge dos seus 40 anos de idade. Gearhead também é cultura!
E foi no caminho do castelo para o estacionamento que pegamos uma forte chuva. Uns 2 km de descida à pé, chovendo canivete suíço aberto, e as capas de chuva que havíamos acabado de comprar não deram conta do recado. O carro acabou virando um secador de calças e tênis (com os donos das roupas ainda dentro delas!), uma vez que seguiríamos para o hotel em Munique (a 120 km) onde dormiríamos. Chuva por todo o trajeto. E as autobahnen? Ainda nada…
As estradas da região são espetaculares. Nada de buracos ou remendos. Porém, por ser o início do verão por lá, a maioria das autoestradas estava em obra, o que tornava trechos sem limite de velocidade em trechos com velocidade reduzida a 80 km/h. Decepcionante. E incrivelmente todos os motoristas respeitam às velocidades máximas permitidas e definidas pela sinalização.
Momento de ser trucidado
Em Munique não foi possível visitar o museu da BMW (agora os beemers de plantão irão me crucificar). Tínhamos outros planos, incluindo visitar a cervejaria Hofbrauhaus, cuja fundação data de 1589. Também sou fã de cerveja!
Ahhh! A chuva que caía desde o dia anterior também atrapalhou (desculpa esfarrapada).
E mais um sonho se torna realidade!
Daí seguimos para Nurburg (sim! O famoso Nordschleife!). Foram 550 km sem a chuva que nos castigou nos últimos dois dias e com alguns pontos em que as Autobahn tinham a velocidade liberada. Taca-lhe pau nesse carrinho! Confesso que a sensação é muito boa!
E mais uma vez, a etiqueta do motorista europeu chama a atenção. Não se dirige pela faixa da esquerda, exceto se estiver ultrapassando alguém. Mas no Brasil também não é assim? Bem… deveria ser. Já vi isso escrito em algum lugar. E se não houver ninguém a sua frente, vá para a pista mais à direita. A pista do meio não serve! Mesmo que esteja a 180 km/h e se não houver ninguém a sua frente, vá para a direita!
E eles não se preocupam em lhe dar o exemplo, logo após te ultrapassarem a mais de 200 km/h.
Finalmente Nurburgring e seus atrativos! E a famosa foto junto ao letreiro! E o Boulevard! E o kart!
Mais feliz que pinto no lixo…
O que mais pode ser feito por lá? Nos ofereceram o tour pelas instalações do autódromo. Claro que fomos! Para nossa surpresa e alegria, o tour nos levou a todos os cantos em que sequer imaginávamos ser possível, como simples mortais, vir a pisar algum dia. Desde o paddock, boxes, sala de imprensa e de entrevista com os vencedores, terraço e torre de controle da pista, pódio e a passarela sobre a pista. Uma hora e meia conhecendo as entranhas do circuito moderno. Somente eu, a D. Encrenca e a nossa guia! Excelente!
Box, a nossa guia e D. Encrenca. Passeio proveitoso! E o Porsche aguardando para a prova de veículos históricos que ocorreria no final de semana seguinte.
E a reta de largada, de ângulos diferentes
Matamos um pouco do tempo com o tour, almoçamos e seguimos para a entrada do Nordschleife. Aguardamos a confirmação de que o circuito estaria aberto aos turistas no final da tarde para que pudéssemos comprar o ingresso. Devidamente registrado em vídeo, finalizei a volta em 1 hora e 14 minutos. Tudo isso, Rubinho? Sim. Não tinha o propósito de conseguir um recorde ou de acelerar o quanto pudesse. Isso pode ser feito nas Autobahn, com muito menos risco de fazer uma cagad@! Queríamos mesmo conhecer o Green Hell. Ver os detalhes, as inclinações, as zebras, o Karussell (que eu faria na trajetória interna, como deve ser, e a qualquer custo!), a floresta que dá o apelido ao circuito, as épicas pichações na pista, os fotógrafos que ficam como abutres, esperando que alguém faça uma besteira para poder registrar a sua &%$*@ e publicar na internet.
Sempre respeitando as regras do circuito: faróis acesos, não andar a menos de 60 km/h, não atrapalhar os que estão correndo de verdade, não ultrapassar pela direita, etc. Por isso a seta ligada para a direita estava sempre ligada, indicando que eu estava devagar e que por lado eu esperava ser ultrapassado. Por vezes nos assustamos com o ronco dos outros motores passando, com o acelerador lá no porão (como diria Edgard de Mello Filho, do programa Fox Nitro), mesmo vendo pelos retrovisores que tais bólidos estavam se aproximando! E a galera não alivia. Se estiver devagar, problema o seu. Eles continuam de pé cravado. Ser ultrapassado nunca foi tão legal!
O Tipo pegando umas dicas, e o que andava por lá
Durante a volta, pude perceber a diferença de altitude (quase 200m) entre os extremos da pista, com subidas bem fortes (a subida após a curva conhecida por Exmühle é uma verdadeira ladeira!) e outras menos perceptíveis, a incrível aderência do asfalto, a falta de áreas de escape (que no passado acabou por inviabilizar a F1 no circuito). Junte a isso os insanos alemães acelerando seus Porsche, McLaren, Lamborghini, Mercedes e BMW preparados, passando ao seu lado com pé no fundo!
E o circuito não perdoa seus erros: quem vacila, acaba comprando um terreninho por lá. Antes de entrarmos no Nordschleife, vimos um Porsche que excedeu os limites e foi rebocado…
E foi nesse momento que o anjinho da guarda bateu no meu ombro e disse: “tá vendo, malandro?”. Em bom latim: “Bobeatus sunt, enrabadus est” (usem a imaginação para traduzir).
E tudo isso foi feito com o carro que eu estava viajando: o bendito Fiat Tipo SW Diesel, que não é nenhuma referência de esportividade. Mas foi o suficiente. No ato do aluguel do carro, você se compromete a não utilizá-lo em circuitos ou em qualquer tipo de disputa automobilística. E eu acabei passeando pelo circuito com ele…
Some todos esses fatores e saberão o real motivo de não ter acelerado como o circuito pede e merece. Neste caso, foi o fator juízo superando a emoção (lembra do anjinho da guarda?). Isso para não dizer que a D. Encrenca iria pirar dentro do carro.
Dica 6: Se puderem, não dirijam no circuito o carro que alugaram para viajar. Talvez esse tenha sido um risco desnecessário que corri. E lembrem-se que eu fiz o seguro “não obrigatório” do carro. Se couber no seu orçamento (e não é nada barato), faça a reserva de um carro devidamente preparado em uma das várias locadoras especializadas que tem na região e se delicie com tudo aquilo que o circuito pode lhe oferecer.
Cabe aqui destacar que todo o passeio por Nurburg e suas atrações foi muito facilitado em função da série de vídeos e matérias publicadas no FlatOut pelo Juliano Barata, depois de sua épica incursão no circuito. Se não fosse pela grande quantidade (e qualidade) das informações disponibilizadas, a nossa vida no circuito e redondezas seria bem mais difícil. Valeu, Juliano!
O começo da volta
Finalizada essa etapa, começamos o retorno para a Itália. Longos trajetos, com paradas previstas em algumas cidades na Alemanha, para conhecermos e descansar. Mais castelos e bons restaurantes. Todas aquelas estradas maravilhosas e sem pedágio na Alemanha e Áustria.
Com destino a Pádua/Veneza, ao retornar para terra da pizza, surgem, mais uma vez, os pedágios (mais caros que no Brasil). Ao entrar na autoestrada, retira-se um ticket na cabine e ao sair, entrega-se o bilhete na cabine e o sistema cobra pelo trecho percorrido. Apesar de caro, é justo e vale a pena.
E o bendito GPS
Como os preços de hotel em Veneza são bem elevados, ficamos hospedados em Pádua, cerca de 40 km de lá. E foi então que aprendi que o GPS pode te colocar em uma roubada.
Para chegarmos a Pádua, havíamos inserido o endereço do hotel no Google Maps, porém sem o “CEP”. O bendito GPS nos encaminhou para uma rua sem saída, em uma cidadezinha vizinha, porém dentro da região de Pádua. Imagine só, depois do dia todo na estrada, ouvir aquela voz sexy: “chegou ao seu destino” e não encontrar o hotel lá! Dá um certo desespero. Tive que ligar para o hotel para confirmar o endereço e o atendente, já acostumado com a confusão, nos orientou a inserir o CEP no GPS. Só então que, depois de 15 minutos, conseguimos chegar ao local correto.
Em Veneza descobrimos que é possível estacionar na entrada da cidade por um preço razoável: € 18,00 pelo dia todo, e então pegar o vaporeto (os barcos que circulam por lá) para conhecer a parte turística da ilha. Lembra-se dos pés que se acabaram depois de tanto andar em Roma e Florença? Aqui eles foram torturados mais um pouquinho…
Dica 7: Anote todos os endereços completos e os telefones de contato. Isso pode lhe tirar de apuros.
De Pádua seguimos até Pisa, a terra da torre inclinada (e põe inclinada nisso!). Mais 300 km de boas estradas (e € 24,00 de pedágio) passando pelas terras em que os brasileiros lutaram na 2a Guerra Mundial. Mais uma vez o relevo e as paisagens mudam, mostrando uma parte bem diferente da Itália – a Bologna. Depois de conhecermos a parte turística, fomos para o hotel e descansamos. Estávamos no final da nossa viagem. Só faltava seguir para Roma, devolvermos o carro no aeroporto e assim, voltar para casa.
E fim
O caminho para Roma foi feito seguindo a costa do mar Tirreno para que pudéssemos ver as praias de lá. Não chegam aos pés das nossas!
Carro abastecido, ducha e aspiração no interior do carro (que é fornecido sem os tapetes de borracha). Estávamos no caminho quando (surpresa!) vimos, pela primeira vez, a polícia na estrada. Foram mais de 3.600 km percorridos e, somente uma única vez, a polícia se fez presente nas estradas. Também não vimos nenhum acidente nas estradas.
No aeroporto foi difícil encontrar o estacionamento onde devolveríamos o carro (e a resposta é não. O CEP no GPS não adiantou em nada nesse caso). Apesar de toda a sinalização, ainda é enrolado. Mas a devolução foi bem tranquila. E lá, vimos que vale a pena pagar pelo seguro opcional. Estava sendo devolvido um Nissan JUKE com a pintura toda arranhada. Alguém resolveu deixar um recado para o motorista, escrevendo arranhando nas portas do lado do motorista.
No final das contas, foram mais de 3.600 km rodados, mais de 2.000 fotos, 100 km percorridos a pé (e várias bolhas d’água), 6 km de barco e o mais importante de tudo – ótimas lembranças e sorrisos.
E o mais importante: a D. Encrenca, a quem tenho que agradecer por proporcionar e dividir esses momentos comigo. Sei que não foi fácil.