Ainda no clima do aniversário de 40 anos do BMW Série 3, dá para dizer que o mais ilustre representante da linhagem é o primeiro M3, lançado na geração E30 para homologar um carro de corrida da DTM. Seu motor só tinha quatro cilindros — o que hoje em dia é exceção entre os BMW —, mas os 2,3 litros e 200 cv faziam bonito em uma carroceria leve e elegante com tração traseira. Contudo, há quem ainda ache que um bom BMW tem pelo menos seis cilindros. E que tal dez?
É exatamente o caso de um dos motores mais incríveis já feitos pelos bávaros: o V10 S85 da geração passada do BMW M5, um monstro de cinco litros, comando duplo nos cabeçotes com sistema variável VANOS na admissão e no escape, taxa de compressão de 12:1 e capacidade para girar acima de 8.000 rpm. Usado no M5 sedã e Touring (e também no BMW M6), o S85 entrega, originalmente, 507 cv a 7.750 rpm e 53 mkgf de torque a 6.100 rpm, suficientes para levar o M5 aos 100 km/h na casa dos quatro segundos baixos, com velocidade máxima de 330 km/h (limitada eletronicamente a 250 km/h).
De que ele seria capaz, então, em um carro leve e old school como o M3 E30? Esse cara resolveu descobrir, colocando um V10 de M5 preparado no cofre de um M3 E30 1989 em um projeto que, pelo jeito, tinha orçamento ilimitado. Porque o capricho e o alto nível dos componentes e da mão de obra te fazem questionar até mesmo a sanidade do sujeito que levou tudo isso a cabo. Por outro lado, o resultado matador é o exemplo perfeito da máxima (devidamente adaptada aqui) “os fins justificam os gastos”. Um motor como este não sai por menos de US$ 40 mil (R$ 120 mil em conversão direta).
Se você pensa que o projeto começou com um M3 E30 velho e um M5 E60 batido, saiba que quase acertou: M3 velho? Confere — mas o motor veio de uma empresa especializada em tornar motores de alto deslocamento e desempenho mais potentes e ainda mais impressionantes. Vendido novo, na caixa, o V10 foi fornecido pela Dinan Cars tem o deslocamento ampliado para 5,7 litros e a potência salta de 500 para 636 cv.
Além de ter o curso dos pistões e o diâmetro dos cilindros ampliados, o V10 de 5,7 litros da Dinan recebe componentes reforçados e novas camisas de liga especial nos cilindros que, de acordo com a companhia, produzem menos fricção e reduzem o desgaste dos componentes. O maior deslocamento reduz um pouco o regime de trabalho, e o motor gira a até 8.100 rpm. Com sistema de escape feito sob medida, o ronco é alto e estridente, chegando a lembrar um motor de Fórmula 1. Os bons tempos da BMW Sauber…
Para acomodar o novo coração, o M3 foi totalmente desmontado e toda a estrutura monobloco foi retrabalhada. A parede corta-fogo e o túnel de transmissão foram removidos e todo o conjunto mecânico do M5 — motor, transmissão manual de seis marchas, cardã e diferencial — foram montados na medida exata para caber na carroceria do E30, que recebeu até o subchassi dianteiro do E60. Também foram fabricadas novos para-lamas alargados e novas caixas de roda na dianteira e na traseira para acomodar a suspensão (McPherson na dianteira, multilink na traseira) e o diferencial do M5.
Com o conjunto mecânico no lugar, uma nova parede-corta fogo e um novo túnel de transmissão foram construídos em volta do motor e do câmbio, de forma a preservar ao máximo as proporções originais.
Isto foi necessário porque o dono do carro queria manter o aspecto do interior tão original quanto fosse possível, o que exigiu que a gaiola de proteção fosse integrada ao monobloco. A estrutura tubular fica quase totalmente escondida e inclui reforços no cofre do motor. As únicas partes visíveis são as barras em “X” na traseira.
Por outro lado, ao olhar para o cluster de instrumentos, o que se vê é uma tela digital no lugar dos relógios analógicos. A peça mostra todas as informações a respeito do funcionamento do motor, e faz parte do sistema elétrico da Apex Speed Technology.
A empresa californiana instalou um módulo de controle Pectel SQ6M12, calibrado para adequar todas as funções eletrônicas do M5 — sistema de injeção com corpos de borboleta individuais, controle de tração ajustável, freios ABS e comando variável — ao novo carro.
Olhando por fora as modificação mais evidente são a altura da suspensão e a asa traseira de fibra de carbono. Todo o resto leva a crer que se trata de um M5 prata bem conservado e não dá pista de que o carro, que está anunciado no eBay, custe inacreditáveis US$ 224.500, ou cerca de R$ 670 mil em conversão direta. Para se ter uma ideia, é quase o triplo do que se costuma pedir por um M5 E60 bem conservado — cerca de R$ 90 mil, ou R$ 260 mil. Não é a primeira vez que vemos um E30 com o V10 do M5, mas temos certeza de que este aqui é ainda mais impressionante.