O Chevrolet Monza foi lançado em 1982 e, portanto, completa 35 anos em 2017. Trata-se de um carro importantíssimo na história da indústria automotiva brasileira. Mais do que um grande sucesso por quase 15 anos, ele foi o carro mais vendido do Brasil entre 1984 e 1986 – um feito e tanto para um carro não-popular no Brasil, e um atestado de sua aceitação pelo público.
Nada mais justo, então, que contarmos um pouco de sua história. Mais ainda porque o nosso Monzão fazia parte de um programa global, uma plataforma dividida entre todas as submarcas da General Motors – a plataforma J. E foi o produto mais bem sucedido a utilizá-la. Mas a gente vai começar do começo.
O Monza original
Esta é uma história um pouquinho complicada, mas dá para entender. Na década de 1970, quase todas as divisões da GM tinham modelos médios diferentes (ainda que todos tivessem tração traseira): nos EUA, havia o Chevrolet Monza, que era vendido também como Buick Skyhawk e Pontiac Sunbird:
Buick Skyhawk
Pontiac Sunbird
Na Europa, havia o Opel Ascona, que no Reino Unido era vendido como Vauxhall Cavalier:
Opel Ascona
Vauhall Cavalier
Os australianos, por sua vez, tinham o Holden Torana:
O fim da década de 1970 trouxe uma mudança importante na indústria automotiva mundial, movida pelo sucesso dos carros compactos de tração dianteira vindos da Europa. Eles eram mais leves, mais fáceis de dirigir, custavam pouco e bebiam menos combustível. Foi questão de tempo, então, até que a tração traseira deixasse de ser o standard da indústria e passasse a ser mais utilizada por modelos esportivos.
A criação de uma nova plataforma de tração dianteira a ser usada por todas as marcas do grupo seria uma forma de modernizar a linha da General Motors e cortar custos de desenvolvimento e produção, com soluções de engenharia e componentes compartilhados entre todos os modelos, em maior ou menor grau.
O resultado prático foi que todos aqueles modelos diferentes foram unificados sob uma mesma plataforma, embora alguns conservassem seus nomes antigos. E todos tinham identidades visuais distintas, embora compartilhassem diversos componentes mecânicos, estruturais e cosméticos.
O nosso Monza (e seu parente mais próximo)
Você conhece bem a cara do nosso Monza, não é? Diferentemente do sensual cupê americano, o Monza brasileiro era praticamente um Opel Ascona com a gravatinha da Chevrolet. Talvez seja bairrismo, mas a gente acha que o visual do Monza/Ascona era o mais bem resolvido entre os J-cars (como ficaram conhecidos os carros da plataforma J), com proporções muito agradáveis e estilo limpo.
Agora, se você der uma olhada nos outros modelos que a Opel vendia na época, vai entender de onde veio o estilo do Monza. Este aqui é o Opel Kadett de quarta geração – o que veio antes do nosso Kadett e depois do carro que deu origem ao nosso Chevette:
O Opel Rekord de última geração, lançado em 1977 e fabricado até 1986, era praticamente um Monza crescido (e com tração traseira). Em 1986, o Rekord foi substituído pelo Omega de primeira geração. Se liga:
E, por fim, havia o Opel Monza, que usava a mesma plataforma do Rekord, porém era feito apenas como hatchback de duas portas. Ele era completamente diferente do Chevrolet Monza dos anos 1970 e estava uma categoria acima do Opel Ascona.
E dá para dizer que o Opel Monza, de certa forma, foi a maior inspiração para o Monza hatchback, que era o único disponível no lançamento. Isto porque o Opel Ascona hatchback só era vendido com quatro portas, e não tinha um perfil tão arrojado:
Observação importante: no Reino Unido, o Opel Ascona era vendido como Vauxhall Cavalier – que era idêntico, com a óbvia exceção do volante do lado direito.
Nos EUA: Chevrolet, Pontiac, Buick e Oldsmobile
Provavelmente os americanos não gostavam muito do visual limpo dos europeus, e por isso os J-Cars dos Estados Unidos tinham um visual mais carregado. E, diferentemente do que ocorreu na Europa, cada fabricante adotou sua própria identidade visual. São as laterais que denunciam a origem comum, especialmente por causa do formato das portas e janelas.
O Pontiac era o J2000, que depois mudou de nome para 2000 e, por fim, para Sunbird. Dá para ver a influência de outros modelos da marca na dianteira do J2000, como o Firebird de primeira geração. Lançado em 1982, o J2000 foi totalmente renovado em 1988, ganhando um aspecto mais limpo que durou até 1994.
Na década de 1980, a Envemo criou um bodykit que dava ao Monza o visual do Pontiac J2000. E não ficava tão ruim!
Em 1995, o Sunbird foi substituído pelo Sunfire. Apesar da carroceria com linhas arredondadas, típicas da década de 1990, a plataforma era exatamente a mesma. Ele saiu de linha em 2005.
Já a versão da Buick, lançada em 1981, conservou o nome Skyhawk, e tinha como diferencial os faróis escamoteáveis em algumas versões. Ele foi fabricado até 1989, e usava o mesmo motor 1.8 do Monza brasileiro.
O Oldsmobile se chamava Firenza, e foi fabricado entre 1982 e 1988. Dá para dizer que seu visual era o mais conservador entre todos os J-Cars americanos, e ele também foi um dos que tiveram a vida mais curta.
O Cadillac Cimarron já teve sua história contada aqui no FlatOut. Ele foi a tentativa de transformar o J-Car em um carro de luxo, de acordo com o posicionamento da Cadillac no mercado americano, mas a plataforma não confortava o nível de luxo, equipamentos e isolamento acústico a que os consumidores da marca estavam acostumados. Ele também foi produzido apenas entre 1982 e 1988.
O Chevrolet Cavalier, por outro lado, foi o modelo mais longevo: foi produzido entre 1992 e 2005, com três gerações diferentes.
A última delas, apresentada em 1995, tinha visual inspirado pelo Chevrolet Camaro de quarta geração:
Mais uma curiosidade? Lá vai: o Chevrolet Cavalier foi vendido como Toyota Cavalier no Japão e nos EUA entre 1995 e 2000, mas não fez muito sucesso.
Do outro lado do mundo: Holden, Daewoo e Isuzu
A australiana Holden criou um estilo próprio para seu J-Car. O Holden Camira foi produzido até 1989, e tinha uma versão station wagon que serviu como base para a perua do Opel Ascona e do Vauxhall Cavalier. O Monza perua chegou a ser testado no Brasil, mas acabou não sendo produzido.
A coreana Daewoo, hoje GM Korea, já era uma subsidiária da General Motors na época e, em 1990, contratou o estúdio Bertone para projetar a carroceria do sedã Espero, sua interpretação da plataforma J. O visual é, sem dúvida, um dos mais interessantes da família. Ele foi vendido no Brasil na década de 1990, logo que as importações foram reabertas.
No Japão, havia o Isuzu Aska, que era bem parecido com o Chevrolet Cavalier, e foi o único a ser oferecido exclusivamente como sedã de quatro portas. Curiosamente, ele foi vendido na Nova Zelândia como Holden Camira. A primeira geração saiu de linha em 1990, e o modelo seguinte abandonou a plataforma J.