Nesta eterna ânsia de ter o que não podemos, nós somos verdadeiramente fãs de carros que jamais foram vendidos no Brasil. Como os especiais de homologação para carros que disputaram o WRC, maior categoria do rali mundial. Sendo fãs de rali (a ponto de fazermos uma série especial com todos os carros que venceram o WRC, e até alguns que não venceram), temos uma mágoa especial por não podermos dirigir suas versões de rua por aqui.
Por sorte, há a internet, e vídeos como este: uma batalha de igual para igual entre o Lancia Delta Integrale, o Ford Escort RS Cosworth e o Toyota Celica GT-Four.
Davide Cironi é o responsável por isso — o mesmo cara que, há algumas semanas, nos levou para um passeio em uma Ferrari 512BBi preta impecável. Morando na Itália e com os contatos certos, Cironi tem acesso a verdadeiras lendas da indústria automotiva e produz vídeos longos e detalhados com suas impressões ao volante. Este tem pouco mais de 15 minutos.
Ele consegue, e muito bem, te fazer compreender como é a experiência de guiar alguns dos carros mais icônicos e adorados já produzidos. E, certamente, o Delta, o Escort e o Celica — todos feitos para homologar carros de rali vencedores — estão bem alto nesta categoria.
Agora, chega de enrolação: recoste-se na cadeira e aperte o play!
As legendas em inglês podem ser traduzidas automaticamente
Os carros foram avaliados em sequência: primeiro o Celica, depois o Escort e, por fim, o Delta. O carro japonês é um exemplar da série ST205, baseada no Celica de sexta geração. Equipado com um quatro-cilindros turbo chamado 3S-GTE, o GT-Four ST205 foi produzido entre 1994 e 1999, e o mais potente Celica fabricado até então: tinha 255 cv a 6.000 rpm e 31 mkgf de torque a 4.000 rpm. O câmbio era manual, de cinco marchas.
Foto: Davide Cironi
Cironi elogia a direção do Celica, que é a mais pesada dos três. O sistema de tração integral garante estabilidade nas curvas, ainda que com um pouco de subesterço nas entradas de curva (ainda que Cironi atribua esta característica a possíveis pneus ruins). Dá para dizer que, apesar de ser o mais potente do trio, o GT-Four é o mais equilibrado quando levado ao limite e, visualmente, o que menos grita “sou um carro de rali!” — talvez por ser o mais moderno, com linhas arredondadas e rodas grandes que, com o passar dos anos, se tornaram comuns até em carros que não são esportivos.
Em contraste, o Escort RS Cosworth te faz se sentir, o tempo todo, em um estágio de rali. Não apenas pelo visual icônico, mas pela precisão da direção que, apesar de mais leve que a do Celica, é também a mais precisa; e pelo equilíbrio dinâmico: não há qualquer resquício de subesterço (algo típico dos carros de tração integral), e a suspensão é firme como a do carro de rali.
Foto: Davide Cironi
Sem falar no motor, claro. O brilhante quatro-cilindros turbo de dois litros YBT, equipado com um turbocompressor Garrett T3/T04B que, operando a 0,8 bar, levava a potência a 220 cv a 6.250 rpm com torque de 29,6 mkgf a 3.500 rpm. Por outro lado, os engates do câmbio poderiam ser mais precisos. Davide diz que, neste quesito, o Cossie é o pior dos três carros.
E então chega a vez do Delta. O italiano tem o projeto mais antigo dos três, afinal, o primeiro Delta foi lançado em 1979 — a longevidade é característica dos carros da península, se pensarmos bem. Não são apenas as linhas quadradas desenhadas por Giorgetto Giugiaro que deixam isto claro (até porque elas envelheceram muito bem), mas toda a experiência de guiar o Integrale: a direção é mais comunicativa, o ronco do motor (um 2.0 turbo de 215 cv e 32 mkgf) é mais audível, o para-brisas fica mais próximo do rosto e a suspensão, mais firme.
Foto: Davide Cironi
Talvez seja o sangue italiano falando, pois as impressões de Davide quanto ao Delta são muito mais emocionais do que com os outros carros. O motor é o menos potente mas, segundo ele, é simplesmente o melhor. Cironi também diz que é o carro mais difícil de domar, tão cheio de macetes que cada volta se parece com a primeira. Ele admite que o Delta é o mais lento dos três, mas que também é o mais divertido.
Mas qual dos três ele compraria? Para Cironi, o Escort é o que mais se aproxima de um carro de rali em termos de dinâmica, potência e visual. O Celica é o mais veloz, mas o acerto geral do carro o torna mais dócil (o que não quer dizer “sem graça”). Contudo, o Delta é o que mais agrada aos sentidos. Por isso, em vez de dar um veredito, ele simplesmente diz que não consegue decidir — limitando-se a dizer que ficaria com o Escort caso ele transmitisse a mesma emoção do Delta. Coisa de italiano, mesmo.
Foto: Davide Cironi
E você: com qual dos três ficaria?