Uma das notícias mais quentes do dia veio da Mercedes-AMG. A divisão esportiva da estrela de três pontas decidiu revelar a potência dos novos A45 e CLA45, a serem revelados muito em breve: 387 cv na versão “normal”, e 421 cv na versão S. Sim, mais de 400 cv em um motor 2.0 turbo, de quatro cilindros. Estamos mesmo vivendo no futuro, não é?
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A Mercedes-AMG está bem orgulhosa do novo motor. E deveria estar, mesmo: a usina de força é completamente nova – a fabricante diz que só compartilha “algumas porcas e a parafusos” com o motor da geração passada – e tem potência específica de quase 211 cv por litro. Como todo motor AMG, ele será construído artesanalmente na fábrica da AMG em Affalterbach, seguindo a filosofia one man, one engine da empresa (ou seja, cada motor será feito individualmente por um único funcionário).
Na verdade, a Mercedes-AMG ficou tão empolgada que anunciou o novo motor 2.0 turbo de até 421 cv como “o mais potente quatro-cilindros produzido em série”. Acontece que, tecnicamente, não é bem assim: há exatos cinco anos, outra fabricante desenvolveu e produziu em série (limitada, é verdade), um 2.0 turbo de nada menos que 446 cv – 223 cv por litro!
Esta fabricante foi a Mitsubishi, e o carro em questão era o Lancer Evolution FQ-440 MR – edição especial desenvolvida pela divisão Ralliart, e lançada para comemorar os 40 anos da Mitsubishi no Reino Unido. Quem acompanhou a série Rest in Power certamente vai lembrar da menção que fizemos ao FQ-440 MR no post dedicado ao Evo X. Agora é hora de falar um pouco mais a seu respeito.
F*cking Quick
O Mitsubishi Lancer Evolution FQ-440 MR foi o último representante da linhagem MR, introduzida em 2002 com o Evo VII FQ-300. O número fazia referência à potência em hp, equivalente a 305 cv no motor 4G63. Já o FQ queria dizer simplesmente Fucking Quick, ou “Rápido pra C*ralho” em bom português. Nem a Mitsubishi e nem a Ralliart chegaram a confirmar o significado da sigla, mas os entusiastas da marca acreditam que é isto mesmo. E o FQ-300 era rápido mesmo, para a época: cumpria o zero a 100 km/h em 5,1 segundos, e chegava aos 252 km/h.
Todas as versões FQ do Evo foram desenvolvidas no Reino Unido pela Ralliart Europe. A divisão de rali da Mit foi a responsável pela maior parte de suas incursões no WRC desde que foi fundada, em 1983, pelo piloto e engenheiro escocês Andrew Cowen – este, responsável pela primeira vitória da Mitsubishi em um rali fora do Japão, o Southern Cross Rally, em 1972.
Depois do Evo VII FQ-300, as gerações seguintes do sedã esportivo também ganharam versões Fucking Quick – várias delas, na verdade, sempre batizadas de acordo com a potência em hp. Foi assim com o Evo VIII (FQ-260, a FQ-300, FQ-320, FQ-340 e FQ-400); com o Evo IX (FQ-300, FQ-320, FQ-340 e FQ-360); e, claro, com o Evo X (FQ-300, FQ-330, FQ-360, FQ-400 e FQ-440). Na prática, a Mitsubishi passou mais de uma década se dedicando a extrair quantidades enormes de potência de seus motores 2.0 turbo.
Mas vamos falar do FQ-440, afinal. Ou melhor, chamando-o por seu nome completo, do Mitsubishi Lancer Evolution X FQ-440 MR.
O último grande Evo?
O ponto de partida era o FQ-400, lançado em 2009 com motor de 410 cv e 55,2 mkgf, câmbio manual de cinco marchas, pinças de freio de seis pistões, roda de 18 polegadas com pneus Toyo Proxes R1R e um novo kit aerodinâmico com dutos de arrefecimento adicionais, e tomada de ar maior no capô.
Com 115 cv a mais que o Evo X normal (que, na época, vinha com 295 cv), o FQ-400 tinha desempenho absurdo para um esportivo feito com base em um sedã de família: zero a 100 km/h em 3,8 segundos e máxima limitada eletronicamente a 250 km/h.
A receita era relativamente simples: pegar o motor 4B11T e dar a ele um jogo de injetores mais parrudos, um novo turbocompressor, mais resistente e capaz de girar mais rápido, um intercooler redimensionado e uma reprogramação na ECU para aproveitar tudo ao máximo. E o conjunto era robusto o bastante para que o carro ainda fosse coberto pela garantia de três anos ou 60.000 km que a Mit oferecia na época.
A versão FQ-440 MR veio cinco anos depois – como já dito, em comemoração aos 40 anos da Mitsubishi UK, celebrados em 2014. De certa forma, ele era uma “série especial da série especial”, sendo baseado no FQ-400, porém com novas modificações.
Com um turbocompressor HKS, sistema de escape Janspeed com catalisador de alto fluxo, coletores de admissão e escape Janspeed, um intercooler ainda mais eficaz, injetores iguais aos usados pelos Evo de competição e uma nova ECU, o 4B11T do Evo X FQ-440 chegava aos 446 cv a 6.800 rpm e 57 kgfm de torque a 3.100 rpm.
Assim como o FQ-400, o FQ-440 tinha outras modificações além do aumento de potência: freios Alcon na dianteira e na traseira; amortecedores retrabalhados e molas Eibach à frente e atrás, reduzindo a altura da suspensão em 35 mm e 30 mm, respectivamente; e detalhes estéticos como rodas BBS forjadas de 18 polegadas, faróis de xenônio com ajuste automático, geradores de vórtice na traseira e um capô de fibra de carbono mais leve, com respiros adicionais.
Por dentro, o FQ-440 vinha com partida keyless, bancos Recaro revestidos com couro e microfibra, som Rockford Fosgate com oito alto-falantes e subwoofer, e uma central multimídia com navegador por GPS, conexão Bluetooth e tela sensível ao toque de 7 polegadas. Todos os carros foram feitos com câmbio de dupla embreagem e seis marchas.
Disponível apenas na cor branco Frost White, o Evo X FQ-440 MR custava £ 50.000 – o equivalente a R$ 246.000 em conversão direta.
Mesmo com apenas 40 unidades fabricadas, o Evo FQ-440 pode ser considerado, sim, um modelo produzido em série – afinal, se a FIA estabelece que, para a homologação em provas de turismo, um carro precisa ter pelo menos 25 exemplares fabricados para ser considerado um modelo produzido em série, quem somos nós para discordar?
O FQ-440 certamente foi um ponto alto na carreira do Lancer Evolution, não apenas na décima geração, mas em toda a sua história – e falar dele significa, automaticamente, lembrar que a Mitsubishi decidiu não fabricar novos modelos esportivos daqui para a frente.
Por outro lado, a Mercedes-AMG segue firme e forte – eles podem não ter criado, tecnicamente, o 2.0 turbo produzido em série mais potente da história, mas o futuro A45/CLA45 ainda terá o 2.0 turbo mais potente da era contemporânea, e o mais potente fabricado em grande volume – o que não deixa de ser um mérito, especialmente nestes tempos de restrições de emissões e consumo de combustível.
Além disso, os alemães ao menos estão mantendo a chama acesa. Já a Mitsubishi…