O nome de Carroll Shelby é irremediavelmente associado à Ford. E não é para menos: quando deixou de pilotar para se tornar preparador, Shelby envolveu-se de imediato à marca do Oval Azul. Foi dele a ideia de colocar um V8 Ford no AC Ace, criando o incrível Shelby Cobra. Foi ele que a Ford chamou para transformar o Mustang em um esportivo respeitável, dando origem ao GT350 e ao GT500. E foi ele quem ajudou a fabricante a, finalmente, superar a Ferrari nas 24 Horas de Le Mans por quatro anos consecutivos. Tudo isto em um espaço de apenas oito anos, entre 1962 e 1969.
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Shelby manteve sua primeira colaboração com a Ford até 1969 – ele decidiu encerrá-la em setembro daquele ano pois estava insatisfeito com as intrusões da fabricante em seus projetos. Tanto que os Shelby GT350 e GT500 vendidos como modelo 1970 eram, na verdade, carros que haviam sobrado de 1969 e foram remarcados.
A Shelby voltaria a colaborar oficialmente com a Ford em 2005, usando a então recém-lançada quinta geração do Mustang como base para seus projetos – o que eventualmente trouxe de volta o GT350 e o GT500. Nas mais de três décadas que se seguiram, porém, Carroll Shelby trabalhou com outra fabricante: a Dodge. A parceria começou nos anos 1980, a convite do próprio Lee Iacocca (então CEO da Chrysler), e rendeu alguns frutos curiosos – como o Shelby Charger, uma tentativa honesta de transformar um Charger de tração dianteira em algo desejável; e o Shelby GLHS, versão esportiva do Dodge Omni criada em resposta ao Golf GTI.
O Charger e o GLHS não estão entre os mais conhecidos de Shelby, mas ainda assim são mais famosos que o Dodge Viper que Carroll Shelby preparou – e, na verdade, foi o último Dodge feito com a supervisão pessoal do texano. É o Viper CS, que teve 50 unidades planejadas, mas acabou com apenas 19.
O envolvimento de Shelby com o Dodge Viper já era no mínimo simbólico – isto porque, quando concebeu o Viper, a Dodge teve o próprio Cobra como inspiração, no sentido de que ambos eram carros esportivos relativamente leves com motores enormes na dianteira, tração traseira e nenhum tipo de assistência eletrônica.
O Dodge Viper CS foi desenvolvido em parceria com Dan Fitzgerald, amigo de Carroll Shelby havia mais de 35 anos e fundador da Fitzgerald Motorsports – que existe até hoje como preparadora e equipe de arrancada.
As modificações eram, em sua maioria, estéticas. O Viper ganhava um novo para-choque dianteiro, com uma abertura maior, inspirado no Shelby Cobra; novas saias laterais; um spoiler traseiro que acompanhava o contorno da tampa do porta-malas; rodas do tipo 3-piece com desenho exclusivo e diversos emblemas espalhados pelo carro. O interior recebia bancos de couro com o emblema “CS” bordado no encosto, cintos de quatro pontos Schroth e, de forma curiosamente específica, um novo sistema de alarme. Os carros também vinham com o autógrafo de Carroll Shelby na tampa do porta-luvas, nas saias laterais ou no para-lama dianteiro. O roadster RT/10 também ganhava um novo teto removível feito de fibra de carbono, algo que ainda era bem incomum.
Havia, ainda, modificações simples na mecânica – a relação final do diferencial mudava de 3:1 para 3,75:1, a fim de melhorar a aceleração; o sistema de escape era trocado por outro menos restritivo; e a central do motor V10 de oito litros era reprogramada. O resultado era um aumento de 456 cv para 491 cv.,
A princípio, a ideia era fazer 25 exemplares do Viper RT/10 CS, com carroceria conversível, e mais 25 exemplares do cupê Viper GTS CS. Shelby e Fitzgerald começaram com os conversíveis. A maioria deles tinhaa clássica combinação de pintura branca “Wimbledon White” e faixas azuis “Guardsman Blue” – exatamente as mesmas do primeiro Shelby GT350 – mas um deles tinha as cores invertidas (azul com listras brancas) e outro foi pintado de preto com detalhes dourados.
Acontece que, na época, a saúde de Carroll Shelby já não estava muito boa. Anos antes, em 1990, Shelby havia recebido um transplante de coração – dessa vez, porém, eram problemas renais que o afligiam. Ainda naquele ano ele recebeu um transplante de rim, mas as partes concordaram que o melhor seria cancelar o projeto.
Só houve tempo de concluir 18 dos roadsters RT/10, mais um cupê GTS – 19 carros no total, menos da metade dos 50 planejados. O GTS foi pintado de vermelho com detalhes dourados e recebeu um jogo de rodas diferente mas, fora isto, recebeu exatamente o mesmo tratamento dos conversíveis.
Desde que ficou pronto, o carro teve apenas um dono – que nunca foi revelado. Agora, porém, a Mecum Auctions anunciou que ele será leiloado no próximo mês de janeiro durante um evento em Kissimee, na Flórida. A agência espera arrecadar ao menos US$ 200.000 pelo carro, o que dá por volta de R$ 1 milhão na cotação atual.