Não, não estamos falando de um cara que fez uma réplica do 918 Spyder usando papel, arame e suas próprias mãos (mas sabemos que isto seria incrível). Estamos falando da linha de montagem do hipercarro na cidade de Zuffenhausen — que você vai visitar nos próximos dez minutos. Pela internet. Não é maravilhoso viver no futuro?
Temos hoje três hipercarros absurdamente rápidos e avançados que deverão continuar sendo referência em desempenho por alguns anos, ainda: LaFerrari, McLaren P1 e Porsche 918 Spyder. Destes, o 918 Spyder nos parece ser o mais “civilizado” — talvez por seu visual, que à primeira vista é o menos radical de todos, talvez pelo fato de ter tração integral enquanto os outros dois têm a força nas rodas traseiras, ou talvez por ser o menos potente dos três.
É claro que é só impressão, afinal não andamos nele (ainda). E quando falamos que o 918 Spyder é o menos potente dos três, ainda estamos falando de um carro com um V8 de 4,6 litros e 615 cv, mais dois motores elétricos (um em cada eixo) que, ao todo, elevam a potência para 887 cv a 8.500 rpm. Além disso, há o torque de 130 mkgf (contra 91,8 mkgf do P1 e 98,8 mkgf da LaFerrari) e o 0 a 100 km/h em 2,5 segundos. A tração integral garante estabilidade a toda prova e comportamento dinâmico extremamente equilibrado, como já vimos neste comparativo com o McLaren P1.
Mas como ele é feito? Se você acha que o 918 Spyder divide a linha de produção com o 911, está enganado: o hipercarro tem uma unidade inteira dedicada à sua fabricação, que é quase totalmente artesanal e envolve dezenas de pessoas — alguns dos melhores mecânicos, engenheiros e especialistas em estofamento e acabamento do mundo. E você pode conferir, do início ao fim, todo o processo de fabricação do Porsche 918 nº 904 — das 918 unidades que saíram de Zuffenhausen desde setembro de 2013. É mágico:
O mais legal é que não há música, narração ou qualquer tipo de distração — apenas a música mecânica de parafusos sendo apertados, couro sendo aplicado a revestimentos de porta e outros detalhes internos e periféricos sendo acoplados ao motor.O local onde o Porsche 918 Spyder costumava ser o local onde todos os Porsche eram pintados até que, em julho de 2013, a nova oficina de pintura em Leipzig ficou pronta e o complexo pode ser reaproveitado depois de receber nova iluminação e isolamento acústico reforçado. Diferentemente de uma linha de montagem convencional, com robôs, onde os carros ficam em média quatro minutos em cada estação de trabalho, cada etapa da fabricação de um 918 dura, em média, 111 minutos ou quase duas horas. No total são 15 estações de trabalho e 1.655 minutos — quase 28 horas de trabalho.
Este tempo todo é necessário para evitar qualquer falha: o funcionário pode realizar sua tarefa com calma e capricho, sem atropelos, e testes de qualidade são realizados a todo momento, como a inspeção a laser nos vãos entre os painéis da carroceria, por exemplo.
Se todo carro passa por uma equipe completa de empregados para tomar forma, com o motor a situação é diferente: a Porsche aplica um modelo de produção que outras empresas também adotam em seus carros mais caros, como a Mercedes-Benz AMG: cada motor é montado, do início ao fim, por um único funcionário — “one man, one engine“. Isto é feito para assegurar que cada motor seja montado da forma mais precisa possível.
Um detalhe: diferentemente da AMG, a Porsche não coloca em cada motor uma plaqueta com o nome do engenheiro responsável por sua montagem. A razão disso é evitar que o dono culpe o engenheiro por algum eventual problema mecânico ou, no caso dos carros importados para o Oriente Médio, que o novo dono rejeite o motor por ter sido montado por uma mulher — sim, é absurdo, mas este preconceito ainda existe por lá.
Agora, você deve estar pensando se o mesmo tipo de atenção sendo dada ao seu carro quando ele foi fabricado… bem, a resposta provável é não: a linha de montagem é exclusiva do 918 e nem o melhor dos 911 recebe este tratamento individual (ao menos não mais). Agora, se você tem um dos três 918 Spyder que foram vendidos no Brasil, pode se orgulhar — e nos chamar para dar uma volta!