Este relato foi escrito por Gustavo Loeffler, dono dos Project Cars Mothafocus, Escort XRS 1600 Ti e do Passat Pointer. Este último também estrelou um episódio do FlatOut Midnight. Como vocês verão, a fruta não cai longe da árvore: a influência está no sangue – e ele é de alta octanagem!
A vida começa aos 70
Essa história começa alguns anos atrás. Minha mãe, Yara Loeffler, a “Velhinha”, tinha uma certa queda pelos Fiat 500. Então resolvemos tentar encontrar um e armar um negócio sem ela saber de nada. Com a ajuda do nosso amigo Álvaro De Pieri (De Pieri Veículos), encontramos o 500 branco com teto solar que vocês veem nestas fotos, em excelente estado – e, na época, com visual 100% original. O irmão Bruno se encarregou de armar aquele teatro macarrônico com o Álvaro, e levou a velhinha para ver o carro – sem ela saber exatamente que era para ela. Tudo armado, visita feita, encontro, test drive, surpresa feita e negócio fechado!
Seis meses se passaram. E um dia, ajudando o amigo Funari a levar um jogo de rodas aro 17 pra São Paulo, decidimos instalar no 500 pra pregar uma peça na Velhinha. Montamos duas do mesmo lado. Só que quem pregou a peça foi ela, que gostou!
“Nossa, que lindo ficou, obrigada, não precisava!”
Hein? Não mãe! Resposta errada, era para dizer que eram muito grandes e que era pra tirar! Quando por fim desmontamos, a decepção dela veio junto… “Ah, as originais aro 15 ficaram pequenas agora, não tem umas aro 16?”. Ali já tinha o primeiro indício de que a fruta não cai longe da árvore…
Resolvemos então ir atrás de um jogo de rodas que caísse bem no carrinho. Nesse meio tempo, a polícia de trânsito de Curitiba criou um caso dizendo que o carro dela era rebaixado – apenas usava as molas originais da versão polonesa, mais baixas –, e obrigou a colocar molas do modelo mexicano, bem mais mais altas (alô BPTran, se liga né?). Parece que se o seu carro estiver podre, caindo aos pedaços, andando por ruas estupidamente destruídas, não tem o menor problema, o problema pro BPTran de Curitiba é você circular com um carro 2 cm mais baixo que os outros, “um perigo extremo pra sociedade”….
E o fato é que isso acabou criando um certo desânimo na Velhinha, que chegou a cogitar até trocar seu querido carro – que, para ela, ficou feio com a nova altura.
70tou
Natal do ano passado, família toda reunida, eis que a Velhinha anunciou os seus planos para 2019. “Ano que vem completo 70 anos, resolvi que, ou vou saltar de paraquedas, ou correr no autódromo”. Rimos da cara dela, fomos retribuídos com bolachas, tudo certo! Passado o nosso susto inicial, optamos por apoiar o plano de andar na pista, que é um ambiente que a gente já tem uma boa familiaridade e que também podemos “controlar melhor”.
Perto do fim de maio, recebemos a notícia que haveria mais uma edição no Autódromo de Curitiba do Friends Track Day, dos amigos João Wodiani e Rafael Rabitz. E mais ainda, este evento seria dividido em quatro baterias de uma hora e meia de duração, o que seria perfeito pra ideia de botar a velhota na pista! Então fizemos a inscrição e demos de aniversário.
Missão: Trackday
Então, com isso, partimos para o plano de achar os aros 16 que ela sonhava desde aquele trote das rodas, e encontramos um jogo do 500 Sport em bom estado e ótimo preço, comprado pelo irmão Max (dos Project Cars 333, o Gol turbo draw-through e o PC #498, a Kombi Valdirene). Conversando com o amigo Jiló, da Mega Concept Centro Automotivo, de Curitiba, decidi que pintaríamos as rodas todas de prata, eliminando o diamantado original. E a borda da calotinha central mudaria de vermelho pra grafite. Com apoio da Yokohama, comprei um jogo de BluEarth ES32 na medida original 185/55R16, instalamos novamente as molas mais baixas, fizemos o alinhamento, tudo feito no capricho sob os cuidados do grande Jiló, parceiro de longa data. O resultado ficou ótimo!
Entrou em cena então o meu irmão mais novo, Bruno, que fez a jaqueta/macacão, preparou todo o kit de adesivos pro carro e matou a pau na “lista de compras” estilizados como os logos de marcas famosas. Conseguem acertar todos aí embaixo?
Num dia qualquer, eis que no grupo da família surge mensagem da Velhinha comentando de vídeos do Juliano Barata sobre track day e tal. Como assim? A Velhinha estava estudando, vendo vídeos da pista, vídeos de instruções do Juliano, vídeos nossos andando na pista, estava levando a sério!
Tacalepau Day
Chegou então o dia da vistoria e do evento. O nervosismo bateu nela, claro, e ao contrário do que nós pensamos, não era o problema de entrar na pista pela primeira vez na vida, mas sim de não atrapalhar os outros. Isso é mentalidade de quem compete!
No dia do evento, conseguimos dar uma olhada na pista, nos outros carros, explicamos os mecanismos de um track day, e lá se foi a Velhinha pro briefing, que ocorreu antes de cada bateria com todas as explicações e detalhes.
Nosso amigo Julio Lodetti, o Juca V8, engenheiro nível ninja, professor, Dodgeiro e que curte fotografar, nos apoiou indo fazer as fotos do dia histórico. (@jucalodetti) Muito obrigado galã, ficaram ótimas!
A cunhada e recém oficializada no clã dos Loeffler, Vera (agora) Loeffler, ajudou também nas fotos e apoio com a sogrinha. Valeu cunha!
Com o apoio dos organizadores, João e Rabitz, me foi permitido dar duas voltas guiando com a Velhinha no carona, só pra mostrar alguns detalhes da pista e cuidados com a saída e entrada dos boxes, que marchas deveria usar, e pronto.
Combinamos antes entre nós que, depois dessas duas voltas, eu daria mais duas de carona, mas ela achou melhor ir sozinha e partiu para pista! Nada de lastro atrapalhando os tempos de volta!
No começo da sessão pude ver que o ritmo dela estava tranquilo, mas ela foi apertando o pedal da direita cada vez mais fundo, freando cada vez mais tarde, até que, dado momento, ela para nos boxes e me pede pra subir de carona para dar alguns toques de traçado, “porque estava errando algumas curvas”. QUE??? Já quer fazer tempo? É isso mesmo? Note os gestos nas fotos – papo de pista!
Dei uma ajuda só no sentido de como tomar as curvas e de como encarar a relação com os outros carros na pista, porque ela saía muito do traçado ideal com medo de atrapalhar os demais. Acabava sendo pior para ela, porque tinha de fazer as curvas muito lentamente entrando errado em relação ao traçado. Com o tempo, foi melhorando e conseguindo ganhar confiança pra ir mais rápido.
O dia foi legal demais. O pessoal todo que esteve na pista curtiu muito, muita gente foi conversar com a Velhinha, dar parabéns e incentivar, especialmente as mulheres que lá estavam e que ficaram bem empolgadas! Até nosso primo Luciano veio de Porto Alegre com amigos para prestigiar a Tia-Avó aprontando na pista, bem como os vizinhos e amigos de longa data, Alvino, Rose e Gabriel.
Inclusive, o Alvino foi o cara que influenciou nós três – eu, Bruno e Max – no mundo dos carros. Quando tínhamos lá os nossos 11 ou 12 anos, ele já tinha um Passat turbo que passava espirrando na porta de casa todo dia. Contaminou todo mundo! Também foi o cara que nos ajudou muito quando começamos e mexer nos nossos primeiros carros em casa, e antes mesmo disso, no carro da minha mãe, que eu trocava comando, carburador, aprontava todas quando ela não estava em casa! Valeu Alvinão!
Resultado? A Velhinha adorou a experiência, a receptividade e cuidado de todos também, e já prometeu que logo vai andar novamente – mas com algum brinquedo mais forte, porque afinal, potência nunca é demais! Por outro lado, contrariando o que normalmente acontece nas relações entre pais e filhos, nós que vamos ter que esconder as chaves dos nossos carros fuçados agora. Outro dia a vi buscando anúncios de 500 Abarth? Pode isso?!
Não temos certeza, mas até onde pesquisamos não existe nenhum registro de alguma mulher com mais idade que tenha andado em algum evento aberto em autódromo no país, o que é muito legal e um orgulho para nós. Foi uma bela maneira de comemorar os 70 anos. Parabéns Velhinha! Pé no porão sem dó!
Agradeço imensamente o apoio dos amigos, Jiló da Mega Concept, Julio Lodetti pelas fotos, Yokohama, Friends Trackday, e o FlatOut pela parceria e oportunidade de registrar essa história.
Um grande abraço dos Loeffler, e “If in doubt, flatout!”
Gustavo Loeffler