Da última vez em que falamos sobre a preparadora norte-americana Emory Motorsports, eles estavam às voltas com o desenvolvimento do Emory RS, um Porsche 356 extremamente modificado, com carroceria widebody inspirada pelo Porsche 935 e um flat-four biturbo de 380 cv. O carro foi apresentado no SEMA Show 2018 ainda inacabado, e deverá ainda levar alguns meses para ser apresentado. Enquanto aguardamos, porém, a Emory decidiu mostrar ao mundo seu mais recente projeto concluído: um Porsche 356 restomod com tração integral, batizado como Emory Allrad.
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Já faz mais de dez anos que a Emory Motorsports se dedica a criar versões mais radicais do Porsche 356, os chamados Outlaws. São carros que conservam a essência do original ao seguir utilizando um boxer de quatro cilindros e evitar alterações estéticas drásticas (com exceção do Emory RS, claro), porém melhorando todos os aspectos possíveis: motor, elétrica, suspensão, freios e interior. Tudo com um nível de acabamento excepcional – talvez não tanto quanto um Porsche 911 da Singer, mas quase lá. E quando você se propõe a modificar um carro raro e cada vez mais valorizado como o 356, é bom que seja algo bem feito.
Com o Porsche 356 Allrad, feito sob encomenda de um cliente não identificado, a Emory Motorsports se aventurou em um terreno inédito: a tração integral. Para isto, eles recorreram ao sistema 4×4 de um pioneiro – o Porsche 964, que foi o primeiro 911 a ser oferecido com um sistema de tração nas quatro rodas, na versão Carrera 4, de 1988.
O sistema usava um diferencial central com engrenagens planetárias que dividia o torque do motor entre os dois eixos, sendo que, por padrão, 31% da força iam para o eixo dianteiro e 69% para o eixo traseiro. O detalhe é que havia também havia dois blocantes eletrônicos, de modo que havia vetorização do torque entre os dois eixos e também entre as duas rodas traseiras. O que é impressionante, se lembrarmos que estamos falando de um carro de 31 anos atrás.
Este sistema foi a base do arranjo usado pela Emory no 356 Allrad. E também é a inspiração para seu nome: em alemão, “tração nas quatro rodas” é Allradantrieb, geralmente abreviado como Allrad. Mas rad também é a abreviação de radical em inglês – e usado da mesma forma que usamos “incrível” ou “f*da” aqui no Brasil. Allrad, então, também pode ser entendido como um trocadilho entre “tração integral” e “f*da demais”. E, bem, não dá para discordar.
O Emory Allrad passou pelo tratamento especial a que passa todo Porsche 356 modificado pela companhia. Ou seja: a Emory partiu de um Porsche 356 relativamente íntegro e o desmontou completamente, e quaisquer imperfeições ou sinais de desgaste e corrosão na carroceria e na estrutura foram caprichosamente corrigidos, com direito à fabricação de alguns painéis novos em folha em alumínio. O carro, então, foi pintado de cinza “Graphite Blue Metallic” (tonalidade que faz parte do catálogo da Porsche) e recebeu novos faróis com lentes amarelas, lanternas e alguns detalhes cromados, como as molduras dos faróis e janelas. Também foi instalado um rack no teto feito sob medida em titânio, instalado nas calhas do teto usando presilhas impressas em 3D. A peça se faz necessária porque a área debaixo do capô é tomada por um tanque de combustível selado.
O interior recebeu um novo revestimento em couro e tecido verde militar, um volante de três raios e um novo conjunto de instrumentos com visual clássico. Também foi instalada uma gaiola de proteção integral que também serve como suporte para o estepe – e também para segurar quaisque objetos que se possa colocar na área de carga atrás dos bancos (que não é muito generosa, mas isto é só um detalhe). O charme extra fica por conta dos controles giratórios para o sistema de tração integral, posicionados sob o painel. É um interior sem excessos e invencionices; totalmente funcional, mas também muito bonito.
Mas vamos à parte mais intrigante: o conjunto mecânico. O carro é movido pelo motor Outlaw 4 da Emory – um flat-4 baseado no boxer de seis cilindros do 911 964, com dois cilindros a menos. Bloco e cabeçotes são feitos em billet de alumínio 6061 (uma liga com magnésio e silício), e o motor tem comando de válvulas e virabrequim feitos sob medida – em essência, versões encurtadas das peças originais do 964. O Outlaw 4 pode ter deslocamento de 2,4 ou 2,6 litros, dependendo do nível de potência desejado, e só é oferecido instalado em um Emory Outlaw – não dá para comprar um motor avulso para instalar por conta própria.
No caso do Emory Allrad, o motor tem 2,4 litros, é naturalmente aspirado e alimentado por um par de carburadores Weber 48 IDA de corpo duplo – o suficiente para entregar cerca de 200 cv, de acordo com a preparadora. A Emory também oferece versões do motro Outlaw 4 com injeção eletrônica e dois turbocompressores, podendo chegar ao dobro da potência, mas 200 cv em um carro que pesa cerca de 800 kg são mais que o suficientes para garantir a diversão de seu dono.
A parte mais desafiadora do 356 Allrad, de acordo com a Emory Motorsports, foi adaptar o conjunto de tração integral do 964 no 356, exigindo modificações no assoalho e no cardã. O conjunto de suspensão também conservou os suportes do 964, porém recebeu um jogo e amortecedores ajustáveis do tipo coilover da KW. As rodas de 16 polegadas abrigam os freios do 964 e são calçadas com pneus Pirelli Ice Zero de uso misto, com medidas 205/60.
De acordo com a Emory, o projeto levou quatro anos para ficar pronto, da concepção à conclusão, e por enquanto permanecerá o único de sua espécie – a não ser que você tenha uma conta bancária gorda o suficiente para convencê-los do contrário. Alguém aí está a fim de fazer uma vaquinha?