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Engenheiro iraniano revela “cópia perfeita” de um Lamborghini Murciélago… com motor V6 de 3,8 litros

Algum tempo atrás falamos sobre a indústria automotiva iraniana, contando sua trajetória e mostrando o nível em que ela está atualmente. Se você leu aquele post (e se não o fez, faça agora!) vai lembrar de uma coisa: os primeiros carros fabricados no Irã foram versões rebatizadas de modelos britânicos e franceses, e até hoje os principais carros fabricados no país são baseados em projetos estrangeiros como o Peugeot 405 e o Peugeot 206.

Dito isto, parece que agora os iranianos decidiram elevar o nível de sua engenharia automotiva. Ou ao menos um deles: um engenheiro chamado Masud Moradi, que nos últimos anos dedicou-se integralmente a construir “a mais perfeita cópia de um Lamborghini Murciélago SV já feita”. De acordo com Moradi o carro foi desenvolvido e construído nos últimos quatro anos usando engenharia reversa, segundo seu criador. O resultado foi apresentado há alguns dias, durante um evento em Tabriz, no Irã, e foi ovacionado pelos presentes.

De fato, à primeira vista, o carro é realmente impressionante. O acabamento parece bem feito e, até onde vão as “réplicas”, esta parece uma reprodução de alto nível de um Lamborghini Murciélago SV. De acordo com a agência de notícias Ruptly, Moradi disse durante o evento de apresentação que todas as peças do carro, por dentro e por fora, e também o conjunto mecânico, foram feitos com base no Murciélago original.


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Uma publicação compartilhada por Masoud Moradi (@masud_moradi) em

Ao ler estas palavras ficamos impressionados mas, ao mesmo tempo, intrigados. Se fosse este realmente o caso, a réplica iraniana do Murciélago SV teria uma estrutura do tipo spaceframe de alumínio, carroceria de fibra de carbono e um V12 de 6,5 litros e 670 cv acoplado a uma caixa manual de seis marchas (ou semi-automática também de seis marchas) – tudo feito no Irã, porém nas mesmas especificações do original. É ou não é para encarar o projeto com certo ceticismo?

Pensando nisso, decidimos investigar para descobrir mais detalhes a respeito do carro, que é chamado pelo próprio criador de “Lamborghini Iraniano”. O que descobrimos? Que esta história de cópia perfeita é um exagero por parte da imprensa. Nem por isto o carro deixa de ser impressionante, mas fica claro que não se trata de engenharia reversa, e sim de uma réplica muito fiel ao original em diversos elementos, porém completamente diferente em aspectos fundamentais.


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De acordo com Moradi, que concedeu uma entrevista ao site Iran Front Page, o projeto consumiu os últimos quatro anos de seu tempo e usou mesmo um Lamborghini Murciélago SV original como referência para a manufatura da carroceria e do interior. O conjunto mecânico, contudo, não conta com um motor V12 (diferentemente do que dá a entender a nota da Ruptly), e sim com um motor seis-cilindros de 3,8 litros da Hyundai, que também forneceu a transmissão. Compatível com esta descrição é o powertrain do Hyundai Genesis, que tem um V6 de 3,8 litros e 315 cv acoplado a uma transmissão automática de oito marchas fabricada pela alemã ZF, modelo 6HP19. Com este conjunto o Genesis é capaz de ir de zero a 100 km/h em 6,5 segundos e atingir a velocidade máxima de 245 km/h, limitada eletronicamente.

Na entrevista ao IFP, Moradi é bem mais realista do que dão a entender os relatos da imprensa. Ele conta que, de fato, nenhum componente do carro foi adquirido com a Lamborghini, e que o mais próximo disto foi um para-brisa comprado na Europa “de uma companhia que fornece peças para a Lamborghini”, que serviu como molde para que um para-brisa novo fosse feito no Irã. Moradi também diz que a estrutura é um spaceframe de alumínio e que a carroceria utiliza fibra de carbono na maioria dos painéis, exceto pelo teto de aço e pelas portas tesoura, que são de alumínio. Em uma das fotos no perfil do Instagram que criou para o projeto, Moradi afirma que a asa traseira é ativa e que as tomadas de ar no deque traseiro são eletromecânicas, sendo acionadas em alta velocidade “para maximizar a eficiência aerodinâmica e o arrefecimento do carro”. Ele também insinua que teve acesso aos dados originais do projeto do Murciélago para conseguir todas as medidas da estrutura e da carroceria.

É possível que a carroceria seja realmente feita, em parte, com plástico reforçado por fibra de carbono (CFRP), mas nosso palpite é que o método usado seja o wet (úmido), no qual a resina é deposta sobre a trama de fibra de carbono e selada a vácuo. No processo dry, a resina é pré-impregnada na própria fibra de carbono e as peças são curadas em uma autoclave. É um método bem mais eficiente, que rende peças mais leves e resistentes, mas também custa muito mais caro – e não por acaso (na verdade graças a Horacio Pagani, como contamos neste post) a Lamborghini é uma das fabricantes que melhor dominam as técnicas de fabricação de componentes em fibra de carbono.

O resultado, de todo modo, impressiona visualmente. No vídeo abaixo fica claro que a pintura não está no mesmo padrão da Lamborghini, mas os gaps entre os painéis da carroceria estão muito bons.

Moradi reitera que nenhum componente foi comprado da Lamborghini, mas os faróis e lanternas parecem absurdamente fiéis aos originais. A produção pequena escala de peças de acrílico ainda é cara demais e por isso, se tudo foi feito de forma artesanal, o engenheiro iraniano merece créditos. Mas ficamos mais inclinados a pensar que tais peças foram compradas de fornecedores aftermarket.

Questionado pelo IFP sobre a suspensão, Moradi não foi muito claro, dizendo apenas que a dinâmica do carro foi elogiada por seu piloto de testes como segura e estável, embora “definitivamente não possa ser comparada ao comportamento dinâmico do original”. Nada é mencionado a respeito dos freios.

De acordo com Moradi, o interior foi todo feito de forma artesanal e, de fato, é preciso dar crédito a ele: a parte interna de um automóvel feito de forma artesanal é a porção mais crítica, e é comum que réplicas como esta apresentem falhas. Moradi afirma que todos os materiais utilizados atingem os padrões (sem especificar exatamente que padrões) e, por mais que o volante pareça ser o mesmo do Hyundai Genesis, assim como os instrumentos, o desenho do painel, dos revestimentos de porta e demais componentes como saídas de ar e console central é bastante fiel ao que se vê no Murciélago original. Há algumas costuras desalinhadas, mas nada que surpreenda em um interior construído à mão.

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Moradi diz que a intenção é comercializar as réplicas (razão pela qual prefere não divulgar quanto foi gasto na construção e no desenvolvimento do primeiro exemplar) e afirma que, com o investimento correto, é possível construir de 50 a 100 exemplares por ano. Mas talvez o pessoal de Sant’Agata Bolognese não fique muito feliz com isto…