Olá pessoal. Nesse post vou atualizar vocês sobre algumas coisas que venho fazendo no carro, mas principalmente, para aqueles que tem curiosidade em saber como um carro da década de 1990 se sai diante de um modelo atual, irei também falar sobre algumas dessas características.
MOTOR
No primeiro post, havia comentado que esse XR3 está bem inteiro e as manutenções que tenho feito são simples e tem como objetivo deixá-lo pronto para rodar sem ter nenhuma surpresa desagradável pelo caminho. Mas também faço isso como hobby, fuçando no carro, e essas intervenções acabam tendo propósito preventivo do que corretivo (quando a desgraça já aconteceu).
Nesse contexto, as últimas peças que troquei foram as mangueiras (usando de injeção, no lugar das lonadas) e bomba de combustível (mecânica, que era original ainda) e a bobina de ignição. Nenhuma dessas peças apresentava problemas (ainda) e no caso da bobina, coloquei uma com resina asfáltica. As antigas eram com óleo, como a do meu carro, e as atuais já são fabricadas com essa resina, que apresentam uma série de vantagens, que podem ser vistas aqui nesse link.
Depois de quase cinco anos com esse carro, resolvi desmontar o carburador para fazer uma revisão básica nele. Só fui fazer isso agora por pura falta de vergonha na cara, mas até que o carro não havia apresentado problemas, como alto consumo ou falhas na aceleração.
Depois de aberto, vi porque ele funcionava redondinho. Ele estava um pouco sujo por dentro, mas não havia nenhum sinal de corrosão e todas as passagens internas estavam desobstruídas. Mesmo assim, após uma boa limpeza com descarbonizante e troca de juntas, diafragmas e o-rings, senti um funcionamento mais regular do motor.
Sujo, mas sem corrosão.
FREIOS
Anteriormente havia trocado todos os flexíveis, cilindro mestre e os cilindros de rodas traseiros (as lonas estavam bem preservadas). Contudo, também foram quase cinco anos sem mexer nos discos e pastilhas dianteiros. As pastilhas ainda tinham cerca de quatro milímetros de material abrasivo, mas os discos estavam em petição de miséria, verdadeiras panelas. Comprei um par deles e um jogo de pastilhas, que nesse carro vem equipadas com sensores de desgaste.
Aqui, panela velha não faz frenagem boa.
SUSPENSÃO
As primeiras coisas que fiz logo que peguei esse carro foram a troca das molas, batentes e amortecedores dianteiros. Dessa vez, aproveitei que estava sem os discos e pastilhas e troquei as buchas do braço oscilante, na parte onde a barra estabilizadora passa por ele.
Indo lá para trás, resolvi trocar os calços e molas traseiras, que estavam com os elos enferrujados e apresentando marcas de batidas entre eles.
Aproveito a deixa para indicar um site que tem vários manuais técnicos do Escort MK3/4. São manuais da Haynes (em inglês), onde há várias vistas explodidas de componentes desse carro. Como é gringo, a parte de motores não se aplica ao Brasil, mas mesmo assim é muito útil. Veja aqui.
Esse outro aqui também vale a pena: http://www.fordopedia.org/parts-catalog/escort-mk3
Com as molas novas e o detalhe da suspensão à la Civic/Focus
BACK TO THE FUTURE
Na linha do tempo da Ford, o Focus é o sucessor do Escort. Lançado em 1998, já está em sua terceira geração, que chegou ao Brasil no segundo semestre de 2013. Tenho os dois na garagem de casa, e por isso gostaria de compartilhar as impressões entre dois carros separados por 25 anos no tempo.
Começando pela motorização, e usando o que havia (AP 1.8 S) e o que há (Duratec 2.0 Direct Flex) de mais top nesses carros para efeito de comparação, a diferença é a mesma entre vinho Sangue de Boi e Romanée Conti, muito além da diferença de 68 cv entre eles.
Até 1993, com a chegada do Tempra, não havia carros nacionais com quatro válvulas por cilindro no cabeçote, tão comum hoje em dia. Assim o Escort 1.8 com motor AP tinha somente oito válvulas e comando simples. No Focus, há duplo comando com variador de fase e 16 válvulas.
Além de vir equipado com carburador de corpo duplo, o motor AP tem coletor de admissão em alumínio fundido, no mesmo lado onde está o coletor de escape. Atualmente os motores recebem coletores de admissão em plástico e no lado oposto ao coletor de escape (fluxo cruzado).
Na parte de alimentação, carburador no Escort e injeção direta no Focus. Tudo muito lindo, mas não vou esconder que uma falha na bomba mecânica de alta pressão do Focus me deixou a pé, com apenas três meses de uso.
Outra coisa fácil de notar é quanto à qualidade de construção nos dois carros. Os gaps entre as peças da carroceria são muito maiores no Escort, com três a quatro milímetros entre elas, assim como os para choques, que são muito menos integrados ao design do carro. O farol, além de ter lente de vidro, tem formado simples e vãos enormes.
Os vidros no Escort são presos por borrachas, e não colados, como no Focus, e o para brisas tem um ângulo bem mais reto.
O tamanho e peso também aumentaram bastante nesses vinte anos para cá. Abaixo, a comparação das medidas entre o Escort XR3 MK4 Hatch e o Focus Hatch SE 2.0:
Comprimento: 4,06m – 4,53m
Largura: 1,59m – 1,82m
Altura: 1,33m de altura – 1,48m
Distância entre eixos: 2,39m – 2,65m
Peso: 950 kg – 1.375 kg
Rodas e Pneus: 5,5×14” e 185/60 R 14 – 7×17” e 215/50 R17
O nível de acabamento interno e os equipamentos são muito superiores no Focus. A única mídia original dos Escort era um rádio com toca-fitas auto-reverse. Nada de bluetooth, MP3, nem conectividade.
O relógio no teto, acredite, era objeto de desejo na época.
Direção com assistência elétrica, ar condicionado digital. Nem em sonho existiam nos Escort.
DIRIGINDO
O Focus 2.0 é exclusivamente automático, equipado com uma caixa de seis marchas com dupla embreagem da Getrag.
Acelerar o XR3 é uma coisa totalmente diferente. Há o pedal da embreagem, há o câmbio de acionamento mecânico para comandar. E o motor se comporta bem diferente, claro. Além da potencia inferior, não há nenhuma interferência eletrônica, como acelerador drive by wire. É tudo muito rústico, mais barulhento. O desempenho é bem inferior do que o do Focus, mas até dá certo prazer quando você sente o 2º estágio do carburador abrindo.
O Duratec é bem mais invisível, principalmente em marcha lenta e em médias rotações, só se tornando mais brutal quando se quer realmente andar forte. A Aceleração parece não ter fim. Em relação à estabilidade e conforto ao dirigir, aqui o Focus é o claro vencedor.
A essa altura você deve estar se perguntando: por que esse cara então tem esse Escort antigo?
Bom, não há como negar o apelo da simplicidade e cumplicidade que os carros mais velhos exigem. Andar de carro antigo é algo que requer dedicação e intimidade com a máquina, coisa que pode ser descartada num modelo mais novo.
O Escort foi, sim, ultrapassado em todos os sentidos pelo carro mais novo, mas ainda assim, continua sendo algo muito legal, de outra maneira. É diferente, não melhor ou pior. Apenas diferente.
Até mais!
Por Germinal Vilchez, Project Cars #45