Nick Leventis não é exatamente um cara famoso, apesar de ter vencido as 24 Horas de Le Mans de 2010 na categoria LMP2. Só isto já bastaria para qualquer um de nós, pobres mortais, nos darmos satisfeitos com a vida. Mas Nick Leventis ainda tem outra razão para ser feliz: ele dirige, todos os dias, uma Ferrari F50.
Antes de qualquer coisa, pare de ser esnobe: a Ferrari F50 pode até ser meio rejeitada, mas a única razão para isto é o fato de sua antecessora ser a lendária F40. Como já discorremos antes, fora isto, não há motivo para subestimar a F50. Pelo contrário: em seu desenvolvimento, a única preocupação da Ferrari foi torná-la mais rápida que a F40. E, bem, eles conseguiram.
A F50 é, também, o modelo mais raro da linhagem de supercarros com motor V12 da Ferrari. Fizeram cerca de 1.300 exemplares da F40, 400 unidades da Ferrari Enzo e 499 da LaFerrari, mas apenas 349 F50 existem em todo o mundo. O exemplar de Nick é ainda mais especial, pois se trata de uma das quatro unidades da F50 que, em vez de vermelho “Rosso Corsa”, saíram da fábrica na cor prata “Argento Nürburgring”. E, honestamente, se for para ter um carro prata, que seja uma Ferrari F50!
Quem nos mostra como é a convivência de Nick com sua Ferrari F50 é o Archie Hamilton, piloto britânico de protótipos que também mantém um canal automotivo no YouTube. Os dois são amigos, e Nick é um cara bacana o suficiente para levar Archie no banco do carona — normalmente, aquele é o lugar onde ele levaria seu cachorro ou as compras da mercearia.
Isto porque, bem, a Ferrari F50 simplesmente não foi feita para ser usada diariamente — por mais que a gente romantize a ideia de usar um superesportivo no dia a dia, esta é uma tarefa árdua. A F50 não é nenhum McLaren F1, que tem três lugares, ar-condicionadio, rádio e compartimentos de bagagem bem razoáveis nas laterais porque Gordon Murray queria fazer um supercarro “utilizável“. Ela está muito mais perto de ser um carro de Fórmula 1 com carroceria que por acaso pode rodar nas ruas.
Olha só: ela tem monocoque (e carroceria) de fibra de carbono, um motor V12 de 4,7 litros e 60 válvulas atrás dos bancos e nada de rádio, ar-condicionado ou coisas fúteis como vidros e travas elétricas. Ao abrir o capô, você dá de cara com o extintor de incêndio e duas enormes ventoinhas para ajudar a resfriar o motor. Dá para ver que aquele lugar não foi pensado para guardar mais nada além disso, mas Nick tem que se virar e jogar uma sacola de compras lá dentro.
Se você quer voltar para casa curtindo uma musiquinha, bem, também não vai rolar: sem rádio, você vai ter que “se contentar” com a música do V12 de 520 cv a 8.000 rpm e 48 mkgf de torque a 6.500 rpm — o limite de giro é de nada menos que 9.500 rpm. Para se ter uma ideia, em certos momentos é difícil ouvir o que Archie e Nick falam dentro do carro, e o fato de sua F50 ter teto de tecido ainda faz com que o ronco invada o cockpit com muito mais intensidade. Nick diz que, quando vai pegar a estrada, precisa usar fones de ouvido para não ter dor de cabeça e que, em dias frios, o interior do carro fica, bem… frio.
Manobrar também não é tão simples — apesar de ser registrado no Reino Unido, o carro de Nick não foi convertido para a mão inglesa (apenas o Sultão do Brunei conseguiu convencer a Pininfarina a realizar a conversão, às escondidas). A visibilidade traseira da F50 (de todo esportivo de motor central-traseiro, na verdade) já não é das melhores, e Nick ainda precisa dirigir do lado errado da via…
Nada disto impede, porém, que ele continue usando sua F50 todos os dias. Nem mesmo o consumo de combustível do V12 — que, considerando sua origem na Fórmula 1, é até econômico: 4,3 km/l na estrada e 3 km/l na cidade. Na verdade, com uma F50 “Argento Nürburgring” na garagem, esta deve ser sua menor preocupação…