Há pouco mais de cinco anos uma pesquisa realizada pelo Ministério da Justiça revelou que há cerca de 16 milhões de armas em circulação e que metade delas são ilegais. Isso significa que há cerca de oito milhões de armas que entraram no Brasil sem nenhum tipo de registro. Ou mais, dado que a pesquisa foi feita em 2010.
Sabe-se que elas são trazidas para o Brasil dos países vizinhos por contrabandistas e/ou traficantes de drogas, que também as usam como moeda de troca. E obviamente elas não entram no país em caixas acomodadas em um caminhão baú, encaixotadas como maçãs argentinas e com rótulos tipo “Beretta 92fs – contém 100 unidades”. Elas são escondidas de diversas formas — seja em meio a carregamentos de produtos legais, em barcos e aviões de pequeno porte ou mesmo escondidas em carros de passeio.
Há 50 anos talvez fosse simples escondê-las em um carro de passeio, mas hoje os agentes aduaneiros já conhecem bem os truques para esconder carga ilegal em um carro, de forma que você precisa de criatividade acima da média para conseguir cruzar a fronteira sem ser descoberto. É o caso desta apreensão realizada há algumas semanas — um bom exemplo do nível de engenhosidade dos contrabandistas de armas: os caras esconderam as pistolas no cárter do motor do carro.
Sim, você entendeu direito: as armas estavam escondidas dentro do motor que estava funcionando para mover o carro.
As imagens foram divulgadas por agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) nas redes sociais, junto do relato que conta como foi feito o flagrante. Segundo o texto, a polícia suspeitava de um caso de tráfico de armas transportadas por um Fiesta Rocam (provavelmente denunciado anonimamente). O carro foi abordado em uma região próxima à fronteira brasileira pelos agentes do Núcleo de Operações Especiais e foi investigado por um dos batalhões de Inteligência da PRF no Rio Grande do Sul por cerca de 9 horas. Sem encontrar nada, o carro acabou retido pelos agentes por estar em mau estado de conservação (infração prevista pelo artigo 230 do Código de Trânsito).
No dia seguinte, os agentes estranharam o desinteresse do proprietário na liberação do carro e decidiram fazer uma nova busca, desta vez inspecionando o motor. Na inspeção eles notaram sinais de manuseio recente no cárter do carro: o resíduo da pasta de vedação estava limpo, o bujão estava desgastado e os parafusos do cárter tinham bitolas diferentes. Além disso, a vareta de verificação do nível óleo havia sido cortada — o que aumentou a suspeita de que havia algo dentro do motor. Mesmo incrédulos com a possibilidade, os agentes decidiram finalmente remover o cárter do carro.
O que eles encontraram foi isso:
São seis pistolas turcas de calibre 9 mm e nove carregadores (popularmente conhecidos como “pente”). Segundo o relato, para acomodar tudo isso no cárter e ainda manter o motor funcionando, eles modificaram o pescador da bomba de óleo de modo que ele ficasse mais curto e liberasse espaço no reservatório. Para que a lubrificação não fosse comprometida, bastou usar um volume maior de óleo para que o nível mínimo tocasse a base encurtada do pescador, quase no mesmo nível dos mancais do virabrequim.
Engenhoso, não? Agora.. isso nos deixa com uma dúvida intrigante: será que com toda essa criatividade e engenhosidade esses caras não poderiam estar criando algo mais benéfico? Pensando bem, como cantava Jorge Ben: “Se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem”.