Não há dúvidas de que a trilogia “De Volta para o Futuro” é uma das mais emblemáticas de todos os tempos. E os três filmes que contam a história de Marty McFly e Doc Brown passeando entre o passado e o futuro (bem, eles não estavam exatamente “passeando”, mas você entendeu) têm um apelo especial entre os entusiastas justamente por causa da máquina que eles usaram para viajar pelo tempo — um DMC DeLorean, esportivo americano com carroceria de aço escovado, portas asa-de-gaivota e um motor V6 que não era exatamente potente, mas tinha caráter.
Claro, o carro de Doc Brown era totalmente modificado, com um capacitor de fluxo e todas aquelas tranqueiras eletrônicas, a fim de se transformar em uma máquina do tempo. E, no fim das contas, o filme acabou ajudando a transformar o DeLorean em um mito — como já contamos aqui, é bem provável que, não fosse por “De Volta para o Futuro”, ele seria só um esportivo fracassado com uma história conturbada.
Há outro carro, contudo, que provavelmente é o segundo maior ícone do filme: a picape preta de Marty McFly que, no primeiro filme, aparece chegando na concessionária Statler Toyota na plataforma de um caminhão com os dizeres “mais uma 4×4 personalizada para a Statler Toyota”.
O carro original não é tão legal quanto aquele na garagem de Marty, e o motor 22R-E 2.4 aspirado de 106 cv não é muito empolgante. Por isso, a picape personalizada para o filme com rodas US Wheel 94 Black Modular de 15 polegadas, pneus Goodyear Wrangler, um par faróis de milha KC retangulares no quebra-mato, outros quatro faróis de longo alcance circulares da KC no santantônio, e todos os cromados (como grade e espelhos) foram pintados de preto — na medida para parecer um sonho de consumo para um adolescente de 17 anos.
E era mais ou menos esta idade que Patrick Shea tinha quando viu o filme pela primeira vez, no cinema, pouco depois de se formar no ensino médio. Ele e seu pai, Bill Shea, são verdadeiramente doentes pela franquia, e sua casa é praticamente um museu dedicado a “De Volta para o Futuro”. E é claro que eles têm um DeLorean máquina do tempo — o carro foi comprado em 1995, quando um DeLorean ainda não custava uma fortuna, e nos últimos anos foi convertido para ficar virtualmente idêntico à máquina do tempo do primeiro filme. É, sem dúvida, um dos exemplares mais fiéis ao que se vê na trilogia.
Bill e Patrick têm um site inteiramente dedicado à sua coleção, que também inclui diversos itens relacionados ao filme (é claro que eles têm um hoverboard e os tênis que se amarram sozinhos), figurino, objetos de cena e, claro, a picape de Marty McFly, que tem uma história para lá de interessante.
Patrick ficou apaixonado pela picape no momento em que a viu no filme, assim como milhares de outros entusiastas que assistiram “De Volta Para o Futuro” no cinema em 1985. No entanto, a Toyota Hilux SR5 (da geração anterior às que vieram para o Brasil na virada da década de 1990) não era exatamente protagonista, e sim um carro de papel secundário. Sendo assim, a picape acabou destruída — ao menos é o que se sabe.
Por isso, para as gravações do segundo e do terceiro filme, os produtores tiveram que encontrar outra picape e modificá-la para ficar igual à do primeiro filme. Depois disso, ela foi vendida e passou o resto de sua vida como daily driver de alguém que morava no sul da Califórnia. Só em 2012 é que ela foi encontrada — toda pintada de laranja e em condições não muito boas…
Havia um bom motivo para isto: em determinado momento, a picape foi roubada e utilizada pelo cartel de drogas mexicano! São caras que precisam de veículos robustos e fáceis de consertar, e por isso a Toyota Hilux é um de seus favoritos. Tanto que a polícia americana conseguiu recuperá-la “inteira” e devolvê-la rodando a seu dono.
Quando a Hilux foi recuperada pelos caras da Time Machine Restoration, em 2013, o hodômetro marcava nada menos que 239 mil milhas no hodômetro — pouco menos de 385 mil km. A Time Machine Restoration foi o time responsável por restaurar a máquina do tempo (sacou o nome?) original utilizada nos três filmes. Na época, eles estavam às voltas com este processo e, por isso, colocou o trabalho nas mãos de Bill e Patrick Shea, cuja reputação já era conhecida entre os fãs da trilogia.
Eles, por sua vez, procuraram a Greg’s Restorations, oficina de restauração especializada em picapes antigas que fica em Rutland, Massachusetts. A ideia era devolver à picape o exato aspecto que tinha nos filmes — trabalho que foi mais difícil por conta dos itens de acabamento do que qualquer outra coisa, conta Patrick no vídeo que abre este post. A mecânica da Hilux, por outro lado, é extremamente robusta.
Depois de quase dois anos de trabalho, a Hilux SR5 finalmente ficou pronta — os caras até fizeram uma faixa igualzinha à do primeiro filme! Atualmente ela anda como nova — e poderia muito bem ser o carro de uso diário caso ele aparecesse mais uma vez, em 2016. E você pode ver todo o processo de restauração na página da Greg’s Restorations no Facebook!