Entre os carros de tração dianteira, poucos têm uma reputação tão boa em termos de dinâmica do que o Honda Civic. Especialmente os modelos dos anos 90. O que acaba incluindo a quarta, a quinta e a sexta geração — especialmente estes dois últimos, que têm suspensão dianteira double wishbone e versões esportivas consagradas.
Perdido no meio do bolo que inclui Civic Si, VTi, Type R e o clássico CR-X, está o Honda Civic del Sol. Lançado em 1992, o sucessor do CR-X é um cupê de dois lugares com teto targa (por isso o nome del Sol) e a plataforma do Civic de quinta geração.
O visual é para lá de agradável e, com uma gama de motores que ia do 1.5 D15B7 de 102 cv na versão S ao 1.6 B16 de até 160 cv com comando V-TEC no Si/SiR/VTi (nomes diferentes para um mesmo carro), o del Sol foi um cupê razoavelmente popular no Japão, na Europa e nos EUA. O cupê targa foi vendido até mesmo no Brasil, equipado com o motor B16. É razoavelmente raro e, quando à venda, não custa menos de R$ 30 mil.
É uma boa notícia para quem deseja se inspirar no projeto do holandês Bennie Kerkhof, que é dono deste Civic del Sol 1995 para lá de nervoso. Mas também é só o começo.
A descrição na página do carro no Facebook é concisa: Bennie comprou o del Sol em 2011 e, logo que o levou para casa, tratou de realizar pequenas modificações — rodas novas, coletor de escape dimensionado, coisa básica. Um ano e meio depois, Bennie comprou um “kit turbo bem baratinho” (palavras do próprio) e, desde então, acha difícil gostar de carros que não sejam turbinados.
Tanto é que, não demorou para que o “turbo baratinho” desse lugar a algo de melhor qualidade — no caso, um turbocompressor Garrett GT3076R. O motor recebeu um coletor de admissão com dutos de 68 mm, um novo sistema de injeção da DSM com bomba de combustível Walbro de alta vazão, volante aliviado e novos pistões. Com o caracol operando a 0,6 bar, o motor passou a entregar 315 cv. A transmissão original foi trocada pela caixa S80, manual de cinco marchas, vinda do Civic Type R.
O objetivo de Bennie, desde o início, era criar um daily driver que fizesse bonito na pista. Por isso, ele também instalou novos amortecedores ajustáveis do tipo coilover e os freios do Porsche Boxster. O resultado pode ser conferido na prática em 2013, quando Bennie levou o del Sol ao Nürburgring Nordschleife e conseguiu um tempo de 9:06 minutos. Nada mal para um piloto amador em um carro de tração dianteira, não é?
Acontece que Bennie é daqueles caras que nunca estão satisfeitos com seus projetos e sempre querem dar um passo além. Por isso, ele decidiu que o motor B16 ficaria melhor atrás dos bancos. Afinal, ninguém se sentava ali mesmo…
O interior do del Sol, com bancos e cintos de competição da Sparco
O trabalho começou em meados de 2014, e começou com a remoção de todos os componentes mecânicos para que a parte traseira do monobloco fosse toda reconstruída, com novos suportes, novas caixas de roda, subchassi e reforços estruturais necessários para receber o novo “habitante”. A dianteira também foi retrabalhada para receber o tanque de combustível, um novo radiador e alguns componentes eletrônicos.
Com relação ao conjunto mecânico em si, poucas modificações foram necessárias — montado em posição transversal, o trem de força foi basicamente implantado da dianteira para a traseira. Mais trabalhoso foi garantir que a estrutura fosse resistente o bastante para suportar o peso do conjunto, além de redimensionar todo o sistema elétrico. Só a instalação e acerto do chicote e da central eletrônica levou três meses, de outubro a dezembro de 2014.
Uma vez instalado e testado, o motor foi removido novamente para que o novo cofre fosse pintado e finalizado. Bennie aproveitou para realizar novas modificações no motor: com novos pistões e bielas, além de uma nova tampa de válvulas, reprogramação na central eletrônica e aumento na pressão do turbo para 1,0 bar, o B16 passou a entregar algo entre 400 e 450 cv a 8.200 rpm — ainda não há certeza porque Bennie ainda não testou o carro no dinamômetro. O motor foi reinstalado recentemente e o carro rodou pela primeira vez com o novo setup nesta semana.
Ainda a trabalho a ser feito: a nova distribuição de massas no carro e a mudança do eixo motriz, aliados à geometria da suspensão que, afinal de contas, foi feita para um carro de tração dianteira, fazem com que o Del Sol de motor central-traseiro seja arisco de mais na pista. Contudo, estes são pequenos bugs relativamente simples de resolver para quem já passou pela parte mais difícil.
Você pode acompanhar o andamento do del Sol de Bennie em sua página do Facebook.