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Project Cars Project Cars #28

Este é o primeiro Project Cars finalizado: o Dodge Charger R/T 72 LMS!

Fala, pessoal do FlatOut! Finalmente chegou o momento de terminar a restauração do Dodge Charger R/T 72 LMS! Neste último post vou falar da montagem do interior, acabamentos externos, adequação mecânica e as primeiras impressões do carro pronto. Vamos nessa?

 

Garimpo, restauração e montagem do interior

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O carro veio com pouca coisa aproveitável dos acabamentos internos: volante, painel e estrutura dos bancos e nada mais. Como os Dart nacionais são muito semelhantes aos Dart 1967 norte-americanos, muita coisa pode ser importada de lá — e eu contribui bastante para o desequilíbrio da balança comercial brasileira nos últimos dois anos: carpete, forro de teto, antena, fechaduras, maçanetas, borrachas, pestanas, entre outras cositas más.

Mas há itens específicos dos nacionais, o que exige que se garimpe com muita paciência. Encontrar tudo o que faltava tomou tempo, mas foi divertido; o mais difícil foi encontrar peças originais a preços razoáveis. Com tempo, tudo se ajeita, basta controlar a ansiedade e negociar direito quando aparece um par de lanternas dianteiras ou um conjunto completo de ventilação interna!

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Eu não tinha tempo nem talento para montar o interior do LMS, então contratei alguém para isso. A mim coube supervisionar o que estava sendo feito e, claro, autorizar gastos. À medida em que as peças iam chegando, podia-se ver o avanço na montagem; isso é muito gostoso, ver o carro aos poucos ganhando forma.

Um bom tapeceiro conseguiu encontrar um couro bem parecido com o original, apenas menos espesso, assim pudemos restaurar os bancos e o mecanismo de regulagem do encosto. Os bandôs de porta e os painéis laterais foram comprados usados, em bom estado.

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O painel foi restaurado no Rio Grande do Sul, com excelente resultado: andamento dos serviços de funilaria, pintura e mecânica  — e para minha surpresa, em vez de laminado plástico o restaurador usa uma fina lâmina de madeira, que propicia um acabamento muito melhor.

 

Acabamentos externos

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O carro veio com a grade original e com quase todos os frisos, de modo que bastou uma pequena restauração e polimento para que ficassem como novos. As rodas Magnum estavam em excelente estado, mas com os aros pintados de preto, original dos R/Ts 71. Com aplicação de cromo, ficaram perfeitas. O teto de vinil foi aplicado pelo mesmo tapeceiro, sem qualquer problema de última hora.

Bom, até então, só alegrias! Contudo, ao se montar os cajados de porta, surgiu uma grande preocupação, pois eles forçavam as portas para fora do alinhamento com as laterais traseiras. Questão de regulagem, pensei eu na minha inocência. Mas eu estava errado…

Já com a pulga atrás da orelha, minha dor de cabeça aumentou exponencialmente ao ver que o parabrisa não cabia na moldura!

Aqui, cabe relembrar que eu disse na segunda postagem que o teto havia sido trocado; pois bem, muito embora eu tivesse levado o parabrisa para os ajustes do teto novo, o funileiro errou nas medidas! E, como o segundo funileiro não se deu ao trabalho de conferir, agora o carro estava pronto, pintado e quase todo montado, mas sem parabrisa, um pequeno detalhe, não?

Como única alternativa, tive que encomendar um parabrisa especial, 2 mm mais baixo que o original, diferença quase imperceptível (como não é possível fabricar as borrachas de vedação, dá para perceber que o acabamento do lado direito não ficou como deveria).

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Resolvido o problema do parabrisa, restou o do alinhamento das portas. No ajuste, não se conseguiu resolver. O segundo funileiro havia condenado as caixas de ar que o primeiro funileiro havia feito, dizendo que elas estavam erradas; então ele as refez, ponteando as laterais com base nas caixas de ar e nas portas. Só que ele aparentemente esqueceu que a curvatura das portas muda com a instalação dos cajados (os Dodge cupê não tem a coluna B) e ponteou as laterais muito para dentro!

Ao constatar o problema, ninguém quis assumir: o funileiro culpou o pintor e vice-versa. Fiquei muito louco, o LMS não poderia ficar com aquele alinhamento grotesco depois de todo o investimento de tempo e de dinheiro. Como solução, um terceiro funileiro foi contratado, que ponteou corretamente as laterais.

É um absurdo que se tenha que fazer uso do serviço de três funileiros diferentes para se ter o carro pronto. Por essas e outras que sempre digo que restaurar um carro antigo não é coisa de gente normal.

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Para finalizar, emblemas novos, reproduções, pois originais de estoque antigo não consegui encontrar.

 

Adequação mecânica

Após o término da montagem mecânica, o carro passou cinco meses em montagem elétrica, de acabamentos externos e de interior. Então, foi de guincho para o Alaor, lenda em Dodges, que já havia feito um trabalho excepcional no meu R/T 79. Como, à essa altura, o carro já tinha uma aura especial pela homenagem à minha filha Luísa, resolvemos adequar diversos aspectos que, apesar de prontos, ou não estavam corretos ou não eram absolutamente originais.

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Com tudo aparentemente em ordem, o carro falhava em marcha lenta e em baixas rotações, sem causa aparente. Após trocar diversos componentes, o Alaor constatou que o problema estava no distribuidor e na giclagem, muito pobre. Tudo corrigido, era hora dos testes de rodagem.

A grande meta era ter o carro pronto para o principal evento de Dodges no País, o MoPar Nationals, mas, apesar de toda a dedicação do Alaor, isso não foi possível: às vésperas do evento, o diferencial apresentou problemas, inviabilizando que o carro fosse rodando ao evento. Como para mim ir de plataforma estava fora de questão, preferi adiar a estreia do LMS.

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O conjunto coroa e pinhão instalado no carro era novo, não haveria razão para o mau funcionamento. O que aprendi é que essas peças originalmente eram ajustadas em conjunto – e no meu caso eram como se fossem “estranhas” uma à outra. Solução? Encontrar um jogo original usado em bom estado!

Recorri a um grande amigo do Rio Grande do Sul, detentor de um belo estoque de peças Dodge e consegui um bom par.

O sistema de escape também precisou ser revisto, pois permitia vazamentos e os dois canos fazia barulho, um batendo no tanque de combustível e o outro no feixe de molas.

Tudo corrigido, o carro então estava pronto para rodar.

 

O Carro pronto: primeiras impressões

Cercado de enorme expectativa e emoção, fui dar uma volta com o carro. É estranho dizer, mas quando se restaura um carro, acaba-se prestando atenção aos pequenos detalhes faltantes e se deixa de lado o conjunto. Lá estava eu chateado com ajustes faltantes, tentando identificar barulhinhos! E nada curtir o carro, renascido e trazido de volta às condições de quando saiu da fábrica, quarenta e três anos depois!

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Voltei para casa, lavei o carro (calma, com água de reuso, não contribui para o caos no abastecimento), dediquei um dia inteiro a cuidar dele. Conversei com o carro (coisa que faço rotineiramente com meus carros, mas incrivelmente ainda não havia feito com o LMS), dei a ele as boas-vindas.

Então, finalmente, rodei com o carro, sentindo cada movimento da carroceria, ouvindo o borbulhar do V8 318, sentindo o cheiro de couro. Janelas baixadas, vento no rosto. Gostei muito do carro. Suspensão firme e silenciosa, motor potente, câmbio justo, interior novíssimo, parece um carro novo.

Naquele momento, considerei a restauração terminada. E ficou excelente, considerando que eu nunca havia me dedicado a um trabalho tão complexo.

É muito louco isso, mas, ao menos no meu caso, havia uma boa explicação para a minha resistência. Segundo a psicóloga que me atende, a reconstrução do carro tem uma forte ligação simbólica com o ocorrido com a minha filha Lú — e ter o carro pronto poderia significar um fim, uma conclusão. O meu subconsciente se recusava a aceitar o carro como pronto… bom, consegui superar isso.

Há, ainda, detalhes a serem acertados nas próximas semanas, como o ajuste fino de carburação, ajuste do escapamento que ainda bate e verificação de um barulho no diferencial, possivelmente o rolamento anterior. Nada que pareça complicado.

O LMS está na garagem. A cada vez que o vejo, a cada vez que ligo o motor, sinto o amor da Lú no ar. Ninguém pode me separar do Amor da minha filha – e o R/T 72 LMS é um símbolo dessa ligação eterna.

Lú, minha filha, siga o teu caminho aí no Céu, vá ser feliz. Enquanto eu estiver aqui, mandarei meu amor para você, vezes por dia. Homenagear você, minha linda, é um dos objetivos de vida. E o LMS é uma dessas homenagens. De todo o meu coração. Beijo do papai.

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Amigos do FlatOut!, essa é a história do R/T 72 LMS, Project Car #28. Uma história de Amor e de dedicação. Espero que vocês tenham curtido.

Para mim, foi um prazer compartilhar e receber tantas mensagens, tanto apoio. Valeu!

Abraços.

Reinaldo Silveira, Project Cars #28

Post 1: Dodge Charger R/T 1972 “LMS”, a história: uma homenagem por amor
Post 2: Dodge Charger R/T 72 LMS: detalhando o projeto!
Post 3: Project Cars #28: o processo de funilaria e pintura e a mecânica do Dodge Charger R/T “LMS”
Post 4: Este é o primeiro Project Cars finalizado: o Dodge Charger R/T 72 LMS!

Uma mensagem da equipe do FlatOut!

Reinaldo, a história da restauração do seu projeto, sem dúvida alguma, foi uma das mais comoventes de todos os mais de 150 participantes do Project Cars. Isso sem mencionar o fato de ser um Dodge Charger R/T 1972, um dos modelos mais belos e raros de todo o line-up sobrevivente da Chrysler do Brasil. Uma restauração destas, de alto nível de acabamento e originalidade, é mais do que merecida. Ficamos felizes de ver o LMS pronto e honrados de recebê-lo como o primeiro projeto a ser concluído – e temos certeza de que todos os leitores puderam sentir o amor envolvido nestes quatro capítulos. Ele se tornou um registro histórico, tanto pelo lado colecionável quanto pela sua própria história de vida. Parabéns!

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