Temos todos os motivos do mundo para amar o Audi Quattro original, lançado em 1980: ele era praticamente um carro de rali para as ruas, tinha um visual absolutamente matador e trazia consigo a combinação de motor cinco-cilindros turbo + tração integral quattro. É um daqueles carros que simplesmente não precisam de modificações para serem absurdamente desejáveis.
Mas isto não significa que elas não possam ser feitas. E o que acontece quando alguém sabe exatamente o que fazer para transformar um carro que já é incrível em algo simplesmente perfeito? Nosso palpite: algo como o Audi Quattro da Iroz Motorsport, que tem um motor de cinco cilindros moderno, porém mantém o visual clássico do Quattro da década de 80 por dentro e por fora. É quase um sleeper, porque quem olha para um Audi Quattro já imagina que ele seja um carro rápido, mas não tão rápido.
Entre 1980 e 1991, o Audi Quattro quase não mudou visualmente e quase 11.500 unidades foram produzidas. Existiram versões com motores de cinco cilindros de 2,1 e 2,2 litros — este último, com cabeçotes de 10 e 20 válvulas.
O carro que aparece nestas fotos é um Quattro 1983 que, originalmente, tinha um motor de 2,2 litros de 10 válvulas. Este motor é capaz de entregar pouco mais de 200 cv — um belo número três décadas atrás, nem tanto hoje em dia. É claro que um bom esportivo tem muito mais do que potência, e o Quattro é, sem dúvida, um esportivo absolutamente incrível. Mas seu dono, Sean McLane, queria algo mais, e pensava em trazer o desempenho de seu clássico da década de 80 direto para o século 21.
A solução foi recorrer à Iroz Motorsports, preparadora baseada em Las Vegas e comandada por Hank Iroz e Josh Lofquist. Hank se tornou um especialista no motor VW/Audi de cinco cilindros depois que comprou seu próprio Audi Quattro — assim que pegou o carro, tratou logo de pensar em maneiras de torná-lo mais rápido. A solução encontrada por ele foi desenvolver e fabricar peças de alta performance para seu próprio carro, como coletores de admissão e escape, cabeçotes, pistões, bielas, etc.
Hank Iroz, Josh Lofquist e o Audi Quattro
A notícia de que alguém estava fabricando peças para o motor de cinco cilindros começou a se espalhar — há cerca de 400 Audi Quattro nos EUA, o que acaba tornando a comunidade de donos relativamente unida — e, em questão de meses, Iroz passou a fabricar peças para vender, tornando-se o fornecedor de várias oficinas espalhadas pelos Estados Unidos. Mas ele também abriu sua própria oficina, a Iroz Motorsport, e sua equipe é uma das mais respeitadas se tratando de preparação de Audi e VW de cinco cilindros.
O carro de Sean (o no centro da foto acima) é, talvez, a obra prima da Iroz. Hank tirou proveito do fato de que os motores de cinco cilindros atuais do grupo VW são compatíveis com a transmissão manual de cinco marchas do Audi Quattro, e instalou um moderno motor EA855 de 2,5 litros em seu lugar. Como alguns sabem, este motor possui um certo parentesco com o V10 usado no Lamborghini Gallardo, o que por si só já é algo extremamente interessante.
O bloco do motor é de origem VW — o mesmo que chegou ao Brasil no Volkswagen Jetta da geração anterior, contudo o cabeçote de 20 válvulas e o virabrequim são os mesmos do Audi TTRS. Já os pistões Mahle e as bielas DMF são forjados. A razão para este motor frankenstein foi o custo: um bloco VW chega a ser três vezes mais barato do que um Audi, embora ambos sejam bastante semelhantes.
A alimentação fica por conta de uma bomba mecânica MagnaFuel ProStar 750 e dos enormes bicos injetores, enquando a respiração do motor é auxiliada por uma turbina Forced Performance HTA 3582R — baseada na Garrett GT35R, com intercooler feito pela própria Iroz.
Completam o pacote coletores de admissão e escape feitos sob medida — com o detalhe dos coletores de admissão com visual retrô, exigência de Sean como tributo ao carro original —, radiador Iroz e radiador de óleo Mocal. O conjunto é gerenciado por um módulo de controle aftermarket, o VEMS V3. Além de permitir que o carro seja abastecido com etanol E85, o sistema é bastante personalizável e pode ser integrado ao sistema Android — o carro tem um tablet instalado no painel, usado para monitorar todos os parâmetros de funcionamento do motor, como pressão do turbo e do combustível.
Quando apareceu nas páginas da European Car Magazine há alguns meses, o Audi Quattro tinha 594 cv e 73,3 mkgf de torque — nas rodas. Mais recentemente, Iroz Motorsport postou um vídeo do carro no dinamômetro em seu canal no YouTube, e o carro aparentemente está ainda mais forte, com 650 cv e 84,6 mkgf de torque nas rodas — moderados por um câmbio de seis marchas feito pela Iroz usando componentes do Audi RS4 B5 (fabricado entre 2000 e 2001).
Como potência não é tudo, o carro também precisa de chão — e este fica por conta da suspensão do tipo coilover com amortecedores Koni e geometria trabalhada sob medida. As rodas Enkei PF01 de 17×8 polegadas são calçadas por pneus Continental ExtremeContact de medidas 225/45, enquanto os freios são “híbridos” — na frente, usam discos de 330mm mordidos por pinças de Porsche 911 Turbo 996, enquanto a traseira tem discos de 289mm com pinças de Audi V8.
Ao contrário do que se possa pensar, apesar de toda a mão de obra envolvida este projeto levou apenas dois meses para ficar pronto — bem a tempo de fazer sua estreia no “Battle Born Quattro“, evento organizado pelo próprio Sean que reúne todos os anos em Las Vegas entusiastas dos modelos Audi com tração integral Quattro — clássicos ou modernos, esportivos ou não. Não conseguimos pensar em um palco melhor para a estreia de um Audi Quattro tão sensacional.
[ Fotos: European Car Web. Sugestão do post por Tiago Kfouri ]