Há cerca de um ano e meio, em dezembro do ano passado, contamos aqui no FlatOut a história do roadster Honda S600, que fez 50 anos em 2014. O grande barato do carrinho era o fato de ele ser leve a ponto de um motor de moto, que deslocava apenas 600 cm³ (daí seu nome), ser suficiente para garantir toneladas de diversão ao volante. Acontece que sempre há quem ache que um pouco de potência a mais não faria mal. Este é exatamente o caso de Matt Brown, que encontrou um S600 velho e colocou nele outro motor de moto — claro, um bem mais potente que o original.
Para entender por que isto é tão bacana, precisamos relembrar um pouco sobre a história do S600, e até da própria Honda. Como já contamos aqui, a Honda foi fundada como uma fabricante de motocicletas em 1955 e, em 1959, já era a maior fabricante de motos do planeta. Diante do sucesso, Soichiro Honda percebeu que sua empresa poderia crescer fabricando carros e veículos de carga. Assim, em 1962 a marca apresentou o S360, um pequeno roadster com motor de quatro cilindros, 356 cm³ e apenas 30 cv.
O S360 era um conceito, e deu origem em outubro de 1963 ao S500, a versão de produção. Enquanto o design básico era o mesmo, o motor era maior e mais potente, com 531 cm³ e 44 cv. Era um carro leve, de apenas 680 kg, com velocidade máxima de 129 km/h. Apesar de não ser veloz, era ágil e divertido. Cerca de 1.300 unidades fabricadas foram fabricadas até 1964, quando a Honda apresentou seu sucessor, o S600.
Só os homens de negócios mais entusiastas compravam o S600
Com o S600 a Honda acertou a fórmula na mosca. O motor era, novamente, um quatro-cilindros, porém com deslocamento de 606 cm³. Seus 57 cv a 8.500 rpm permitiam que o S600 chegasse aos 140 km/h, e roadster fez ainda mais sucesso que seu antecessor, tendo cerca de 13 mil unidades produzidas até 1966 — incluindo 1.800 unidades em versão cupê.
Agora, estamos falando de um carro de mais de meio século de vida. Apesar de termos certeza de que um passeio em um S600 original é divertido, neste meio tempo os carros ficaram muito, muito mais potentes, e por isso entendemos o americano Matt Brown, que decidiu que seu S600 merecia uma bela atualizada.
Bem, na verdade ele não tinha um S600, mas uma ideia: colocar um motor de moto, potente e girador, em um carro clássico e leve. Então, em setembro de 2010, ele comprou duas coisas:
À esquerda temos o motor de uma CBR1000RR 2007. Trata-se de um quatro-cilindros em linha com bloco e cabeçote de alumínio, duplo comando de válvulas e a capacidade de girar a até 12.200 rpm. Torque não é o seu forte, claro, mas os enxutos 715 kg do S600 não seriam problema para um motor acostumado a levar a moto da Honda até os 100 km/h em 3,3 segundos (afinal, é uma superbike). À direita, um Honda S600 1964 sem motor, pronto para receber o upgrade.
Matt encontrou o carro em um fórum de entusiastas. O dono anterior havia comprado o S600 para restaurar, porém acabou desistindo no meio do caminho o colocou à venda. Apesar de judiado, com componentes da carroceria e do interior ausentes e, claro, sem motor, o carro parecia íntegro – e perfeito para se tornar um verdadeiro hot rod japonês.
Um carro com motor de moto, um motor sem moto, ambos Honda… tudo em casa, afinal de contas. Fica mais interessante ainda se pensarmos que o motor original do S600 já era um quatro-cilindros com comando duplo no cabeçote — coisa de ponta há cinco décadas. A transmissão sequencial de seis marchas da CBR1000RR também foi aproveitada e adaptada para funcionar com a embreagem a pedal e uma alavanca sequencial no assoalho usando componentes (incluindo o diferencial traseiro) BMW.
Depois de rebocar o carro até sua garagem na Califórnia, Matt começou a realizar as modificações. Primeiro, ele removeu a carroceria para verificar o estado do chassi e realizar as modificações necessárias para acompanhar o ganho de desempenho — afinal, o novo motor tem quase o triplo da potência original. A suspensão pushrod usa molas e amortecedores da Yamaha R6 na dianteira e da Yamaha R1 na traseira, que também recebeu o subchassi de um MX-5 Miata. O roadster da Mazda também cedeu os semieixos e o sistema de freios.
As rodas e pneus, obviamente, foram trocados por componentes mais contemporâneos. Não há informações sobre as medidas, mas no vídeo do Jay Leno’s Garage dá para ver que são rodas American Racing calçadas com grudentos pneus Toyo Proxes R888.
O interior, que estava deplorável, recebeu bancos concha e cintos de competição, painel de instrumentos digital aftermarket e o tanque de combustível, que foi feito sob medida e posicionado atrás dos bancos. Na verdade, Matt preferiu concentrar-se nos aspectos mecânicos e funcionais do carro. Por isso, em vez de dar um jeito na funilaria, na pintura e nos acabamentos, ele preferiu deixar tudo como estava. É quase um rat rod.
Por isso é tão incrível ver o carro na garagem de Jay Leno e compará-lo com o S600 impecável do apresentador e com os outros carros incríveis que ele tem em seu acervo (incluindo o famoso Ford Festiva SHOgun que pode ser visto ao fundo).
Mais legal ainda é ver Leno ao volante do S600 from hell, levando o motor até o limite de giro e gargalhando alto. Para impressionar o dono de uma das coleções de automóveis mais incríveis do planeta, um carro precisa ser mesmo muito divertido.