Não é raro postarmos vídeos de hillclimb por aqui, afinal poucas coisas são tão bacanas quanto um carro subindo uma montanha, derrapando de lado, com muita fumaça de pneu e ronco de motor dando conta da atmosfera. Agora, normalmente vemos carros de rali ou compactos fuçados participando de provas assim – menores e mais ágeis, eles são a escolha natural. Mas e um grande sedã europeu com tração traseira, como este Lotus Omega? Para nós, é novidade – e é fantástico!
O vídeo foi gravado em março último, durante a edição de 2015 do Bergrallye-Cup, competição de subida de montanha que acontece anualmente na cidade de Lödersdorf, no extremo sul da Áustria. É um evento regional, daqueles que reúnem todo tipo de carro, de diversas marcas e com diferentes níveis de preparação — como o Golf Rallye Mk2 aí embaixo, equipado com um motor TSI de 480 cv, que foi o mais rápido do evento, com um tempo de 1:27,72. Encarem como um bônus:
Voltando ao Omega, o carro pertence ao austríaco Thomas Weberhofer. Em uma rápida pesquisa pela Internet, descobrimos que ele trabalha em uma autorizada Opel, o que deve ter facilitado sua vida na hora de encontrar um dos 950 exemplares fabricados entre 1990 e 1992. O fato de ser um carro tão raro só torna tudo ainda mais incrível — em vez de manter o carro em um pedestal por anos, aguardando o momento certo para vendê-lo e abocanhar um belo lucro, ele o coloca para acelerar e aproveitar toda a sua capacidade no asfalto. A propósito, seu melhor tempo no Bergrallye-Cup 2015 foi de 1:40,20, o que lhe garantiu a 28ª colocação. Mas o importante para a gente aqui é a diversão ao volante, e este cara deve ter se divertido demais. Eis aqui outro vídeo com o carro, gravado no ano passado.
Para refrescar um pouco sua memória, o Lotus Omega existe porque, em 1986, a General Motors comprou a companhia fundada por Colin Chapman. Além do Lotus Elan, roadster de tração dianteira desenvolvido em conjunto pelas duas empresas, a General Motors aproveitou para transformar o Omega em um carro capaz de enfrentar, em pé de igualdade, os super sedãs europeus – em especial o BMW M5.
Usando como base o seis-em-linha de três litros da Opel (bem parecido com o motor dos primeiros Omega CD brasileiros, antes de ser substituído pelo 4.1 herdado do Opala), a Lotus ampliou o deslocamento para 3,6 litros e instalou dois turbocompressores Garrett T25, operando a 0,7 bar. O resultado: 382 cv a 5.200 rpm e 57,9 mkgf de torque a 4.200 rpm, suficientes para chegar aos 100 km/h em 5,2 segundos. Em comparação, o M5 da mesma época (o E34, que usava um seis-em-linha aspirado de 315 cv, levava 6,3 segundos).
Com interior luxuoso, visual que equilibrava como poucos agressividade e elegância e suspensão traseira multilink, o Lotus Omega tinha vocação para grand tourer – e, de fato, uma longa viagem por uma estrada sinuosa ao volante de um destes deveria ser o bicho. Acontece que o austríaco Thomas Weberhofer usa o seu exemplar de uma maneira um tanto diferente, como já deu para ver.
Não há detalhes a respeito da preparação, mas no onboard acima dá para ver que o interior foi depenado de maneira drástica para aliviar peso (afinal, são 1.663 kg). O lado de fora, contudo, foi mantido praticamente intacto — com exceção dos faróis, aparentemente trocados por peças de acrílico — e a suspensão, claramente mais baixa, certamente foi recalibrada para reduzir a rolagem da carroceria nas curvas. O resultado é um carro praticamente plantado no chão e com muito mais disposição para soltar a traseira.
Para os fãs mais ardorosos do Lotus Omega, talvez o que Weberhofer faz seja um sacrilégio — afinal, trata-se de um carro raro que corre o risco de ser destruído em um acidente. Esperamos que não aconteça, até porque a gente prefere encarar tudo como inspiração. Como o carro de Thomas deixa claro, o Omega pode ser uma bela base para um carro de pisa. Adoraríamos ver algo nestes moldes feito em um Omega brasileiro — ficaria matador, mesmo sem o pedigree e a pimenta da Lotus.
[ Sugestão de Matheus Nolli ]