Nós não conhecemos Mike Smith, mas não tem problema: você não precisa saber quem é uma pessoa para apreciar suas obras e, no caso de Mike, estamos falando de um Mazda MX-5 com motor rotativo Wankel. É algo que todo entusiasta já deve ter imaginado como seria, mas nunca aconteceu.
Este era exatamente o plano de Mike, usuário do fórum Grassroots Motorsports, dedicado ao automobilismo de raiz, feito por caras que fuçam em seus carros na garagem de casa. Mike colocaria um motor 13B turbinado em seu Miata e correria com ele em subidas de montanha na Carolina do Sul, EUA. Só que ele jamais pode fazer isto.
Mike faleceu em meados de 2016, depois de lutar contra um câncer, e acabou por deixar o projeto inacabado. Em vez de ficar só lamentando, seus amigos do fórum decidiram terminar o carro, curtir com ele na pista um pouquinho e, depois, leiloá-lo. O dinheiro arrecadado seria usado para pagar a faculdade da filha de Mike. Bacana, não?
Com o trabalho em equipe, foi um projeto rápido: começou em junho de 2016 e ficou pronto em setembro.
Recomeçar um project car inacabado pode ser complicado: sem saber o que exatamente foi feito no carro (e, principalmente, como foi feito), é preciso se preparar para tudo. Felizmente, o que Mike havia feito já fornecia uma boa base: o motor original de seu Mazda Miata 1996 (um quatro-cilindros de 1,8 litro com comando duplo no cabeçote e 133 cv) e o carro já tinha um subchassi feito sob medida pelo próprio Mike.
O conjunto mecânico seria doado por um Jensen-Healey da década de 1970 que, em algum momento da sua vida, ficou um pouco menos britânico com o motor 13B turbinado e a transmissão manual de cinco marchas de um Mazda RX-7 Turbo II – versão para o mercado americano da segunda geração do RX-7, conhecida como FC. De fábrica, eram 185 cv no Wankel de dois rotores e apenas 1,3 litro de deslocamento. No caso deste motor em especial, uma preparação leve conseguiu extrair 250 cv do motor – quase o dobro da potência original do Miata – e 27,6 mkgf de torque.
Por sorte, Mike havia feito um bom subchassi, e fazer o motor caber não foi problema. No entanto, não havia espaço para o turbocompressor. Como o motor foi instalado em posição bastante recuada no cofre (a fim de melhorar a distribuição de peso e, consequentemente, o equilíbrio dinâmico do carro), um corte estratégico na parede corta-fogo deu conta do problema.
O passo seguinte foi conectar o motor ao diferencial traseiro, que ainda pertencia ao Miata e repousava sobre uma estrutura tubular feita sob medida. Para isto, foi necessário cortar um eixo cardã para deixá-lo no tamanho exato. A solução funcionou bem, mas tornou necessária a confecção de um novo sistema de escape, aproveitando parte dos coletores que já estavam no carro e moldando a tubulação para contornar o diferencial traseiro.
Depois de resolver questões complicadas como a fiação (que, como de costume, foi delegada a outra oficina para evitar dores de cabeça), era hora de completar a carroceria, que estava sem os para-lamas dianteiros, o capô e o para-choque dianteiro, e de remontar o interior.
O painel original foi substituído por uma peça em medida, feita de metal, com mostradores e comandos aftermarket, e uma gaiola de proteção homologada foi instalada com o intuito de tornar o carro apto a ir para a pista. Um banco concha de alumínio com cintos de competição foi instalado no posto do motorista. No mais, revestimentos e acabamentos nas portas foram mantidos intactos.
Depois de pronto, o carro foi levado para a pista, e todos os membros que colaboraram com mão de obra, componentes doados ou qualquer outra coisa, puderam acelerá-lo. E, com a suspensão ajustável e bem acertada escolhida pelos caras do Grassroots, o carro parece ser bem divertido de guiar. E o ronco de um Wankel é sempre o ronco de um Wankel, não é?
Apesar da tristeza pela morte de Mike, seus amigos conseguiram um final feliz para esta história: o carro foi a leilão no último dia 22 de novembro e ontem (28) foi arrematado por US$ 11 mil (cerca de R$ 37 mil em conversão direta). E mais: o novo dono disse que planejava parar de dar lances aos US$ 15 mil (R$ 50 mil) e, por isso, decidiu doar mais US$ 4 mil para completar a quantia.
É nestas horas que a gente percebe que nossa paixão por carros transcende o aspecto técnico da coisa, e pode trazer recompensas de outras formas além do simples ato de acelerar um belo carro.
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