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Car Culture

Eu e minha grande boca: as polêmicas causadas pela língua afiada de Jeremy Clarkson

Aconteceu de novo. Jeremy Clarkson aprontou mais uma. Desta vez, como vimos há alguns dias, ele foi suspenso de Top Gear por ter discutido com um dos produtores da BBC. Segundo os tabloides britânicos — que são especializados em barracos de celebridades — a discussão aconteceu porque o produtor se atrasou para o jantar, e o bate-boca acabou evoluindo para o bate-bate. Clarkson teria dado uns tapas no produtor atrasado e, diante da agressão, a BBC irá cancelar o restante da temporada — que ainda teria três episódios.

Tudo isso poderia ser considerado apenas um desvio de conduta, se não fosse a lista de antecedentes de Jeremy, que não controla sua língua e acaba sempre causando a fúria de algum grupo social — e até mesmo de nações inteiras. Caso você não lembre, nós separamos algumas polêmicas causadas por Jeremy Clarkson e sua grande boca.

 

Alemães vs. Jeremy Clarkson

Você sabe, o Reino Unido e seus aliados derrotaram o sr. Hilter e a Alemanha na Segunda Guerra. Isso foi há exatos 70 anos, mas os britânicos adoram fazer piada com alemães até hoje. John Cleese fez isso sua vida inteira — primeiro com o Monty Python e depois em “Um Peixe Chamado Wanda”.

Jeremy Clarkson causou a ira dos alemães duas vezes nos últimos 13 anos de Top Gear. A primeira vez foi na sétima temporada, quando ele propõe construir um carro quintessencialmente alemão “com setas tipo bananinha que imitam a saudação nazista e um navegador GPS que só aponta para a Polônia. Na 13ª  temporada, Clarkson volta a provocar os alemães quando ele e James May se propõem a fazer “comerciais mais atraentes” para o Volkswagen Scirocco a diesel usando o slogan “De Berlim a Varsóvia com um tanque”. Os alemães são traumatizados pela culpa do holocausto e, previsivelmente, acabaram ofendidos.

 

‘Merican rednecks vs. Top Gear

Durante a primeira viagem do trio aos EUA — pelos estados do Sul que formam o chamado “Bible Belt” por sua cultura conservadora e religiosa — os três apresentadores tiveram que pintaram os carros para atrair o máximo de atenção das pessoas. Só que eles fizeram isso usando slogans nada ortodoxos para aquela religião: “Hillary for President”, “Man-love rules OK” e “NASCAR sucks”. Resultado: a van da produção acabou apedrejada.

 

Se dirigir não beba, mas se for navegar…

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Em sua expedição ao Polo Norte, Jeremy e James estão dirigindo sobre o mar congelado a uma temperatura abaixo dos 40 graus negativos. A certa altura, James May sugere que se aqueçam sacando uma garrafa de gim e uma lata de água tônica — o famoso gin and tonic que os ingleses adoram. Depois de preparar duas doses, os apresentadores seguem a viagem bebendo e dirigindo.

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É claro que milhões de pessoas acharam um absurdo que eles bebessem gim ao volante de um carro e a BBC acabou inundada de reclamações. Em sua defesa, Jeremy Clarkson disse o óbvio: não havia trânsito algum e ainda tirou um argumento tão lógico quanto sarcástico: como estavam dirigindo sobre o mar congelado, eles não estavam dirigindo, e sim navegando. E como eram águas internacionais, não há lei que impeça alguém beber naquela situação.

 

Clarkson e os caminhoneiros assassinos

No desafio de caminhões baratos da 12ª temporada, Jeremy aparece dirigindo um caminhão e começa a descrever a “rotina” de um caminhoneiro: “trocar de marcha, trocar de marcha, conferir o espelho, assassinar uma prostituta, mudar de marcha, mudar de marcha, assassinar. Muito trabalho em um dia só”.

Para muitos, Jeremy estereotipou os caminhoneiros como assassinos de prostitutas — foram 517 reclamações diretamente à BBC, além de uma carta aberta do sindicato dos motoristas de transporte rodoviário da Inglaterra. A BBC respondeu dizendo que trata-se apenas de “uma referência cômica e exagerada de uma lenda urbana” — que na verdade é a história do Estripador de Yorkshire, um serial killer que matou 13 mulheres nos anos 1970.

 

Clarkson vs. Piers Morgan

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A rivalidade com o jornalista Piers Morgan começou em 2000 quando Morgan, então editor do Daily Mirror, publicou fotos comprometedoras de Clarkson com a produtora Elaine Bedell. Em 2003, durante o último voo do Concorde, Jeremy fez uma ameaça e despejou um copo d’água em Morgan.

No ano seguinte, Clarkson acertou um soco no rosto de Morgan durante uma premiação da imprensa britânica. Até hoje ambos continuam trocando farpas pelo Twitter.

 

Romênia vs. Clarkson

Países subdesenvolvidos são presa fácil para o humor ácido de Clarkson. No episódio da viagem a Romênia com três grand tourers, Jeremy chama a zona rural do país de “a terra do Borat com playboys russos e ciganos”, faz várias piadas com o comunismo (a Romênia foi governada pelo ditador comunista Ceaucescu entre 1967 e 1989) e completa dizendo que “ciganos podem te arrebentar se não forem com a sua cara. Resultado: o embaixador romeno no Reino Unido formalizou uma nota de repúdio à BBC e o Daily Telegraph teve seu site invadido por hackers romenos.

 

México vs. Top Gear

Certa vez, ao falar do esportivo Mastretta MXT, o trio de apresentadores iniciou uma série de piadas baseadas em estereótipos mexicanos. James May disse que o carro deveria se chamar “Tortilla” e que a comida mexicana se parece com “vômito frito”. Richard Hammond aproveitou o embalo e perguntou “por que alguém iria querer um carro mexicano? Pois carros refletem as características nacionais e um carro mexicanos teria um bigode, seria preguiçoso, flatulento, e estaria dormindo encostado em uma cerca, perto de um cacto e vestindo um cobertor com um furo no meio e um chapéu”. Para arrematar, Clarkson disse que desta vez a BBC não receberia reclamações, pois o embaixador mexicano estaria na poltrona dormindo com o controle remoto na mão. Na verdade ele não estava dormindo e mandou uma carta para a BBC.

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A emissora respondeu dizendo que piadas com estereótipos nacionais são parte do humor britânico, e na temporada seguinte Richard Hammond foi até o México fazer um review do Mastretta.

 

Tesla vs. Clarkson

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Na 12ª temporada Jeremy Clarkson testou o promissor Tesla Roadster e mostrou o carro sendo empurrado pela equipe com as baterias descarregadas depois de 88,5 km. Segundo Clarkson, a recarga demoraria 16 horas. Com o carro recarregado, ele voltou a gravar, porém o carro teve uma pane no sistema de freios e o quadro é encerrado com a narração de Clarkson dizendo como o carro é incrível, mas “é uma pena que ele não funcione no mundo real”.

Elon Musk, CEO da Tesla, alegou que isso foi armação e prejudicou a imagem do carro, abrindo um processo contra o programa. A produção se defendeu dizendo que aquilo foi uma representação do que poderia acontecer. A Tesla mais tarde declarou que as baterias nunca chegaram a ficar com menos de 20% da carga e por isso nenhum carro precisaria ser empurrado de volta à garagem, que a recarga durou 3,5 horas e que a falha nos freios foi somente um fusível queimado.

 

Gays vs. Clarkson

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Após o teste do Daihatsu Copen — um roadster minúsculo que Clarkson achou bem interessante — os apresentadores começam a discutir com os espectadores o que eles acharam do carro. Um homem da plateia descreveu o carro como “um pouco gay” e Clarkson respondeu “um pouco gay, sim. Muito ‘ginger beer'”.

Ginger Beer é uma rima de gíria “Cockney” (que substitui a palavra que se quer dizer por outra com o mesmo som, como o nosso “vá tomate cru”) para “queer” — ou “bicha”, em bom português. É mais ou menos como dizer “muito gay, carro de peixona”. Em tempos de discussões acaloradas sobre homofobia, a BBC condenou publicamente a citação de Clarkson.

 

Deficientes vs. Top Gear

O papo começa a partir de 2:20

No fim de 2006, Richard Hammond estava acelerando um dragster top fuel a mais de 400 km/h quando um dos pneus dianteiros estourou, causando um terrível acidente que o deixou em coma por três meses. Na temporada seguinte, no primeiro semestre de 2007, Hammond foi recebido com piadas de seus colegas. Jeremy perguntou se ele agora era um “deficiente mental”, e James May ofereceu lenços de papel caso Hammond começasse a babar.

Foi suficiente para que centenas de pessoas condenassem a BBC e o programa por debochar da condição de possíveis espectadores com sequelas decorrentes de lesões na cabeça. A emissora teve que publicar um pedido de desculpas. Mais uma vez.

 

Sindicatos vs. Jeremy Clarkson

Em 2011 os servidores públicos do Reino Unido entraram em greve com uma adesão enorme para protestar contra medidas “austeras” que incluíam reformas na aposentadoria, para controlar a dívida pública do governo britânico. As greves, contudo, foram mal vistas pelo público e figuras públicas. As escolas públicas ficaram sem aulas e os serviços de emergência só atendiam ocorrências com risco de morte.

E o que Jeremy Clarkson achava desses grevistas? “Eu daria um tiro neles. Os tiraria de casa e os executaria em frente às suas famílias. Como eles ousam entrar em greve quando têm todas essas garantias, aposentadorias e estabilidade de emprego enquanto todos nós precisamos trabalhar para viver”. 

 

Clarkson racista?

Em maio de 2014 o tablóide britânico Daily Mirror estampou na capa de sua edição diária uma manchete na qual acusava o apresentador de Top Gear, Jeremy Clarkson, de usar o termo “nigger (algo como “crioulo”) em uma rima do tipo “uni-duni-te” durante uma gravação sobre os gêmeos Toyota GT 86 e Subaru BRZ. Clarkson de fato fez a rima, que em inglês é “eenie meenie miney mo“,  e pode ser pejorativamente combinada com “get a nigger by its toe” (pegue o crioulo pelo dedão), embora Clarkson tenha omitido a ofensa murmurando qualquer outra palavra.

O apresentador obviamente se defendeu, dizendo que o tablóide “foi longe demais desta vez” e mais tarde publicou uma declaração em vídeo dizendo que fez de tudo para evitar que a cena gravada pudesse ser entendida com a rima ofensiva. Além de Clarkson, seus colegas James May e Richard Hammond também publicaram declarações em defesa do apresentador, dizendo que “ele pode ter vários defeitos, mas certamente não é racista”. O episódio acabou considerado  até mesmo críticos de Clarkson como “uma tentativa desesperada do Mirror em ganhar audiência em um dia ruim”.

 

Don’t beat on me Argentina

Para seu especial de fim de ano de 2014, o pessoal do Top Gear planejou uma aventura na Argentina. Eles pretendiam ir de Bariloche a Ushuaia, a cidade mais austral do planeta, dirigindo três esportivos usados. Richard Hammond, que tem tendências americanas, comprou um Mustang Mach I, James May descolou um Lotus Esprit V8 e Jeremy Clarkson comprou um Porsche 928 GT.

Só que no meio das gravações, o trio de apresentadores e toda a equipe tiveram que fugir do país depois de serem hostilizados por parte da população, que os atacou com pedras, paus e tijolos. O problema que causou todo o incidente foi a combinação alfanumérica das placas britânicas do Porsche: H982 FKL. À primeira vista parece uma combinação aleatória, mas os argentinos — ou talvez os tablóides britânicos — enxergaram uma referência à Guerra das Malvinas, que foi travada entre Reino Unido e Argentina em 1982. A história toda foi contada neste post e Jeremy jura que não foi de propósito.