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Carros Antigos

Eu fui a um leilão de carros clássicos no Brasil e…

Há algumas semanas falamos sobre os famigerados carros de leilão, cada vez mais presentes no mercado de usados — por uma série de razões que também discorremos naquela matéria. Uma das modalidades de leilão que se tornaram comuns nos últimos anos, foram os leilões de carros clássicos.

Em 2017 acompanhamos um destes pela primeira vez e, desde então, eles se tornaram mais frequentes, sendo realizados quase que de forma permanente todos os anos, em um formato inspirado pelos grandes leilões de clássicos do exterior, como aqueles que vemos em Pebble Beach, Amelia Island ou Villa d’Este.

É claro que você não verá carros raríssimos ou tão valiosos quanto estes — afinal, estamos falando da elite do antigomobilismo mundial e também estamos no Brasil —, mas muita coisa especial já passou por esse tipo de leilão. Em 2017, por exemplo, vimos um Mustang Mach I com pacote Drag Pack e motor Super Cobra Jet — um carro raro mesmo nos EUA, com apenas 142 unidades produzidas. Em 2018, um raro exemplar do Mercedes W18 Typ 290 L Cabriolet B, de 1936, passou pelo leilão de clássicos de Araxá — foram feitos 3.566 unidades desse modelo, com chassi curto. Isso sem contar outros clássicos americanos como o Corvette C1, Chevrolet Bel Air e Impala.

Passados mais de cinco anos desde que os leilões de clássicos começaram a acontecer regularmente, fomos acompanhar um deles a convite do Circuito de Leilões — que organiza os leilões juntamente com um leiloeiro oficial (atualmente Picelli Leilões) — para ver como o cenário dos leilões de clássicos mudou nesse tempo.

Cheguei ao local já no segundo dia do leilão e esta é a primeira grande diferença: a procura por esse tipo de venda cresceu a ponto de o evento ser dividido em dois dias. Naquele primeiro leilão que acompanhamos, em 2017, foram oferecidos 60 carros, dos quais 20 foram arrematados e outros sete que ficaram em condicional acabaram vendidos mais tarde — ou seja: receberam lances que não atingiram o valor de reserva, porém o vendedor se dispôs a negociar um novo valor.

E ainda chegando ao estacionamento do local do leilão — o Shopping Parque da Cidade, em São Paulo/SP — me deparei com praticamente todos os 128 modelos que foram inscritos para a venda no leilão. Antecipando o final, destes 128 lotes, 40 foram vendidos no ato e 80 ficaram em condicional — destes, cerca de metade acabaram trocando de mãos após o leilão. É uma diferença substancial, que mostra como o sistema de leilões se tornou mais uma opção para encontrar um novo carro antigo.

Como disse mais acima, é claro que não são 128 carros dignos de um concurso de elegância — nenhum mercado de clássicos no mundo tem volume para isso. O modelo de leilão de carros antigos que vemos no Brasil se assemelha mais àquele que vimos em programas como Jóias Sobre Rodas, com carros variados de diversas épocas, em diferentes condições, para diversos gostos e bolsos.

Um dos carros que mais me interessou foi um Mercedes 260E W124 vermelho, com os cromados e frisos pintados de preto e rodas Monoblock de 18 polegadas. O carro estava com valor inicial baixo e era, declaradamente, um projeto iniciado que acabou vendido para ser finalizado.

Havia também um… curioso, digamos… projeto artesanal baseado em um Peugeot 406 Coupé. Esse cara aí abaixo, que tem uma carroceria autoral de fibra de vidro, com detalhe lateral de fibra de carbono. Não é meu tipo de carro, mas foi no leilão que ele encontrou seu novo proprietário. Como disse antes: há carros para todos os gostos e bolsos. E isso pôde ser visto mesmo nos destaques deste leilão.

Um deles foi este Dodge Challenger 1970, que acabou arrematado por R$ 395.000. O valor, por incrível que pareça, é baixo para um Challenger desta primeira geração — lá fora a média está nos US$ 95.000 a US$ 100.000 pelos modelos regulares. A explicação é que ele, apesar do bom estado de conservação, não está 100% original — seu motor é um 390 injetado e suas rodas são aftermarket.

Por cerca de 1/3 desse valor foi arrematado um Ford Maverick SL quatro portas 1974 que passou os últimos 32 anos na mesma coleção e teve apenas dois proprietários, marcando menos de 125.000 km no odômetro. É um carro completamente original, sem restauração alguma e que ilustrou o livro do Maverick, publicado pela Editora Alaúde. Foi arrematado por R$ 128.000.

Ainda mais barato foi um Tempra Ouro 16v 1994/95 vermelho que tem como principal diferencial o grupo 5 de opcionais, que incluía ar-condicionado digital, bancos dianteiros com ajuste elétrico, retrovisor interno eletrocrômico e sistema de áudio Alpine. É um pacote raro e que, por isso, rendeu uma boa disputa pelo carro, que começou nos R$ 8.500 e escalou até os R$ 25.000 pelos quais foi arrematado.

Da mesma época havia um raro Alfa Romeo 164 1990/1991, conhecido popularmente como “Prima Serie” por se tratar da primeira fase do modelo, vendida entre 1990 e 1993. Estima-se que foram trazidos menos de 10 unidades pela Fiat e esta é uma delas, com o motor 3.0 V6 de 12 válvulas e câmbio manual de cinco marchas. Este foi vendido por R$ 42.000.

Outro exemplar raro por aqui e que estava em boas condições foi este Golf Cabriolet 1997. A Volkswagen trouxe 45 destes para o Brasil e este exemplar, apesar de não ter atingido o valor de reserva, foi arrematado em negociação privada após o leilão.

Carros com potencial de valorização também acabam entrando no jogo: este Porsche 911 997 2007/08 com 18.000 km se destaca por ter câmbio manual — algo cada vez mais raro nos esportivos. Como os 911 manuais já são mais valorizados que os automáticos/automatizados, é natural que eles acabem mais disputados — este atingiu R$ 420.000, mas não o valor de reserva e acabou negociado após o leilão.

Um leilão como este, quando se trata de carros mais mundanos, também acaba servindo de referência para os preços dos clássicos em negociações particulares pelo fato de estarem expostos ao público e terem seus preços de arremate divulgados publicamente. O contrário também ocorre: os preços de anúncios particulares — ao menos entre os carros mais mundanos — acaba servindo de referência nas disputas de lances, afinal, ninguém quer pagar caro demais.

Um exemplo é este Fusca Itamar 1995 com menos de 12.000 km. Exemplares com esse nível de originalidade e baixa quilometragem, já vinham sendo anunciados por entre R$ 45.000 e R$ 60.000 há algum tempo e foi nesta faixa que ele acabou arrematado: R$ 59.000 após 10 lances que se iniciaram nos R$ 47.000, apesar do valor inicial ser de R$ 28.000.

Por último, um leilão destes também é relevante para quem pretende comprar um carro antigo com potencial de ganho futuro. Você sabe… comprar um antigo para se divertir, mas com a possibilidade de ganhar um dinheiro com a valorização em alguns anos. Isso, porque os leilões são obrigatoriamente públicos, e acabam gerando um histórico de preços de curto prazo que permite acompanhar a variação dos valores de um determinado modelo.

Mas este é um papo para uma próxima matéria, na qual traremos alguns modelos que você deveria comprar antes que valorizem.