Bruce Wayne é mais um super-herói com passado obscuro, uma identidade secreta e um parceiro leal. Mas, diferentemente da maioria, seus superpoderes não vêm de mutações, experimentos científicos ou de outros planetas. Eles vêm da sua inteligência, coragem e… dos seus gadgets. E o Batmóvel é o mais ilustre deles. Com a recente revelação do Batmóvel de Ben Affleck para o reboot da franquia no cinema, achamos que esta é uma boa hora para revisitar a história do carro do Batman na TV e nos filmes.
Nos quadrinhos
Desde que apareceu pela primeira vez, na edição #27 da revista Detective Comics, publicada em maio de 1939, Batman dirigia carros de alto desempenho (condizentes com a época, claro). Mas só em 1941 o termo “Batmóvel” (Batmobile) foi usado pela primeira vez. No começo, o Batmóvel não era uma base de operações móvel como em algumas encarnações mais tarde — era simplesmente o carro do Batman
E o Batman dirigia um conversível vermelho baseado no Cord 810/812, produzido em 1936 e 1937. O modelo foi um carro bastante inovador em sua época por sua configuração mecânica e pelo design. Movido por um motor V8 com compressor mecânico, ele foi o primeiro carro de tração dianteira a usar suspensão dianteira independente, e o primeiro carro com faróis escamoteáveis da história. Sim: Ferrari F40, Lamborghini Countach e todo Corvette produzido entre 1963 e 2004 devem parte do seu charme ao Cord.
Não demorou para que o Homem Morcego ganhasse popularidade, primeiro em histórias diárias em jornais, e pouco tempo depois, em uma publicação exclusiva. Naturalmente Batmóvel também foi conquistando seu espaço no coração dos fãs e, nos primeiros anos, ganhou várias versões — alguns projetos próprios e outros baseados em modelos da vida real. Como, por exemplo, o Batmóvel Studebaker que o herói usou em por quase toda a década de 40, o Cadillac no início da década de 50, que depois deu lugar a um Chrysler 300, e até um Porsche 356, que serviu de base para o Batmóvel a partir de 1964.
Existiram dezenas de Batamóveis nos quadrinhos, com literalmente centenas de pequenas alterações de número a número. O Batman já dirigiu, também, um Jaguar E-Type, um Ford Mustang, várias gerações do Chevrolet Corvette, um Dodge Viper, um TVR Speed 12 e até um Mercedes-Benz CLK GTR! O site Batmobile History conta a história detalhada de boa parte dos Batmóveis dos quadrinhos.
Mas foi na TV e no cinema que o Batmóvel ultrapassou as barreiras dos fãs de HQ e se tornou um ícone da cultura pop.
O primeiro live-action
Pouco depois de ganhar sua publicação “solo”, Batman estreou na TV. Era 1943 e, naturalmente, o Batmóvel se fazia presente. Assim como nos primeiros quadrinhos, ele era mais um meio de transporte do que uma arma motorizada.
Era o mesmo carro que Bruce Wayne usava no dia-a-dia — talvez porque o orçamento da série semanal não fosse dos maiores. Quando o Cadillac 1939 aparecia com a capota abaixada, significava que era Wayne quem estava ao volante. Com a capota levantanda, Batman combatia o crime.
O clássico dos clássicos
Entrei na feira da fruta…
Ah, o Batman dos anos 60… a série estrelada por Adam West (Batman) e Burt Ward (Robin) é a primeira lembrança que muitas pessoas têm do Homem-Morcego — e ela é bem diferente da imagem de Cavaleiro das Trevas que o herói adquiriu com o passar dos anos. Batman e Robin formavam uma dupla mais bem-humorada, combatiam crimes em Gotham City e aconselhavam as crianças a usar o cinto de segurança, a fazer o dever de casa e a beber leite.
Um dos grandes destaques da série era o Batmóvel, equipado com computador de bordo, radar, telefone (com videoconferência! #chupaApple #chupaSkype), sirene de polícia, lança foguetes e um motor a turbina atômica. O ele era baseado em um conceito da Lincoln chamado Futura, e seu visual merece algumas palavras à parte.
Este é o Lincoln Futura, um conceito construído totalmente à mão pelo estúdio Ghia em Turim em 1955, sob encomenda da Ford, para o circuito de salões de automóveis. O carro introduziu certas tendências de design para os modelos da Lincoln nos anos seguintes mas, como era o destino de muitos conceitos naquela época, teria sido abandonado ou destruído se a Ford não o tivesse vendido ao customizador de carros George Barris pela quantia simbólica de US$ 1. Pois é… nunca acontece com a gente.
Como o carro não podia ser documentado, ficou estacionado atrás da oficina de Barris, até que ele foi contratado pela a 20th Century Fox para criar o novo Batmóvel. Barris achou que o Futura era o carro perfeito, com seus faróis proeminentes, canopi transparente duplo e “rabo de peixe” na traseira. Usando metal — nada de fibra — Barris deu ao carro proporções mais cartunescas, o acabamento preto com detalhes vermelhos e toda a identidade do Batmóvel mais famoso de todos.
Trilogia original
A trilogia iniciada em 1989, dirigida pelo consagrado Tim Burton, está a um passo de se tornar cult — o primeiro filme, “Batman”, foi feito cum um orçamento de US$ 48 milhões e arrecadou quase 10 vezes esta quantia, além de receber vários prêmios e consagrar Jack Nicholson no papel do Coringa. E, se o Batmóvel dos anos 60 é o mais popular, o carro da primeira trilogia é, certamente, o mais fodástico (na opinião deste que vos escreve, inclusive).
O carro foi projetado por Anton Furst, que decidiu que sua criação teria um visual robusto, mas com elementos clássicos. Sendo assim, o carro tem um longo capô com uma entrada de ar em forma de turbina e para-lamas dianteiros que lembram mandíbulas. A traseira é influenciada por carros da década de 30, com para-lamas proeminentes e duas barbatanas, enquanto o lado de dentro trazia inspiração aeronáutica. O carro foi construído usando dois chassis de Chevrolet Impala soldados, e era movido por um V8 Chevrolet. Alguns podem até dizer que, de frente, ele lembra um Corvette…
A oferta de “itens de série” era generosa: bombas esféricas, um par de metralhadoras, lançadores de discos, um par de “golpeadores” que saíam de trás dos para-lamas dianteiros, arpões, um “pé” central capaz de erguer o carro e girar a 180°, blindagem leve e pesada. Também trazia aparatos para dificultar a captura, como emissores de fumaça, um dispenser de óleo (deixando o asfalto atrás dele escorregadio) e um modo “batmíssil”, que fazia com que os para-lamas se soltassem e as rodas se posicionassem mais para o centro, reduzindo a largura do carro pela metade e possibilitando a fuga por passagens estreitas. O carro foi usado na sequência, “Batman: O Retorno” (Batman Returns, 1992).
“Batman Eternamente” (Batman Forever, 1995) deveria ter sido o último da trilogia. Desta vez, Tim Burton foi o produtor, e a direção ficou a cargo de Joel Schumacher. O Batmóvel mudou bastante — embora tivesse as mesmas proporções, a designer Barbara Ling buscou inspiração nos trabalhos de H.R. Giger para criar um carro orgânico, que parecia ter costelas e asas, e também tinha um V8 Chevrolet debaixo do capô.
Houve, ainda, um quarto filme, e é de consenso geral que “Batman e Robin”, lançado em 1997, jamais deveria ter saído do papel. Na verdade, ele e o filme anterior mostraram uma queda de qualidade bem grande em relação aos filmes dirigidos por Tim Burton. Independente disso, o Batmóvel de 1997 era maior — tinha nove metros de comprimeito e era inspirado no Jaguar D-Type e no Delahaye 165. Desta vez era construído sobre um chassi de carro de corrida da NASCAR, enquanto o motor continuava sendo um V8 Chevrolet.
O Cavaleiro das Trevas
Em 2005, Christian Bale se transformou no novo Batman para o início da trilogia. Batman Begins foi dirigido por Christopher Nolan, que também ajudou o designer Nathan Crowley a projetar o novo Batmóvel — que, de carro, tem muito pouco. Conhecido como Tumbler, o veículo se encaixa perfeitamente no universo mais obscuro da nova trilogia.
O tradicional V8 Chevrolet entrega 400 cv, o suficiente para levar o monstro de 2,5 toneladas aos 100 km/h na casa dos seis segundos. Blindagem pesada e gigantescos pneus Hoosier de 44 polegadas (!) complementam o visual inspirado nos veículos militares e nos carros da Lamborghini (acredite se quiser).
Os recursos incluem controle remoto, a capacidade de dar saltos de até 20 metros de distância sem dano algum ao sistema de suspensão e até mesmo a capacidade de se transformar em uma “moto”, o Batpod, composto pelas rodas traseiras, pelo sistema de suspensão, com uma estrutura de aço e carenagem de fibra de carbono. E, claro, duas metralhadoras. O Tumbler reapareceu nos dois filmes seguintes da trilogia: The Dark Knight (“Batman: o Cavaleiro das Trevas”, 2008) e The Dark Knight Rises (“Batman: o Cavaleiro das Trevas Ressurge”, 2012).
O novo Batmóvel
Ben Affleck (a essa altura todo mundo já superou, não é?) vai dirigir um Batmóvel que reúne elementos do Tumbler com inspiração no Batmóvel dos filmes dirigidos por Tim Burton no novo reboot da franquia, segundo as imagens liberadas pelo diretor Zac Snyder. Mas só saberemos mesmo como o carro será quando Batman vs. Superman estrear, em 2016.
Até lá, nos diga: qual é seu Batmóvel favorito?