Os comediantes britânicos do Monty Python nos ensinaram há quase 40 anos que a influência e o legado do Império Romano são subestimados desde os tempos em que Roma ainda dominava o planeta. Hoje sua presença é mais notada no Direito, fundamentado em boa parte no direito romano. Mas a influência romana é muito mais abrangente do que costumamos imaginar. Um bom exemplo disso está na forma com a qual contamos o tempo. Foi o imperador Júlio César quem instituiu o ano de 365 dias e a divisão do ano em 12 meses quando criou um novo calendário, mais adequado às estações do ano e às fases da lua.
Outro exemplo está em nosso próprio idioma, que nasceu de uma derivação do latim vulgar levado à Península Ibérica pelos soldados, mercadores e colonos. Mas nada disso seria possível se não fosse uma outra criação romana que também foi muito além da mera influência e persiste até hoje: o sistema de transporte do Império Romano.
Não se levanta um império que se espalha por três continentes e um décimo da circunferência da Terra sem um sistema eficiente de transporte, seja ele para conquistar novos territórios ou para manter o domínio sobre eles. As estradas romanas são o lado mais conhecido deste sistema de transporte — especialmente porque foi a primeira vez que um poder instituído adotou o planejamento viário como “política nacional”, digamos —, mas ele não se limita às famosas viae romanae: o sistema também tinha rotas marítimas e fluviais, e as estradas eram construídas levando em consideração tais rotas.
Na verdade, diferentemente das estradas pré-romanas e medievais, o objetivo das vias romanas não era apenas ligar o ponto A ao ponto B, mas criar uma rede de estradas interligadas que cobrissem o território romano da forma mais abrangente possível para, desta forma, trazer a eficiência no transporte. Já ouviu a velha expressão que fala “todos os caminhos levam a Roma”? Pois é exatamente isso.
Ao longo de seus 500 anos o Império Romano se estendeu por 4.400.000 km² e dominou praticamente toda a Europa e Grã-Bretanha, Norte da África e Turquia. Foram fundadas mais de 500 colônias por todo este vasto território — cidades como Frankfurt e Stuttgart (Alemanha), Coimbra e Braga (Portugal), Estrasburgo e Paris (França), Londres e Cambridge (Reino Unido), Budapeste (Hungria), Viena (Áustria), Zurique e Basileia (Suíça), Tânger (Marrocos) e Antália (Turquia) foram todas nascidas das colônias romanas.
Para interligar lugares tão distantes foram construídos mais de 400.000 km de estradas — dos quais 80.500 km eram pavimentados de um jeito que nem a prefeitura da sua cidade faria em 2018 (veja abaixo). Algumas existem até hoje, caso da Strada Statale 7 da Itália, que liga Roma a Brindisi, e usa parte da Via Appia; da Strada Statale 9, que liga Rimini a Milão, que usa parte da Via Aemilia; e a Route Nationale 7, entre Nice e Lyon passando por Paris, que é praticamente toda feita sobre a antiga Via Agrippa.
Mas, voltando à eficiência do sistema romano, graça a ele era possível sair de Roma e chegar a qualquer ponto do Império (a mais ou menos 4.000 km de distância) em, no máximo, 45 dias. Parece muito hoje, quando conseguimos chegar à lua em um quarto deste tempo. Mas era impressionante em uma época na qual o meio de transporte mais rápido era o trote de um cavalo.
Não parece impressionante? Pois dê uma olhada neste “waze” do Império Romano que encontrei no site Rodínia, do camarada Ubiratan Leal (da ESPN e Desimpedidos). É só clicar na imagem abaixo.
O mapa chama-se “Orbis”, e foi criado por um grupo de professores e pesquisadores da Universidade de Stanford. O projeto mapeou mais de 80.000 km das vias romanas, 28.300 km de vias fluviais e 1.026 rotas marítimas do sistema de transporte do Império Romano. O mapeamento do Império Romano não é novidade, mas pela primeira vez podemos interagir com as rotas, selecionando o local de origem e o local de destino para encontrar a rota mais rápida em cada uma das estações do ano (afinal, inverno e verão eram mais severos para os turistas e soldados romanos) em 14 modalidades diferentes.
Sim: havia 14 modalidades diferente de viagem no Império Romano. Desde carro de boi até o cavalgada, passando por carro de mula, camelo, marcha militar sem bagagem, carruagem e caminhada. Você só precisa escolher qual delas usaria para viajar se fosse um cidadão romano e clicar em “calcular”. O resultado aparece no rodapé da página, com o tempo em dias e a distância em quilômetros. Também é possível calcular a rota mais curta e a mais barata baseada em dinheiro da época.