Talvez como reflexo das transformações que os carros vêm sofrendo nos últimos anos, com a adoção cada vez maior de motores elétricos, conjuntos híbridos e sistemas autônomos, as fabricantes estão dando mais destaque à sua história e a seus modelos clássicos. Seja por meio de exposições, restaurações de fábrica conceitos retrô; seja através de programas de restauração personalizados, que cobram caro pelo trabalho de trazer carros antigos de volta à sua forma original – ou deixá-los até melhores – com mão de obra altamente especializada.
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Neste espírito, a Fiat Chrysler Automobiles inaugurou, no último dia 2 de abril o FCA Heritage Hub, um espaço que mistura museu e oficina e é dedicado à memória de quatro marcas italianas do grupo – Alfa Romeo, Fiat, Lancia e divisão esportiva Abarth. Embora a letra “C” não tenha sido suprimida, você não vai encontrar nada da Chrysler no local. O que faz todo o sentido, concorda?
A locação em si já é uma atração à parte, e transpira a heritage da gigante italiana: trata-se de um antigo prédio do complexo fabril da Fiat em Mirafiori, Turim, até então conhecido como Officina 81.
Em um processo iniciado em 2016, o galpão de 15.000 m² foi todo restaurado e reconfigurado para receber as novas instalações, que a FCA define como uma mistura de local de trabalho e área de lazer: há um espaço dedicado à venda de carros clássicos restaurados pela divisão Reloaded by Creators (algo como “Recriados pelos Criadores”, em tradução livre), e o restante do estabelecimento abriga um acervo de 258 carros, entre clássicos, conceitos e bólidos de competição emblemáticos das marcas citadas.
Os carros expostos abrangem um século de história, de 1908 a 2008, e são divididos em “categorias”, cada uma dedicada a um tipo de carro – clássicos de luxo, conceitos e personalizações, carros verdes e ecológicos, carros de corrida e recordistas, carros de rali e modelos cujo desenho mostrou-se influente na indústria, por exemplo.
Alguns destes carros jamais foram expostos ao público, enquanto outros são verdadeiros ícones que os visitantes terão a oportunidade de conferir de perto. É um conceito bastante simples, na verdade – um grande museu com uma loja de carros antigos embutida. Mas é tudo muito bem executado, e certamente seria preciso mais que um dia inteiro para conferir todos eles.
A notícia ruim é que nem todos nós podemos ir à Itália para ver este museu de perto. A notícia boa é que a FCA soltou uma galeria de mais de 40 fotos do Heritage Hub, mostrando quase todos eles. Vamos dar um passeio – e comentar os carros mais interessantes. Andiamo?
Nos chamou a atenção logo de cara este protótipo da Lancia. Trata-se do ECV2, conceito que previa o carro de competição da marca para o Grupo S, categoria sucessora do mítico Grupo B que acabou cancelada pel organização do WRC. O motor era um quatro-cilindros de 1,8 litro que entregava 600 cv com a ajuda de dois turbocompressores.
Este simpático compacto é o Fiat X1/23, conceito apresentado no Salão de Turim de 1972 que propunha um city car elétrico décadas antes de a ideia se tornar viável. Com apenas dois lugares e até mesmo uma versão primitiva do sistema de frenagem regenarativa (KERS), o X1/23 provavelmente foi uma vítima da falta de infra-estrutura. Não duvidamos que a Fiat possa revisitar esta ideia em um futuro próximo.
Ao centro, apenas um dos vários protótipos aerodinâmicos que a Abarth desenvolveu em parceria com a Fiat na virada dos anos 1960. No caso, o Abarth “500 Record”, com carroceria Pininfarina e mecânica do Fiat 500. Ao fundo, uma bela seleção de Lancia, incluindo o Stratos e três versões do Fulvia (Zagato, Coupé e sedã).
Falando no 500: em primeiro plano podemos ver o 500 Topolino, fabricado entre 1936 e 1955. O precursor do 500 que hoje chamamos de clássico teve mais de 520.000 unidades produzidas.
O Fiat S.61 Corsa, de 1908 – um dos monstros que a Fiat construiu para quebrar recordes de velocidade há mais um século. Monstro mesmo: seu motor é quatro-cilindros de DEZ litros pra entregar 130 cv, que eram um belo número na época. Este carro foi restaurado pela FCA Heritage e exposto ao público pela primeira vez no começo de 2018, e você pode ler mais a seu respeito aqui.
Em destaque, a dianteira emblemática do Lancia Delta S4 Stradale, versão de homologação daquele que, na prática, foi o carro que acabou com o Grupo B após o acidente de Henri Toivonen e Sergio Cresto em 1986.
Lado a lado, dois opostos dentro da família Fiat: o pequeno 500 e o Fiat 130, lançado em 1969. O 130 foi uma das poucas incursões da Fiat no segmento dos carros de luxo, e era equipado com um V6 de 2,8 litros e 140 cv na estreia.
Em uma área dedicada principalmente a conceitos, vemos em primeiro plano uma proposta para a volta do Lancia Fulvia Coupé. O conceito foi apresentado em 2003 no Salão de Frankfurt, e foi muito bem recebido. Contudo, já havia algum tempo que a Lancia não estava em condições financeiras de lançar um modelo de nicho. Motor e plataforma foram cedidas pelo belo Fiat Barchetta, e o conceito era movido por um motor 1.8 de 140 cv.
Em destaque, o Fiat 125 Spider Abarth de rali, ladeado pelo Lancia Stratos da equipe Alitalia à sua esquerda e pelo Lancia Fulvia Coupé que competiu antes dele.
Neste outro ângulo do estande de rali, temos o Fiat Campagnola – em essência, uma interpretação à italiana do conceito do Jeep original – que participou de uma corrida de longa duração entre a cidade de Algeri, na Itália, e a Cidade do Cabo, na África do Sul.