Há alguns anos, algumas fabricantes de automóveis que sempre foram famosas por seus superesportivos decidiram que era hora de expandir seu portifólio com carros maiores, mais práticos e luxuosos. Foi o que a Aston Martin fez com o sedã Rapide e a Porsche com Panamera, que também costuma ser chamado de sedã mas, na verdade, é um grand tourer de quatro portas.
Estamos falando isto porque a Ferrari nunca teve um modelo de quatro portas produzido em série, fosse ele um sedã, cupê ou qualquer outra coisa. O mais perto que tivemos disto, talvez, foi a 365 GT4 2+2 (e as sucessoras 400 e 412), de duas portas, que era parente próxima da Ferrari Daytona mas tinha três volumes bem definidos, além de espaço de sobra para quatro pessoas. E, é claro, um V12 na dianteira.
Mas esta história poderia ter sido diferente. No Salão do Automóvel de Turim, em 1980, a Ferrari apresentou o conceito Pinin. Projetada pelo designer italiano Diego Ottina, a Ferrari Pinin foi feita para comemorar os 50 anos do estúdio Pininfarina, com o qual a marca de Maranello mantém estreitas relações há décadas. Era uma Ferrari bem diferente do que se costumava ver na época e, na verdade, até hoje a marca não produziu nada parecido.
O desenho da Pinin, especialmente de perfil, lembra bastante a 365 GT4 2+2. A identidade visual, contudo, é bem diferente — uma grade avantajada e os faróis principais retangulares formam uma “cara” sisuda, quase britânica (oi, Aston!). Na traseira, as lanternas ficam escondidas sob uma cobertura translúcida de acrílico, e só são visíveis quando acesas. Os vidros, rentes à carroceria, dão ao conceito seu ar futurista — esta característica só começou a ser adotada pelas fabricantes no início dos anos 1990.
A semelhança com a 365 GT4 não é por acaso: a Pinin foi feita sobre sua versão reestilizada, chamada 400GT. Apesar de ser um conceito, a Pinin trazia o pacote completo de um carro de rua, ou quase: o interior era confortável e bem acabado e, ao abrir o capô, dava-se de cara com um motor flat-12. Só que era um motor falso, feito apenas para exibição, acoplado à casca de uma transmissão manual de cinco marchas.
Depois de ser apresentada em Turim, a Pinin foi exposta no Salão de Los Angeles antes de ser mostrada, pessoalmente, ao próprio Enzo Ferrari. Então, o carro foi levado para o acervo da Pininfarina, onde permaneceu até 1993. Depois, ele foi comprado por um colecionador belga chamado Jacques Swaters, que ficou com ela até 2008.
Naquele ano, a Ferrari Pinin foi vendida novamente, e seu novo dono decidiu que era hora de dar a ela um conjunto mecânico de verdade. Para isto, ele contou com a ajuda do ex-engenheiro de Fórmula 1 Mauro Forghieri. Foi ele quem supervisionou a instalação do flat-12 de 4,9 litros e cerca de 395 cv da Ferrari Testarossa, além da transmissão manual de cinco marchas da 400GT.
Para suportar o peso do novo coração, o carro teve o monobloco adaptado e reforçado. O trabalho foi feito de forma minuciosa e concluído em 2010, quando o carro rodou pela primeira vez — 30 anos depois de sua estreia mundial.
Em 2011, o carro foi colocado para leilão pela RM Auctions. A companhia esperava arrecadar algo entre £480 mil e £742 mil (cerca de R$ 2,3-3,7 milhões, em conversão direta), mas o maior lance foi de £ 400 mil (R$ 1,9 milhão). Agora, quem está vendendo o carro é a concessionária Maranello Purosangue, em Modena, na Itália. O preço descrito no anúncio, publicado no site Hemmings, é de US$ 795 mil. São por volta de R$ 2,5 milhões. Será que, desta vez, a Ferrari Pinin encontrará uma nova garagem?