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Mercado e Indústria

A Ferrari vai mesmo sair da Itália? Calma… não é bem assim

Você talvez tenha lido as notícias recentes sobre a Fiat estar, supostamente, tirando a Ferrari da Itália para evitar impostos. O assunto foi publicado pelo Bloomberg e logo tomou as páginas da internet com um ou outro título mais sensacionalista, o que levou os fãs e gearheads em geral a achar que a Fiat Chrysler Automobiles (FCA) realmente cometeria uma heresia dessas. Logicamente as coisas não são bem assim. Ainda que o capitalismo não dê muita bola para tradições quando a coisa aperta de verdade, até mesmo o mais leigo dos leigos sabe que isso arruinaria para sempre a identidade da marca, afinal, a tradição é 90% do negócio da Ferrari, e isso não seria nada bom para as finanças.

Mas então que cazzo está acontecendo nos bastidores da FCA? Da mesma forma que a mudança da Ferrari para fora da Itália destruiria a imagem da marca, pagar impostos mais altos quando se pode pagar menos também é algo que os investidores não curtem muito. Como já explicamos por aqui, a Ferrari será separada do grupo Fiat-Chrysler Automobiles em uma oferta pública de ações inicialmente oferecida somente a acionistas da FCA. Isso significa, na prática, que a Ferrari se tornará uma empresa independente do grupo, mas continuará sendo dos mesmos donos do grupo.

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Trata-se, na verdade, de uma manobra de mercado do grupo FCA para garantir mais dinheiro de acionistas. A Ferrari separada da Fiat significa independência de ambas as marcas. Para investidores isso é importante por que caso a Fiat tenha um ano ruim e a Ferrari um ano excelente, o resultado negativo da Fiat não irá mais interferir nas ações da Ferrari (e vice-versa) — ou seja: a Ferrari não irá “valer menos” só por que o mundo preferiu comprar Fiesta ou Polo em vez de Punto. Da mesma forma, a Fiat-Chrysler não terá problemas se o mundo preferir o Huracán e o 650S em vez da 458 Italia. Prova de que esta é uma manobra bem sacada, é que no dia do anúncio da separação da Ferrari, as ações da FCA aumentaram 18%, algo positivo quando você prometeu investir US$ 60 bilhões nos próximos anos.

Mas você sabe: quanto mais dinheiro melhor, então para mostrar aos potenciais investidores da Ferrari que vale a pena aplicar uma fortuna na fábrica, o grupo FCA está, supostamente, pensando em mudar a sede fiscal da Ferrari para fora da Itália, mais exatamente para a Inglaterra. Os motivos são fáceis de entender: o governo italiano cobra 34% do faturamento da fábrica como imposto. A rainha Elizabeth se contenta com menos: 21%, e ainda irá reduzir para 20% a partir do ano que vem. Em 2013 a Ferrari teve um lucro líquido de 246 milhões de euros, o que significa que a empresa pagou cerca de 126 milhões de euros em imposto sobre o faturamento. Na Inglaterra, o valor pago ao governo seria cerca de 78 milhões de euros, o que aumentaria o lucro líquido para 294 milhões de euros — 48 milhões a mais. Você não faria o mesmo que a FCA está pensando em fazer?

2012 Ferrari 458 Spider

A FCA já fez isso com sua sede fiscal — a empresa é registrada na Holanda com sede fiscal na Inglaterra. Logicamente, Sergio Marchionne sabe que se tirasse a Ferrari da Itália, o velho Enzo Ferrari voltaria todas as noites do além especialmente para assombrar o executivo ítalo-canadense. Por isso, caso a mudança da sede fiscal da Ferrari para o Reino Unido se concretize, somente parte da sede administrativa irá para a Grã-Bretanha e todo o resto, como o departamento de pesquisa e desenvolvimento, engenharia, produção, testes e construção continuariam na Itália, com trabalhadores italianos e almoço na casa da nonna no domingo. Melhor assim. Não gostaríamos de viver em um mundo em que a Ferrari não é italiana.

[ Fotos: Luca Pisanu/Flickr (abertura), MyCarHeaven (458 na estrada) ]