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Car Culture

O triste fim do suposto Gol GTI G5

Sabe por que as histórias de realidade alternativa são tão fascinantes? Por que, apesar de ser mera fantasia, uma ilusão, elas contêm elementos reais que nos são familiares. Um exemplo recente e que mexe com os entusiastas: a pintura “If Only…” de Oleg Konin. Se você não reconhece pelo nome, é essa aqui:

Usando os símbolos que nos são familiares — o acidente fatal de Ayrton Senna —, ela é uma imagem que nunca aconteceu, é fantasia ou ficção, mas que desencadeia uma série de reações e suposições porque usa um elemento real. E se a realidade fosse ficção e a ficção fosse realidade? A imagem gerou discussões e derivações e se criou todo um universo paralelo no qual ela realmente aconteceu.

Outro exemplo é o filme “Click”, com Adam Sandler, no qual ele consegue voltar e avançar o tempo para manipular a realidade. Embora não seja sobre uma realidade paralela, ele trata da criação das alternativas, da modificação da realidade para algo mais conveniente. E se você pudesse voltar para 2008 e comprar um Gol GTi azul Mônaco por R$ 12.000? É isso.

Também por isso eu costumo dizer que os carros brasileiros mais legais foram os que não existiram. Aqueles que nunca saíram do papel ou da fase de protótipos. E eu só posso dizer isso por que eles não existiram.

Eles são idealizados. Como nunca foram vendidos, nunca foram usados por pessoas comuns. Nunca foram avaliados por jornalistas. Nunca foram sequer modificados para serem viabilizados. Eles são sonhos muito realistas — alguns até podem ser dirigidos —, mas são uma ilusão. São os carros perfeitos: bonitos, potentes, sem defeitos e sem preço.

Os carros perdidos que a Volkswagen não fez no Brasil… mas deveria ter feito

Opala El Camino SS, já pensou? Volkswagen SP3 com motor 1.8 de Passat — praticamente um Porsche water-cooled antes do 996. A perua Turing Ka, que até hoje mexe com muito fordeiro. Ou ainda o Uno Cabrio, do Salão do Automóvel de 2010. Todos eles muito legais — mais do que os modelos que realmente existiram.

Um dos carros que ficou só no território da imaginação foi o “Gol GTI G5”. É até estranho falar assim, porque na época em que a Volkswagen lançou o Gol “G5” (que, na verdade, é de terceira geração), o Polo GTI ainda estava fresco na memória do entusiasta e o Golf GTI ainda era produzido e já havia substituído o Gol GTI como o esportivo-objeto de desejo da Volkswagen. A gente até sonhava com um Gol GTI G5, mas era mais sonho do que realidade.

Só que… ele foi um sonho mais real do que muita gente imagina. Porque a Volkswagen chegou a fazer mesmo um protótipo de um “Gol GTI G5” e rodou com ele ao menos por um ano.

Os primeiros rumores sobre um Gol GTI G5 surgiram em 2009, quando o portal Zap, na época do grupo Infoglobo, divulgou que, tanto o Gol de nova geração com duas portas quanto o GTI com motor turbo, estavam prontos na fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo.

Nessa época, é importante lembrar, a Fiat havia acabado de lançar o Punto T-Jet, que era basicamente uma versão brasileira e de quatro portas do Grande Punto Abarth vendido na Europa na mesma época. Até fazia sentido para a Volkswagen lançar um Gol GTI G5, ainda que o Gol não fosse concorrente direto do Punto.

O Gol duas-portas veio, mas o GTI nunca apareceu. Vimos o Gol GT em 2016 no Salão do Automóvel, mas aquele era apenas um estudo de design feito sobre um Gol 1.0 e que jamais chegaria próximo da linha de produção. Depois, em 2020, quando a Volkswagen voltou a falar em “GTS”, foi o Polo e Virtus que receberam a sigla.

Com isso, tudo indica que a apuração do portal Zap de 2009 estava equivocada. A Volkswagen realmente tinha um Gol duas-portas, mas não um esportivo. Poderia ser também que alguém soube do projeto da Saveiro Rocket, que foi apresentada no Salão do Automóvel de 2010 como um concept car com motor 1.4 TSI de 160 cv, duas portas e bancos esportivos, e achou que se tratasse do Gol GTI G5. Afinal, ela tinha a mesma descrição do GTI apurado pelo portal.

Mas em outubro de 2011, uma notícia publicada em um pequeno portal do Piauí passou despercebida por muita gente. Pelo Jalopnik Brasil, onde eu e o Juliano estávamos na época, inclusive. A notícia era a seguinte: “Veículo de teste capota na rodovia PI-113”. E as fotos mostravam um Gol quatro-portas com rodas do Golf GT.

O conteúdo da matéria dizia:

“Na tarde desta quarta-feira (12) um acidente na PI 113, trecho José de Freitas / Cabeceiras do Piauí, deixou uma pessoa com ferimentos leves e um carro de teste parcialmente destruído. O acidente aconteceu por volta das 13h30min na altura do Sítio Kalispera.

De acordo com informações colhidas no local, o carro de placa GOL 8038, de São Bernardo do Campo – SP, saiu da pista ao tentar desviar de um animal, em seguida desceu o asfalto, atingiu algumas carnaúbas e capotou várias vezes. A parte da frente ficou totalmente destruída.

O carro ficou há vários metros de distancia da pista. O motorista não identificado sofreu apenas ferimentos leves nos braços. Não há registro de entrada do motorista no Hospital Nossa Senhora do Livramento.”

Um Gol de testes em um dos estados mais quentes do Brasil, em outubro, com rodas do Golf GT, que usa cubo de cinco furos, e discos de freio dianteiros bem generosos. Do que poderia se tratar esse carro?

Gol GTI G5

Ao que tudo indica, era o suposto Gol GTI G5 que foi noticiado em 2009 pelo portal Zap. O carro foi destruído neste teste no Piauí e, talvez por isso, ele jamais foi adiante. O carro, segundo consta, usava realmente um motor 1.4 TSI com câmbio manual e os cubos de roda do Polo/Fox, que usam padrão de parafusos 5×100. Infelizmente não consegui recuperar fotos de outros ângulos, mas era possível ver também a saída de escape diferente de qualquer outro Gol.

Como seria esse Gol GTI G5? Bem, é difícil dizer, porque é difícil dizer exatamente em qual estágio estava esse desenvolvimento. Na indústria é comum que a engenharia avalie soluções de forma independente, então é possível (até provável) que este projeto fosse algo interno da engenharia, enquanto outras áreas sequer consideravam um Gol GTI ou algo equivalente.

É um cenário comum na indústria uma disputa interna entre divisões, setores e até filiais para apresentar suas soluções e projetos e trabalhar por sua aprovação. Desse cenário nascem projetos independentes dentro da própria fabricante — o que chamamos de “skunkworks” são um tipo de projetos como estes.

Skunkworks: quando os engenheiros quebram as regras e fazem carros do seu próprio jeito

Alguns são feitos por um só indivíduo, como o Jaguar Project 7, que foi uma proposta do designer brasileiro César Pieri, que acabou chegando ao chefe Ian Callum e aprovada para produção. Outros são um esforço coletivo da engenharia ou do design ou do marketing, que realizam um projeto preliminar e depois apresentam ao alto escalão e trabalham para que ele seja aprovado. Foi o caso do BMW M Coupe “Clowshoe” e do Ford Ka XR.

Então, é possível que, como forma de trazer uma solução eficiente e viável para a direção, a engenharia estivesse trabalhando em um Gol esportivo que pudesse convencer o alto escalão a aprovar o carro — e só então ele seria transformado em um projeto oficial que envolveria outros departamentos.

Há de se considerar contudo, que a Volkswagen estava “traumatizada” pela ideia de um Gol esportivo: o Gol GTI G3 foi um fracasso retumbante (pudera… ele parecia um Gol 1.0 com rodas de liga leve…), então o processo de convencimento de um eventual GTI G5 exigia algo muito acima da média. Talvez por isso o projeto não tenha ido adiante. Muito provavelmente sequer saiu da engenharia.

Dito isso, a Saveiro Rocket, que foi apresentada na mesma época em que os rumores sobre o suposto Gol GTI G5 circularam na imprensa, pode ser um ponto de partida para exercitarmos a imaginação da realidade alternativa na qual o Gol GTI G5 existiu de verdade. Note que ela tem a grade do Gol Rally e da Saveiro Cross, bancos esportivos e o volante e manopla de câmbio do Golf GTI MK6.

O painel usava apliques vermelhos e tinha um sistema multimídia semelhante ao do Jetta e Passat da época. Até mesmo os apliques vermelhos nas portas e bancos remetem ao Gol GTI 16v de 1996, que foi lançado com esta combinação nos bancos.

A verdade sobre o Gol acidentado, o suposto Gol GTI G5? Bem, o que podemos dizer é que foi um protótipo acidentado. Se ele foi mesmo um Gol GTI G5 é algo que o tempo dirá. E isso não impede de imaginarmos o que teria acontecido se o Gol GTI G5 tivesse se tornado realidade. A menos que a alguém encontre um recorte de jornal de época…


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