É incrível como a escala do tempo é relativa. Amanhã o FlatOut Brasil comemora exatos sete meses de existência (leia aqui o post de inauguração, com 493 comentários!) – mas para nós, e possivelmente para vocês, a sensação é de que se foi muito mais tempo. Não só porque a equipe (eu, Leo Contesini, Dalmo Hernandes, Dan Oda) levou adiante o legado do finado Jalopnik Brasil, mas especialmente porque fazer este trabalho 100% independente nos exigiu um sacrifício mental, financeiro e profissional a um nível que ainda não tínhamos experimentado.
E valeu a pena. Nestes poucos mais de 200 dias e quase 1.600 posts publicados, não só viabilizamos o FlatOut como vimos nascer uma marca de verdade: vocês estão aqui não só para se informar, se divertir, sugerir e criticar; mas sim porque este espaço representa valores e sentimentos que todos nós – a equipe e vocês, leitores – possuímos em comum em relação ao automóvel. Um adesivo ou uma (futura) camiseta do FlatOut representa algo mais do que um site, e este “algo” é todo de vocês!
Beleza, papo institucional maravilhoso, mas não significa que estamos em harmonia perfeita. De todos os (muitos) passos que o FlatOut irá dar a partir de hoje, um dos que mais nos motivam e assustam ao mesmo tempo é um dos que vocês mais exigem: o nascimento do FlatOut Forum. Este post é uma pensata sobre o convívio das diferenças dentro da cultura automotiva – e não é mera divagação: aprender a conviver em (melhor) harmonia será fundamental para não arruinarmos o futuro Fórum em curto prazo.
Os leitores do FlatOut e os diferentes nichos
Alguns leitores nos criticaram porque há alguns dias fizemos um guia de compras do Porsche 911 – afinal, quem tem condições de comprar um esportivo destes, mesmo usado? Para quem estaríamos escrevendo? A questão é: sim, há donos de Porsche 911 entre os leitores do FlatOut, membros de clubes tanto de 356 quanto de 911, especialmente do sudeste e do sul do País. Da mesma forma como há leitores (e não são poucos) de carros nacionais da década de 80 turbinados, de clássicos pós-guerra originais, de muscles preparados, de JDM autênticos ou com tempero californiano, de street racers, de hoodrides, de automóveis absolutamente convencionais – mas cujos donos se satisfazem com a simples proximidade a quem vive a cena mais intensamente; sem necessariamente vivê-la.
Ou seja: nem todo post é feito para o seu perfil, mas não se coloque em uma posição universal. Tem espaço pra todo mundo!
Também temos muitos leitores adolescentes, que sequer possuem carta de motorista e que matam a vontade visitando encontros, acelerando em games e simuladores e, claro, planejando seus primeiros passos no mundo real das quatro rodas. Mas também temos muitos pilotos profissionais no público – você ficaria lisonjeado ao descobrir que Ingo Hoffmann é leitor do FlatOut e que não poupa elogios ao nosso trabalho? Pois nós ficamos, e muito. Isso sem falar nos engenheiros mecânicos e elétricos (ok, eletricistas 😉 ) que trabalham em diversas fabricantes, como Fiat, Volkswagen, Mitsubishi, GM, etc.
Por isso, não ficamos felizes quando alguns atritos começam a aparecer. Entendemos as razões: é difícil não sair alguma faísca quando se mistura ricos e pobres; senhores, adultos e adolescentes; entusiastas de muscles, compactos turbinados, europeus, japoneses, clássicos e tunados; engenheiros e pilotos profissionais com amadores, rachadores, gamers e palpiteiros inexperientes. Mas às vezes vemos alguns ataques e reações desnecessárias – e essas brigas acabam afastando gente bacana. Tudo bem, se compararmos o nível dos comentários com qualquer portal ou veículo generalista, ainda estamos anos-luz adiante em termos de conhecimento e respeito entre os leitores, mas o fato é: dá pra melhorar bastante. E isso vai ser necessário para o fórum.
Nosso pedido: menos hating, menos ironias, mais respeito
Antes mesmo de começarmos a conversar sobre plataformas, sistema de moderação (sim, vamos precisar de voluntários) e os tipos de assunto que estarão no Fórum (os próximos assuntos que conversaremos nas próximas semanas), é muito importante começarmos um trabalho de afinar nossas atitudes com os nichos vizinhos – já na área de comentários dos posts. Você e seus amigos podem achar hilária aquela tirada maldosa que você comentou naquele post do Marea Turbo, mas alguns do lado de lá não acharam isso exatamente engraçado. O mesmo vale para porradas nos motores AP, com o consumo de V8s, com o visual daquele Civic tunado, com os carros de tração dianteira, com franceses, com Paul Walker, Ayrton Senna x Nelson Piquet, etc. Opiniões contrárias e brincadeiras sempre serão bem vindas – o problema está no tratamento e na carga, não no assunto.
Cada geração e cada tribo possui as suas referências e ídolos. A sua opção é apenas a sua opção – não é melhor que a dos outros. Isso vale para os carros também
Você pode argumentar que sem as pancadas a vida automotiva não tem tanta graça, mundo chato, etc. O problema é que estamos na internet – e acima disso, estamos misturando diversas panelas rivais ou contrastantes dentro de um mesmo caldeirão. Não estamos numa rodinha de amigos de gosto semelhante. O FlatOut representa uma situação impossível no mundo real: a reunião da turma da placa preta que faz passeios rumo a hotéis luxuosos com a dos rebaixados turbinados que fica no posto de gasolina procurando rivais ilegais.
Isso significa duas coisas: não se dê a intimidade que você não tem com as outras pessoas e evite ironias direcionadas a indivíduos, pois em algumas situações é muito difícil de se captar a intenção por trás de palavras digitadas. Uma brincadeira forçada pode ser interpretada erroneamente como trolada sem dificuldades – é algo inerente à linguagem escrita, pois não existe tom de voz. Críticas e opiniões contrárias são essenciais para qualquer debate, mas acima delas, o respeito é fundamental. E isso significa respeitar os leigos também: um dia você também já falou bobagens ou fez perguntas óbvias.
Em complemento a isso, nunca alimente trolls. Vez ou outra, aparece um comentário ácido ou maldoso, seja atacando o nicho, seja atacando um indivíduo. A melhor saída é votar negativamente no comentário e não responder, pois o maior combustível deste tipo de pessoa é a ira alheia. O constrangimento do silêncio é a maior humilhação para este tipo de cara.
Esses pequenos atritos que às vezes aparecem em um ou outro post serão verdadeiras bolas de neve numa estrutura fixa como o Fórum. Por isso, já adiantamos: para ele dar certo, vamos precisar que vocês se conscientizem que estão no meio de um caldeirão de diferentes tribos, que o respeito será essencial, e que seremos muito rígidos em relação ao mau comportamento. Brincadeiras, claro, sempre são bem vindas – a ideia não é fazer um ambiente sisudo. Mas não seja um babaca se você pisar no calo de alguém – e vice-versa.
Será que conseguimos atingir este estado de razoável equilíbrio? Nossa ideia é ter o fórum funcionando em pouco mais de um mês. Se não der certo pela falta de harmonia, desativamos. Simples assim.