É difícil encontrar um entusiasta que não reconheça a beleza do design italiano. E é bem verdade que os melhores designers de automóveis do planeta são italianos. Mas, como você deve saber, para toda regra há uma exceção. E, no caso dos carros italianos, esta exceção é a Fornasari Cars.
Sim, sabemos muito bem que beleza é algo subjetivo, e que o que é bonito para um pode não sê-lo para outro. No entanto, quando o assunto é falta de beleza, é muito mais fácil encontrar unanimidade. E, no caso dos Fornasari, você deve concordar com a gente: eles não são para qualquer um.
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A Fornasari foi fundada em 1999 pelo projetista Giuseppe Fornasari, e pediu falência em 2015 — o que fará muito sentido a partir da próxima foto. Sua especialidade eram SUVs e esportivos – e, de vez em quando, os dois ao mesmo tempo.
Pegue, por exemplo, o Fornasari 99. Ele é uma espécie de SUV sedã cujo desenho mistura elementos de carros esportivos, de luxo e utilitários.
O resultado é um carro de proporções curiosas, com quatro portas e três volumes. Na dianteira há um pouco de Ferrari, Porsche e Aston Martin. A lateral lembra vários sedãs alemães diferentes, e a traseira conta com lanternas de Lamborghini Murciélago. Sim, tudo ao mesmo tempo – o que pode dar um nó na cabeça de quem observa o carro pela primeira vez.
Nem mesmo a mecânica, que inclui motores V8 Chevrolet de 500 a 700 cv, câmbio manual de seis marchas e tração traseira, foi capaz de torná-lo memorável. Muitos aqui sequer imaginam que o Fornasari 99 foi uma das atrações do Salão de Genebra de 2011.
A mesma filosofia do Fornasari 99 foi usada em no Tender, um carro que levava esta ideia de “misturar influências” ainda mais além.
Com apenas duas portas, o Tender era um SUV, um cupê e uma picapeao mesmo tempo. E ele só conseguiu ser isso porque Fornasari achou que seria interessante dar um aspecto de iate ao carro.
A mecânica era igual à do 99: motores V8 Chevrolet com potência entre 500 e 750 cv, mais câmbio manual e tração traseira…
… mas o visual era ainda mais confuso, com faróis redondos duplos que remetiam ao Mercedes-Benz W210 (ou ao VW Polo Mk4), um capô longo com scoop do tipo cowl induction, e elementos claramente influenciados no estilo DUB de tuning dos anos 2000, como a grade dianteira e as rodas. O Fornasari 600, abaixo, é o irmão fechado do Tender.
O que impressiona é que, apesar do design, os carros eram bem pensados, ambos feitos sobre uma estrutura tubular de cromo-molibdênio, com suspensão por braços triangulares sobrepostos, e o uso de materiais de qualidade – alumínio e fibra de carbono na carroceria; metal escovado, madeira e couro no interior. Era na estética que eles tropeçavam.
O Gruppe B, como o nome dizia, era inspirado pelo Grupo B de rali. No entanto, na prática, ele era um cupê crossover de duas portas com três volumes bem definidos, faróis de Golf/Jetta Mk5, e lanternas circulares que parecem ter vindo de qualquer Ferrari da década de 2000.
O interior era simples, com formas iguais às do Tender, porém com acabamento de fibra de carbono exposta (ao menos parece isso) e aço escovado. A plataforma e a mecânica eram as mesmas…
… e também foram aplicadas no Fornasari Racing Buggy, cuja principal diferença era a carroceria: em vez de usar formas arredondadas e suaves, ele era um “jipe” agressivo, cheio de vincos e dobras. Além disso, o Racing Buggy tinha suspensão reforçada e usava pneus off-road. Mas o interior era idêntico ao dos demais modelos.
Você provavelmente não havia ouvido falar em nenhum destes carros – e, se ouviu, talvez tenha sido há muito tempo e você já esqueceu. O que nos ajuda a entender por que a empresa durou tão pouco tempo – um dos grandes obstáculos para a inovação e a criatividade é querer fazer tudo ao mesmo tempo e, no fim das contas, não conseguir fazer nada direito.
Deve ter sido por isto que a Fornasari pediu falência em 2015, depois de 16 anos. No entanto, misteriosamente, a marca reapareceu no Salão de Genebra de 2019 – e com dois novos carros: o GT 311 Gigi e o GTS 311 Gigi.
No entanto, em vez de utilizar apenas o powertrain do Corvette, o GT e o GTS aproveitam também o interior do C7, embora a plataforma continue sendo exclusiva. O resultado é um projeto melhor resolvido – uma dupla de esportivos com visual retrô, tipicamente cinquentista, embora o interior moderno seja um pouco dissonante da proposta do carro.
De acordo com o site da Fornasari, o GT e o GTS 311 Gigi são vendidos com três níveis de potência: 460 cv, 558 cv, e 659 cv, custando entre € 185.000 e € 245.000. O modelo menos potente é capaz de ir de zero a 100 km/h em 3,7 segundos, com máxima de 298 km/h. Já o mais potente leva apenas 3,1 segundos para ir aos 100 km/h, em tem velocidade máxima de 330 km/h.
No entanto, a Fornasari faz parecer que o desempenho é apenas um detalhe: eles dizem que o grande argumento para comprar um de seus carros é o desejo de “se destacar na multidão”. Se isto é bom ou ruim… não cabe a nós decidir.