nos bastidores da formula 1 ha homens que nao aparecem nas capas de revistas nao sobem ao podio nem sorriem para os flashes da vitoria sao quase invisiveis andando nas sombras das estrelas mas responsaveis por moldar o espetaculo com regua compasso e intuiçao gerard ducarouge foi um desses homens — um dos ultimos engenheiros romanticos da formula 1 figura de fala mansa e olhos atentos que enxergava os carros como organismos vivos sensiveis ao vento ao asfalto e a alma de quem os pilotava seu nome talvez nao seja tao conhecido quanto o de colin chapman gordon murray ou mauro forghieri mas em quase tres decadas no coraçao da formula 1 ducarouge projetou maquinas vencedoras para tres das maiores instituiçoes do automobilismo europeu matra ligier e lotus seus carros cruzaram linhas de chegada importantes e ajudaram lendas como jackie stewart e ayrton senna a escrever capitulos decisivos na historia do automobilismo seus monopostos nunca foram apenas rapidos — eram tambem eficientes e ousados contra a frieza dos algoritmos e o excesso de cautela corporativa ele impunha uma maneira artesanal de criar performance suas maquinas tinham alma e como toda alma as vezes eram temperamentais dificeis — mas quando acertavam transcendiam dos hangares para os boxes gerard ducarouge nasceu em 23 de outubro de 1941 em volesvres uma pequena comuna na borgonha uma regiao central da frança cercada por florestas castelos e estradas sinuosas era o tipo de lugar onde o tempo parecia passar devagar mas a curiosidade podia correr solta filho de um engenheiro ligado a industria aeronautica e de uma mae atenta a disciplina e ao rigor intelectual ducarouge cresceu entre cadernos de calculos e revistas de aviaçao mais do que uma vocaçao a engenharia parecia o idioma natural de sua casa nos anos do pos guerra a frança se reinventava com foco na reconstruçao na inovaçao e no orgulho tecnico era a era da dassault dos trens velozes e das vanguardas industriais para jovens como gerard estudar engenharia nao era apenas uma carreira promissora era tambem um gesto de pertencimento a essa nova ordem apos formar se na ecole superieure des techniques aerospatiales esta ele conseguiu um emprego na nord aviation onde realizava testes de combustao e orientaçao de misseis em um laboratorio subterraneo o trabalho na nord aviation contudo logo se mostrou repetitivo e entediante — os testes eram sempre os mesmos sempre realizados em ambiente fechado visando um alto controle de qualidade morrendo de tedio como ele mesmo diria ducarouge encontrou um anuncio da matra que procurava um engenheiro que falasse ingles para sua nova empreitada na epoca a fronteira entre a engenharia aeronautica e o automobilismo ainda era uma linha fluida a formula 1 começava a flertar com conceitos aeroespaciais uso de aluminio aeronautico chassi monocoque inspirado em fuselagens e uma obsessao crescente pela aerodinamica diante deste cenario a propria matra decidiu criar uma divisao esportiva para promover suas tecnologias — e claro seus automoveis em 1965 ducarouge ingressou na recem formada divisao automobilistica da empresa a matra sport era um projeto que misturava orgulho nacional com ambiçao esportiva — um dos projetos ainda que nao oficializado era construir o primeiro carro frances da formula 1 moderna ducarouge começou trabalhando como auxiliar de projetos dos carros de rua e dos prototipos mas logo passou para os carros de formula 3 e formula 2 a experiencia com os monopostos o colocou no projeto do matra ms9 que se tornou o primeiro formula 1 da equipe era um carro experimental que foi equipado com o motor cosworth dfv por exigencia de ken tyrrell que ja disputava as formulas menores com os carros da matra e fez uma joint venture com a fabricante francesa para disputar a formula 1 — o que resultou em duas equipes com o nome matra — a matra sports francesa e a matra international operada por ken tyrrell e financiada pela ford e pela elf a matra inicialmente queria usar seu motor v12 dos esportes prototipo e a adaptaçao para o v8 cosworth acabou resultando no ms9 uma vez que o ms10 ainda nao estava pronto para competir o carro foi projetado por bernard boyer o engenheiro chefe da matra mas ducarouge teve papel essencial no desenvolvimento do monocoque de aluminio do sistema de arrefecimento e da integraçao da suspensao um ponto critico pois ela foi adaptada do matra para o peso mais baixo do motor v8 o ms9 estreou na primeira corrida do campeonato de 1968 o gp da africa do sul em kyalami inscrito pela matra de tyrrell e pilotado por jackie stewart [caption id= attachment_383135 align= aligncenter width= 799 ] o matra ms9[/caption] na classificaçao stewart se entendeu bem com o carro e o classificou em terceiro lugar — um indicio de que o projeto era bem nascido na corrida contudo uma quebra de biela encerrou a prova de stewart apos 43 voltas apesar da quebra de motor o ms9 revelou pontos fortes estrutura solida boa base dinamica e um enfoque muito claro na aerodinamica — algo que se tornaria uma marca dos carros da equipe e principalmente de gerard ducarouge alem disso a experiencia na africa do sul foi decisiva para a conclusao e estreia do ms10 que foi o primeiro carro realmente competitivo da matra disputando o restante da temporada com jackie stewart e participaçoes eventuais de jean pierre beltoise e johnny servoz gavin o monocoque era estreito e leve com excelente distribuiçao de peso e boa resposta nas mudanças rapidas de direçao [caption id= attachment_383136 align= aligncenter width= 1243 ] o ms10 no gp da espanha[/caption] aqui ducarouge ja começava a exercer influencia pratica no acerto do carro — especialmente na integraçao entre geometria de suspensao e rigidez estrutural foi dele a ideia de fazer os tanques de combustivel estruturais como nos avioes o que permitiu que o carro fosse 15 kg mais leve que os rivais mantendo uma rigidez a torçao superior com o ms10 jackie stewart venceu tres provas e terminou outras quatro na zona dos pontos enquanto beltoise chegou em quinto no gp da espanha e servoz gavin ficou em segundo na italia juntos eles marcaram 45 pontos e colocaram a matra em terceiro lugar no mundial de construtores enquanto stewart foi o vice campeao daquele ano acertando de primeira mas foi em 1969 que a matra — e ducarouge — mostraram do que realmente eram capazes o ms80 era um projeto de maturidade embora creditado oficialmente a bernard boyer foi construido sob uma nova filosofia de integraçao total trazida por ducarouge — algo que ele defenderia pelo resto da carreira o monocoque do ms80 foi um dos primeiros a usar estruturas auxiliares de reforço integradas aos elementos aerodinamicos — o que permitiu as asas produzir niveis de downforce jamais vistos ate entao o tanque de combustivel estrutural foi proibido pela fia que o considerou perigoso e exigiu que as equipes voltassem a usar os tanques convencionais com bolsas de borracha com isso a celula de combustivel foi realocada nos proto sidepods do carro o que deu ao carro o perfil garrafa de coca cola muito antes deste estilo ser adotado pela formula 1 como padrao a suspensao dianteira passou a usar molas e amortecedores externos mais convencionais enquanto a traseira ganhou um arranjo de braços paralelos mais estavel que os braços triangulares do ms10 o que tornou o carro mais previsivel em velocidades mais altas o resultado foi um carro docil em curvas rapidas agressivo nas saidas de baixa e imbativel em pistas fluidas jackie stewart venceu seis das onze corridas da temporada de 1969 e conquistou seu primeiro titulo mundial a matra se tornava a primeira equipe campea do mundo com um chassi frances o feito tambem foi notavel porque o carro nao seguia o estilo empirico dos garagistas britanicos e sim um produto da engenharia sistematica de testes em tunel de vento e laboratorios nos bastidores ducarouge era cada vez mais ouvido stewart o respeitava nao como apenas projetista mas como um interprete — um engenheiro que traduzia a sensaçao do piloto em soluçao tecnica seu foco era a harmonia entre chassi suspensao e aerodinamica sem formulas magicas ou soluçoes mirabolantes aquele carro bem equilibrado e vencedor contudo nao teria uma segunda chance na formula 1 no final de 1969 a matra assinou sua fusao com a simca na epoca subsidiaria da chrysler como os motores cosworth dfv eram essencialmente um projeto ford a matra pressionou ken tyrrell troca lo pelo pesado v12 matra stewart chegou a testar o carro com o motor v12 mas o achou inferior ao dfv como a matra international era bancada pela ford e pela elf parceira tecnica da renault ken tyrrell nao teve opçao encerrou o contrato com a matra e refundou a equipe como tyrrell racing organisation estreando em 1970 com chassi march antes de desenvolver seus proprios carros a saida da tyrrell e a tentativa da matra de construir um carro com o motor v12 — o ms120 entre 1970 e 1972 — marcam o fim desta fase de ouro da equipe o chassi continuava competitivo mas o motor era pesado sedento e fragil mesmo com ducarouge em posiçao central na equipe tecnica os resultados nao vinham o ms120 era bem resolvido em termos estruturais com um centro de gravidade mais baixo que os concorrentes e distribuiçao de massas inteligente mas o v12 matra empurrava mal e quebrava muito foi o tipo de projeto em que mesmo um bom engenheiro nao faz milagre em 1970 henri pescarolo e beltoise conquistaram tres terceiros lugares e somaram 23 pontos colocando a matra sport em setimo no mundial de construtores — o ultimo entre os construtores que disputaram todas as etapas do mundial resultado que se repetiria nas duas temporadas seguintes [caption id= attachment_383140 align= aligncenter width= 1039 ] o matra simca ms120[/caption] em 1972 a matra deixa a formula 1 ao final da temporada ducarouge e realocado para os projetos do mundial de carros esporte wsc projetando outro icone das pistas o matra simca ms670 que venceu a 24 horas de le mans de 1972 a 1974 e conquistou o titulo de construtores em 1973 e 1974 novamente ao final da serie de vitorias a matra abandonou o automobilismo sem chance para ducarouge dar continuidade ao seu projeto vencedor mas a formula 1 e feita de ciclos e um novo capitulo se abria para ducarouge ele agora tinha algo mais valioso do que reputaçao tinha experiencia pratica de pista titulos e era conhecido por fazer os carros vencerem seu destino seria a sucessora direta da matra na formula 1 como equipe francesa a ligier o segundo capitulo quando gerard ducarouge chegou a ligier no final de 1974 a formula 1 estava mudando — e a frança queria continuar relevante guy ligier ex piloto e chefe da equipe sonhava com uma equipe totalmente francesa chefe projetista motor chassi pneus piloto o que ele precisava era apenas de um engenheiro que traduzisse essa ambiçao em velocidade por acaso gerard ducarouge estava disponivel [caption id= attachment_383129 align= aligncenter width= 1048 ] guy ligier jacques lafitte e gerard ducarouge na ligier tres franceses na equipe francesa com patrocinadores franceses [/caption] a primeira criaçao da parceria foi o js5 de 1976 — um carro que ficou tao famoso por sua airbox quanto por seu desempenho era pesado superdimensionado em algumas areas e ainda mais simbolico do que competitivo mas serviu para ajustar a equipe a linguagem moderna da f1 o motor era o matra v12 agora revisado com um ronco avassalador e cerca de 500 cv era menos elastico que o cosworth porem mais potente em rotaçoes altas ducarouge fez o que pode com o que tinha chassi e rigidez estrutural solidos boa estabilidade em alta mas pouca eficiencia em pistas travadas mesmo assim jacques laffite conseguiu uma pole e um segundo lugar nada mau para uma equipe com dois anos de vida [caption id= attachment_383127 align= aligncenter width= 1054 ] laffite ducarouge e didier pironi[/caption] a consagraçao viria com o js11 em 1979 — o primeiro grande carro de efeito solo da ligier inspirado pelo sucesso do lotus 79 ducarouge aplicou sua filosofia integradora para construir um carro que fosse mais do que uma caricatura aerodinamica o js11 tinha um monocoque largo projetado para otimizar o espaço lateral e integrar de forma eficiente os tuneis venturi que tinham saidas cuidadosamente posicionadas para manter o fluxo laminar ate a traseira o assoalho era selado com minissaias moveis e a estrutura dianteira era leve mas rigida garantindo boa entrada de curva o carro era rapido muito rapido jacques laffite venceu as duas primeiras corridas da temporada de 1979 com autoridade deixando as ferrari e lotus para tras em pistas como interlagos e kyalami com curvas longas e variaçoes de altura o js11 parecia grudado ao asfalto mas o sucesso nao durou com o avanço da temporada os tuneis começavam a entrar em estol em freadas fortes e o desgaste das minissaias afetava o equilibrio o carro tambem sofria com a flexao lateral do monocoque que afetava a precisao em curvas de raio medio ainda assim o js11 venceu tres corridas fez sete poles e colocou a ligier como vice lider do campeonato de construtores por boa parte do ano era um triunfo da engenharia francesa — e de ducarouge em particular seu talento para traduzir um conceito aerodinamico em um chassi funcional e balanceado impressionava ate os rivais patrick head da williams chegou a dizer que o js11 era o mais puro dos carros asa porque tinha pouco peso morto e funcionava com sutileza em 1980 o js11/15 evoluiu com refinamentos aerodinamicos e estrutura mais rigida mas a concorrencia avançava williams e brabham estavam mais organizadas e o matra v12 começava a mostrar suas limitaçoes era pesado vibrava demais e exigia um sistema de arrefecimento complexo que se traduziu em um pesadelo aerodinamico a temporada começou bem mas terminou sem vitorias o golpe final veio em 1981 com o js17 por influencia politica o governo frances pressionou a ligier a trocar o confiavel motor matra pelo turbo renault o js17 foi adaptado as pressas ao novo conjunto mecanico — e ducarouge nao teve controle total sobre o projeto com centro de gravidade alterado arrefecimento problematico e um powertrain ainda pouco confiavel o carro tornou se dificil de guiar e ainda mais dificil de se acertar a crise de desempenho somada ao clima politico cada vez mais carregado na equipe levou a equipe a um desfecho caotico em 1981 apos um inicio de temporada desastroso e desentendimentos com guy ligier e os dirigentes da renault ducarouge foi demitido por telefone o engenheiro que levara a ligier ao seu auge foi descartado como uma biela quebrada seu prestigio na formula 1 contudo era grande demais para que ficasse desempregado por muito tempo em poucos meses outra lenda do paddock chamaria seu nome — uma equipe em crise afundada pela morte do fundador e pela falta de direçao a lotus salvando a lotus a lotus no inicio dos anos 1980 era uma equipe sem timoneiro a morte de colin chapman em dezembro de 1982 deixara um vacuo criativo e tecnico que ninguem conseguia reverter a equipe cambaleava entre herança e irrelevancia amarrada ao peso do passado e a carros que simplesmente nao funcionavam o lotus 92 de 1983 com traçao integral experimental e motor cosworth foi um fracasso absoluto quando gerard ducarouge foi contratado no meio daquela temporada o objetivo era simples parar de passar vergonha seu primeiro ato foi direto abandonou o 92 e recomeçou do zero em poucas semanas projetou e colocou na pista o lotus 94t um carro desenhado em tempo recorde mas que ja mostrava um salto tecnico em relaçao ao que a equipe vinha sofrendo o 94t tinha motor renault ef1 turbo estrutura revisada aerodinamica limpa e centro de gravidade rebaixado mesmo com pouco tempo de pista elio de angelis conseguiu bons resultados — e mais importante voltou a sorrir era o inicio da redençao [caption id= attachment_383142 align= aligncenter width= 1440 ] ducarouge de angelis e mansell[/caption] mas o verdadeiro divisor de aguas viria no ano seguinte com o lotus 95t de 1984 sem chapman sem magia sem invencionices era um carro de engenharia pura — aerodinamicamente equilibrado bem construido e dotado de um dos melhores motores da epoca o renault v6 turbo com cerca de 750 cv em configuraçao de corrida ducarouge apostou em um chassi com distribuiçao de peso equilibrada arrefecimento otimizado e geometria de suspensao acertada para pistas de alta velocidade o carro nao era revolucionario mas era competitivo — e isso ja era uma revoluçao para aquela lotus [caption id= attachment_383143 align= aligncenter width= 2048 ] o lotus 95t de mansell[/caption] o 95t colocou de angelis em terceiro no campeonato de pilotos e a lotus em terceiro entre os construtores atras apenas da mclaren e ferrari era o melhor resultado da equipe desde os tempos de mario andretti e do lotus 79 para muitos ducarouge havia feito milagre para ele era apenas consequencia de organizaçao integraçao tecnica e muito teste mas o capitulo mais famoso viria em 1985 quando um jovem brasileiro recem saido de um ano de aprendizado na toleman chegava a equipe com algo mais do que talento ayrton senna trazia obsessao por detalhes precisao quase doentia e uma fome de vitorias que combinava perfeitamente com o rigor metodico de ducarouge o carro que recebeu senna foi o lotus 97t talvez o mais iconico da era renault em preto e dourado com a marca john player special nas laterais o carro tinha linhas elegantes entradas de ar refinadas sidepods curvados para gerar mais fluxo sob o assoalho e um assoalho otimizado para gerar efeito solo residual mesmo com as regras de assoalho plano o motor renault v6 turbo agora ultrapassava os 800 cv em classificaçao com overboost chegando a 1 000 cv — e ducarouge ajustava o carro para funcionar em faixas estreitas de pressao temperatura e carga aerodinamica senna venceu logo sua segunda corrida com o carro sob chuva em estoril numa exibiçao que entrou para a historia mas por tras daquele triunfo visual havia engenharia de guerra ducarouge trabalhou obsessivamente em ajustes de distribuiçao de peso rigidez a torçao e comportamento dos pneus goodyear em pistas como spa adelaide e brands hatch o 97t era capaz de enfrentar qualquer mclaren ou ferrari — desde que nao quebrasse o calcanhar de aquiles era justamente a confiabilidade o motor renault tinha complexidade eletronica e termica altissima e o chassi embora eficiente era sensivel a pequenas variaçoes ducarouge passou a temporada lutando contra falhas hidraulicas pressoes irregulares de turbo e o desgaste precoce das valvulas pneumaticas — tudo isso enquanto desenvolvia o sucessor o 98t em 1986 com o 98t ducarouge refinou o que funcionava o chassi ficou mais rigido o centro de pressao mais previsivel e o turbo ganhou gerenciamento eletronico mais sofisticado foi o primeiro lotus com data logging digital — um primitivo sistema de telemetria para analise de parametros em tempo real que encantava senna mas o motor renault ja em sua fase final de fornecimento nao tinha mais o folego para bater os alemaes da porsche/tag usados pela mclaren muito menos os novos honda da williams a temporada foi boa mas frustrante senna venceu duas corridas subiu ao podio outras seis vezes mas terminou em quarto no campeonato ainda assim o casamento tecnico entre ele e ducarouge marcou epoca um piloto obsessivo com um engenheiro que sabia ouvir ajustar e recomeçar o respeito entre ambos era mutuo senna dizia que gerard entendia o carro como se fosse um piloto; sabia o que mudar e quando sem chute ja ducarouge chamava ayrton de relogio suiço com alma latina a parceria nao duraria muito a renault deixou a formula 1 no fim de 1986 levando com ela seu motor a lotus assinou com a honda que impos o fornecimento exclusivo para piquet — e ducarouge sem autonomia total deixou a equipe para ele engenharia sem controle nao era engenharia e para a f1 era o fim de uma das duplas mais precisas da decada saida a francesa depois de deixar a lotus no fim de 1986 gerard ducarouge parecia destinado ao silencio mas a formula 1 como a historia nem sempre segue roteiros obvios em 1989 ele voltou ao paddock desta vez na larrousse equipe francesa com apoio tecnico da lola e motores ford cosworth era uma equipe pequena com orçamento apertado mas que via em ducarouge um mentor capaz de organizar o caos e trazer credibilidade na pratica ele fez o que sempre soube fazer trabalhar com base na realidade e nao na ilusao o lola lc89 que substituiu o desastroso chassi de 1988 era uma evoluçao logica — estrutura simples foco na distribuiçao de massas arrefecimento eficiente e suspensao mais progressiva mesmo limitado pelos recursos ducarouge introduziu soluçoes como o uso seletivo de fibra de carbono em pontos criticos alem de ajustes aerodinamicos para compensar a potencia modesta do v8 cosworth dfr que girava menos e entregava picos de torque mais abruptos que os rivais em 1990 com o lc90 a equipe teve um momento de brilho aguri suzuki em casa fez um podio historico no japao — o mesmo em que nelson piquet e roberto pupo moreno fizeram a ultima dobradinha brasileira na f1 o carro nao era tecnicamente brilhante mas era coerente baixo arrasto comportamento previsivel em pistas de alta e um equilibrio aerodinamico raro em equipes privadas a larrousse terminou em sexto no campeonato — um feito notavel e ali estava ducarouge discretamente fazendo mais com menos mas os tempos estavam mudando a f1 dos anos 1990 era menos sobre sensibilidade e mais sobre poder computacional telemetria avançada e simulaçao digital ducarouge embora respeitado ja nao era o nome que ditava tendencias — mas sim aquele que mantinha a integridade tecnica diante da crescente corporatizaçao do esporte seu ultimo envolvimento direto com um carro de f1 veio em 1991 ainda na larrousse o projeto lc91 marcou o inicio de uma queda acentuada motor lamborghini v12 pesado e complexo exigindo um chassi que nunca foi otimizado para ele a equipe afundou em dividas perdeu apoio tecnico e ducarouge deixou a formula 1 de vez no fim daquele ano nos anos seguintes envolveu se com consultorias projetos menores e trabalhos paralelos na industria era um engenheiro com alma de artesao — interessado no objeto nao no palco evitava a imprensa recusava entrevistas longas e sempre se referia a seus carros como nossos nunca meus morreu em 2015 aos 73 anos como viveu em silencio tecnico sem pompa mas seu legado continua cada carro que desenhou — do matra ms80 ao lotus 97t — levava uma assinatura invisivel a harmonia entre forma e funçao a integraçao entre aerodinamica e comportamento dinamico a humildade de quem sabia que um carro de corrida e antes de tudo uma maquina a serviço do talento humano a força da regularidade gerard ducarouge nao foi um revolucionario nao criou um carro de seis rodas nao lançou um chassi de titanio nao inventou um sistema de sucçao forçada para gerar downforce mas talvez sua grandeza esteja justamente ai foi o homem que reconstruiu que fez dar certo que entendeu que corridas nao sao feitas so de ideias geniais — mas de horas de tunel de vento de noites em claro revisando geometria de suspensao de saber escutar um piloto e traduzir isso em cambagem altura do assoalho ou rigidez estrutural na matra conduziu um time jovem ao titulo mundial na lotus deu nova vida a uma equipe a deriva e soube tirar o melhor de um talento como ayrton senna na larrousse fez carros simples funcionarem dignamente em todas essas fases ducarouge foi a presença estavel confiavel tecnica — uma figura essencial da f1 dos anos 1970 e 1980 com ele equipes em crise encontraram direçao pilotos exigentes confiaram em seus limites seu legado nao esta em uma invençao marcante mas em uma sucessao de decisoes corretas bem fundamentadas tomadas com base em dados escuta e experiencia era um engenheiro completo — desses que compreendem que a performance nasce da integraçao entre chassi motor aerodinamica e ser humano hoje num ambiente onde dados e algoritmos dominam o processo de criaçao sua abordagem parece quase artesanal mas nao era nostalgia era competencia e e disso que se trata sua importancia gerard ducarouge nao fez historia por querer ser lembrado fez historia porque sabia o que estava fazendo
SEJA UM MEMBRO DA
FAMÍLIA FLATOUT!

Ao ser um assinante, você ganha acesso irrestrito a um conteúdo verdadeiro e aprofundado. Nada de jornalismo genérico e sensacionalista. Vale a pena? Clique aqui e confira os testemunhos dos assinantes, amostras livres e os benefícios extras que você poderá desfrutar ao ser um FlatOuter!
PARA LER MAIS, CADASTRE-SE OU ASSINE O FLATOUT E TENHA ACESSO LIVRE A TODO CONTEÚDO DO SITE!
JÁ POSSUI CADASTRO OU É ASSINANTE DO FLATOUT?
Este é um conteúdo restrito: pode ser uma matéria só para assinantes, pode ser porque você já atingiu o limite de matérias gratuitas neste mês.