existem genios que mudam o mundo com ideias disruptivas outros brilham por terem uma consistencia extraordinaria em seu trabalho gordon murray pertence a uma terceira categoria mais rara ainda a de genios que unem essas duas qualidades quando chegou a formula 1 em 1973 pouca gente imaginava que aquele jovem magro de sandalias nos pes e voz baixa vindo da africa do sul se tornaria um dos nomes mais influentes da historia tecnica da categoria mas bastaram poucos anos para que o paddock percebesse murray nao projetava carros — ele os reinventava cada vez que iniciava um novo projeto cada chassi era uma ideia cada detalhe um argumento silencioso contra a comodidade da engenharia convencional ao longo de duas decadas entre brabham e mclaren murray esteve por tras de maquinas que mudaram para sempre as regras do design da formula 1 criou soluçoes tao simples quanto geniais — do bt44 de linhas limpas e comportamento preciso a força bruta do bt52 — e transformou os obstaculos dos regulamentos em laboratorios de ideias que fizeram historia mais do que titulos — que vieram com piquet em 1981 e 1983 e com senna em 1988 — o que definiu sua carreira foi a capacidade de imaginar o carro de formula 1 nao como um somatorio de peças mas como um organismo coerente onde cada soluçao responde a uma pergunta maior como vencer fazendo diferente um engenheiro pratico gordon murray nasceu em 18 de junho de 1946 na cidade portuaria de durban na entao uniao sul africana — atual africa do sul seu pai douglas murray era um piloto amador de corridas locais alem de mecanico e preparador de carros por vocaçao embora nao tenha alcançado reconhecimento internacional douglas era ativo no cenario de corridas de clubes sul africanas participando de provas de circuito e subidas de montanha com carros adaptados artesanalmente muitas vezes modificando modelos britanicos comuns como austin e ford desde cedo gordon foi exposto ao ambiente de oficinas ferramentas e provas de fim de semana a convivencia com a pratica mecanica e o universo competitivo das corridas de clubes forneceu uma formaçao tecnica informal porem fundamental ainda criança murray começou a construir modelos mecanicos e desenhar carros completos — muitas vezes com foco em como reduzir peso ou melhorar a distribuiçao de massa questoes que mais tarde se tornariam centrais em sua filosofia de engenharia nos anos 1960 gordon murray cursou engenharia mecanica no natal technical college uma escola tecnica localizada em durban hoje parte da durban university of technology a instituiçao era voltada a uma formaçao pratica e aplicada em engenharia mecanica alternando a teoria em sala de aula com pratica em oficinas laboratorios e projetos industriais — diferentemente das universidades teoricas britanicas que formavam a elite academica europeia ele conta mais sobre esta epoca em uma entrevista ao topgear com venho de uma familia da classe trabalhadora dormiamos em quatro no quarto nunca tivemos casa propria nunca tivemos um carro novo eu fiz escola tecnica em vez de ir para a universidade na verdade eu nao estaria aqui se nao tivesse feito um curso que alternava teoria e pratica trabalhando para uma fabrica de embalagens eu tinha um dia de folga por semana e duas noites de aula na escola tecnica passei seis meses na oficina aprendendo a usinar e soldar fazia todos os desenhos tecnicos e tinha que ter certeza de que tudo estava fabricado corretamente murray rapidamente se destacou por sua capacidade de projetar sistemas complexos com soluçoes minimalistas e eficientes segundo relatos do proprio engenheiro ele raramente se contentava em aplicar formulas ou replicar projetos pre existentes seu instinto era repensar cada componente a partir de seus principios fisicos essenciais buscando sempre o menor peso o menor numero de peças e a maxima funcionalidade essa abordagem que mais tarde se tornaria sua assinatura na formula 1 e na industria de supercarros ja estava presente em seus trabalhos academicos e extracurriculares foi nesse contexto que murray concebeu e construiu entre 1967 e 1968 o que pode ser considerado seu primeiro carro de corrida oficial o igm ford special o nome vinha de suas iniciais — ian gordon murray — e refletia nao apenas um toque de autoralidade mas tambem uma ambiçao clara de se afirmar como um projetista completo [caption id= attachment_381757 align= aligncenter width= 1615 ] o jovem gordon murray a bordo do igm ford na africa do sul[/caption] o igm foi desenvolvido sem financiamento externo sem equipe e com recursos extremamente limitados murray projetou o carro inteiramente sozinho construindo muitos componentes com materiais reaproveitados como a carroceria do lotus seven mas muito dos componentes estruturais do carro foi feito com tecnicas artesanais em um espaço improvisado mais tarde o proprio murray explicaria o projeto em uma entrevista a revista britanica motorsport usei a dianteira e os para lamas do lotus seven porque era mais barato que fazer moldes novos o chassi contudo era muito mais leve mais triangulado e por isso mais rigido que o de um seven era um layout completamente diferente comprei um motor 105e de 1 litro do ford anglia fiz meus proprios pistoes e aumentei o diametro para 84 mm chegando a 1 073 cm³ a maioria das pessoas importava pistoes mahle e ficava com 85 mm ou 1 098 cm³ mas eu nao tinha dinheiro para isso porque gastei tudo nos dois weber 40dcoe depois balanceei as bielas de um ford consul fiz meus proprios comandos de valvulas retrabalhei o cabeçote usei valvulas de admissao de jaguar e valvulas de escape de um peugeot fiz meus proprios coletores e aliviei o volante inercial a um ponto que as revistas de preparaçao britanicas considerariam perigoso elas tambem diziam que seria preciso usar um virabrequim de aço para girar mais de 7 500 rpm usei um vira comum de ferro fundido eu entendia que se voce balanceasse cuidadosamente cada componente — tanto a massa reciprocante quanto a massa rotativa — seria possivel usar o que usei levei o balanceamento ao decimo de grama usando o motor a 8 500 rpm por duas temporadas sem nenhum problema ele so tinha 90 cv mas o carro era rapido porque era muito leve tinha so 400 kg a unica coisa que eu nao modifiquei foi o cambio ford de quatro marchas fiz meu proprio tanque de combustivel com aço de liga f 22 a suspensao e ate mesmo os bancos aprendi a soldar naquele carro um dos meus acidentes com o carro foi causado por uma solta fraca com o igm ford murray obteve relativo sucesso nacional nas temporadas de 1967 e 1968 com vitorias de classe no circuito roy hesketh e nas subidas de montanha de burman drive e polly shortts a partir dali rivais mais abastados começaram a importar modelos da elfin e da lotus entao murray decidiu que era hora de tentar novos rumos no entanto murray sabia que as limitaçoes geograficas estruturais e politicas da africa do sul impunham um teto a sua ambiçao chegar a formula 1 um projeto um objetivo e 50 libras no bolso naquela epoca a africa do sul ainda fazia parte do calendario da f1 com o grande premio de kyalami mas nao havia uma industria automobilistica de ponta nem equipes de nivel mundial baseadas no pais a europa — especialmente a inglaterra com sua concentraçao de equipes engenheiros e fornecedores — era o verdadeiro centro da formula 1 era la que tudo acontecia em 1969 com apenas 23 anos murray vendeu tudo o que tinha e mudou se para o reino unido nao havia promessa de emprego nem garantias apenas o sonho de chegar a formula 1 o que ele levava consigo era 50 libras esterlinas e desenhos tecnicos fotos e especificaçoes completas do igm ford special alem de alguns croquis e projetos conceituais de carros de corrida o igm ford era um portfolio vivo seu sucesso nao apenas comprovava que murray sabia projetar um carro completo mas que ele entendia profundamente o funcionamento dinamico do veiculo da teoria a pista ele era ao mesmo tempo o engenheiro o construtor e o piloto o que lhe dava uma visao que poucos engenheiros da epoca tinham — a maioria dos engenheiros da formula 1 vinha de universidades britanicas como cambridge e oxford com historico em departamentos de pesquisa ou programas de graduaçao patrocinados por empresas mas sem o lado pratico que murray desenvolveu sozinho em seu pais murray visitou pessoalmente varias equipes batendo a porta de oficinas e fabricas no chamado motorsport valley a regiao da inglaterra onde se concentravam as sedes das equipes de f1 conta se que chegou a ir ate a lotus mclaren tyrrell e brabham entre outras apresentando se com seu portfolio e perguntando se havia alguma vaga de engenheiro ou projetista junior foi na brabham entao sob comando tecnico de ron tauranac que murray encontrou sua primeira oportunidade real a equipe precisava de engenheiros para trabalhar na produçao dos carros de clientes — modelos de formula 2 e formula 3 que eram vendidos para pilotos e equipes independentes murray foi aceito inicialmente em um cargo de suporte tecnico lidando com montagem ajustes e pequenos projetos mas sua habilidade com o desenho tecnico sua compreensao estrutural e sua velocidade em resolver problemas logo chamaram a atençao ao longo dos anos seguintes sua atuaçao discreta mas altamente eficiente lhe rendeu status suficiente para ser promovido quando bernie ecclestone comprou a brabham em 1972 e assumiu o comando em 1973 murray entao foi nomeado projetista chefe da equipe de formula 1 — um salto gigantesco que o colocou na linha de frente da categoria maxima do automobilismo com uma rapidez jamais vista os primeiros anos na brabham a chegada de gordon murray ao cargo de projetista chefe da brabham em 1973 representou uma guinada tecnica e filosofica para a equipe fundada por jack brabham e ron tauranac a equipe havia sido tradicionalmente conservadora em sua abordagem de engenharia — confiando em soluçoes testadas robustez estrutural e confiabilidade mecanica o melhor exemplo desta filosofia e o brabham bt19 que usava um motor repco baseado em um bloco da oldsmobile para obter confiabilidade mecanica na temporada de estreia dos motores de tres litros enquanto os rivais usavam motores recem desenvolvidos a aposta na confiabilidade rendeu a brabham seu primeiro titulo de construtores e o terceiro titulo de jack brabham — ate hoje o unico piloto a conquistar o campeonato com um carro de fabricaçao propria quando bernie ecclestone comprou a equipe no final de 1971 ele tinha em mente uma transformaçao radical seu objetivo era tornar a brabham nao apenas uma competidora regular mas uma equipe capaz de vencer campeonatos para isso precisava de um engenheiro com visao inovadora [caption id= attachment_381770 align= aligncenter width= 1417 ] bernie ecclestone e gordon murray no inicio de 1973[/caption] murray entao com apenas 27 anos foi promovido diretamente do departamento tecnico para o comando dos projetos de formula 1 era uma aposta ousada — ele nao tinha formaçao europeia nem anos de experiencia em categorias intermediarias — mas ecclestone enxergava nele uma combinaçao rara de criatividade tecnica disciplina e coragem o primeiro carro de formula 1 que murray projetou na brabham foi o bt42 lançado ainda em 1973 embora fosse o primeiro projeto sob o comando de murray ele ainda era um modelo de transiçao entre a abordagem conservadora de ron tauranac e a nova mentalidade tecnica que murray trazia para a equipe ainda que herdasse elementos da escola tradicional de engenharia britanica como o uso de um monocoque de aluminio convencional o bt42 apresentava inovaçoes significativas para seu tempo introduzidas com discriçao mas profunda inteligencia [caption id= attachment_381771 align= aligncenter width= 1162 ] o bt42 com wilsinho fittipaldi em 1973[/caption] a estrutura em v invertido do monocoque aumentava a rigidez a torçao sem aumentar o peso do carro enquanto o reposicionamento de componentes internos permitia uma melhor distribuiçao de massa e facilitava a manutençao murray tambem implementou um refinamento na suspensao dianteira adotando um sistema pushrod que reduz a massa nao suspensa e melhora a aerodinamica otimizando a aderencia e estabilidade em curvas de media e alta velocidade outro elemento marcante do carro era a tomada de ar posicionada logo acima do cockpit — uma soluçao que embora nao fosse inedita na formula 1 foi tratada por murray com atençao especial a eficiencia volumetrica e ao controle termico da admissao o visual do bt42 tambem materializava um pouco do senso estetico de murray com linhas limpas proporçoes equilibradas e uma elegancia funcional que se tornaria marca registrada de seus futuros projetos apesar das limitaçoes mecanicas e da falta de potencia do motor cosworth dfv quando comparado ao flat 12 da ferrari e aos dfv de outras equipes o bt42 destacava se pela estabilidade em curvas equilibrio dinamico e facilidade de acerto — qualidades que chamaram atençao no paddock [caption id= attachment_381773 align= aligncenter width= 1414 ] reutemann e murray em 1973[/caption] com carlos reutemann e wilsinho fittipaldi a brabham foi a zona dos pontos os seis primeiros lugares em oito provas — seis do argentino e duas do brasileiro wilsinho alias foi o primeiro dos quatro pilotos brasileiros que trabalharam com murray — os outros tres foram jose carlos pace e nelson piquet na brabham e ayrton senna na mclaren no ano seguinte 1974 murray apresentou o brabham bt44 o primeiro projeto em que abordava sua filosofia tecnica na formula 1 e uma evoluçao do seu antecessor — dai a semelhança a partir do aprendizado com o bt42 o murray subiu mais um degrau na busca por simplicidade e eficiencia o chassi manteve o conceito de aluminio mas com refinamentos estruturais que reduziram peso e aumentaram sua rigidez a carroceria do bt44 seguia o perfil de cunha do antecessor o que favorecia a geraçao de downforce pela propria carenagem sem depender tanto das asas do carro [caption id= attachment_381774 align= aligncenter width= 1002 ] murray e o bt44 em 1974[/caption] essa filosofia refletia a busca de murray por soluçoes integradas o fluxo de ar era tratado como um elemento estrutural do desempenho foi dai que vieram os dutos laterais moldados diretamente na carroceria para alimentar os radiadores reduzindo o arrasto e melhorando o arrefecimento a suspensao dianteira foi novamente revisada com atençao especial a transferencia de peso em frenagens enquanto a traseira foi redesenhada para aumentar a traçao mecanica elemento essencial em uma epoca em que os pneus traseiros eram enormes e ainda nao se explorava o efeito solo de forma sistematica o conjunto era empurrado pelo v8 cosworth dfv que tinha os atributos considerados valiosos por murray como a leveza a facilidade de manutençao e o baixo centro de gravidade o bt44 se mostrou um carro muito competitivo vencendo tres grandes premios — africa do sul austria e estados unidos — com carlos reutemann que levou a brabham ao quinto lugar no mundial de construtores e ao sexto lugar no mundial de pilotos o carro se mostrava especialmente eficiente nos circuitos de media velocidade com curvas longas e areas de frenagem progressiva onde seu equilibrio mecanico e aerodinamico fazia a diferença em 1975 o bt44 foi atualizado e se tornou o bt44b a estrutura basica do bt44 foi mantida com o monocoque de aluminio leve e rigido que havia se mostrado confiavel mas diversas modificaçoes foram feitas para responder aos desafios crescentes da categoria e a evoluçao tecnica das rivais uma das mudanças mais notaveis foi o aumento sutil da distancia entre eixos o que melhorava a estabilidade direcional e a distribuiçao de peso especialmente em pistas rapidas como silverstone ou hockenheim essa alteraçao permitia que os pneus — em constante evoluçao com compostos mais aderentes e sensiveis — trabalhassem melhor durante longos stints reduzindo o desgaste e melhorando a consistencia de performance na parte aerodinamica o bt44b recebeu asas dianteiras mais largas e com ajustes de angulo de ataque mais precisos permitindo um ajuste mais refinado de acordo com as demandas de cada circuito murray tambem redesenhou o posicionamento dos radiadores e das entradas de ar laterais com a experiencia da temporada anterior ele percebeu que um redesenho do fluxo de ar para os trocadores de calor traria ganhos tanto no resfriamento quanto na eficiencia aerodinamica as novas tomadas de ar foram reposicionadas levemente mais altas e recuadas integrando se melhor a carroceria e ao tunel de ar que direcionava o fluxo para a asa traseira o motor permaneceu o mesmo cosworth dfv v8 de tres litros ja entao uma instituiçao na formula 1 a brabham era uma das varias equipes que usavam o motor que combinava potencia confiabilidade leveza e custo relativamente acessivel no entanto o desafio era tirar o maximo dele contra os flat 12 da ferrari que contavam com torque superior e maior velocidade final murray compensava essa desvantagem com uma carroceria de baixo arrasto e com ajustes finos de cambio e suspensao explorando ao maximo a agilidade do chassi e a capacidade de frenagem embora a ferrari de niki lauda tenha dominado a temporada com o 312t e sua inovadora transmissao transversal o bt44b manteve a brabham no pelotao da frente com mais cinco podios e uma vitoria de reutemann e outros dois podios e a vitoria no gp do brasil de jose carlos pace o que rendeu a brabham o segundo lugar no campeonato de construtores alem disso o bt44b foi amplamente elogiado no paddock e pela imprensa especializada e seu design foi considerado limpo funcional e bem pensado — um exemplo de como uma equipe independente sem os mesmos recursos de fabrica que ferrari ou mclaren podia desafiar os gigantes com engenharia criativa e racional o bt44b tornou se referencia para outras equipes clientes da cosworth que viam na brabham um modelo de eficiencia tecnica o desempenho da equipe em 1975 tambem confirmou a consolidaçao de gordon murray como um dos principais engenheiros da formula 1 ele mostrava que nao era apenas um criador de conceitos ousados mas tambem um mestre em desenvolvimento incremental — alguem capaz de evoluir um projeto com consistencia e inteligencia um novo motor um novo desafio a transiçao da brabham para os motores flat 12 da alfa romeo marcou uma guinada na trajetoria de gordon murray como projetista e na propria filosofia tecnica da equipe se os anos anteriores haviam sido pautados pela leveza simplicidade e eficiencia do conjunto chassi motor cosworth dfv a partir de 1976 murray passou a enfrentar um novo tipo de desafio como adaptar sua abordagem minimalista a um motor complexo pesado e volumoso — e ainda assim criar um carro competitivo a mudança foi motivada pela busca de bernie ecclestone por uma parceria tecnica mais exclusiva que resultou em um acordo com a autodelta divisao de competiçao da alfa romeo a decisao parecia logica afinal o flat 12 da alfa um v12 de 180 graus era um descendente direto de seus competitivos prototipos do mundial de carros esporte wsc e tinha potencial para alcançar os flat 12 da ferrari em termos de potencia alem disso ele era um motor exclusivo o que permitiria a brabham se distanciar das varias equipes clientes da cosworth [caption id= attachment_381780 align= aligncenter width= 1024 ] murray nos boxes da brabham em 1976[/caption] murray contudo logo percebeu que o motor italiano apresentava tres grandes problemas fundamentais era largo demais pesado demais entre 40 kg e 50 kg a mais que o dfv e seu centro de gravidade era alto demais — algo inimaginavel em um flat 12 cuja finalidade do layout e justamente ter o centro de gravidade baixo o bt45 de 1976 foi o primeiro projeto de murray com o flat 12 e refletia o esforço do projetista para reorganizar todo o carro em funçao do novo motor o arrefecimento tornou se um problema crucial obrigando o uso de radiadores maiores e alteraçoes na carenagem o que resultou no aumento do arrasto aerodinamico alem disso o consumo elevado e a tendencia ao superaquecimento exigiram soluçoes criativas como entradas de ar maiores e tanques de combustivel com maior capacidade murray tambem teve de reforçar o monocoque para lidar com as vibraçoes e o peso adicional o que comprometia a leveza e a agilidade atingida em seus projetos anteriores como resultado o bt45a conseguiu pontuar em apenas quatro provas terminando o campeonato em um modesto 9º lugar sua evoluçao o bt45b de 1977 trouxe mudanças importantes com alteraçoes na suspensao traseira e no sistema de arrefecimento a aerodinamica foi revisada com linhas mais suaves e menos arrasto enquanto o posicionamento dos radiadores foi otimizado na pista o carro estreou com um segundo lugar de pace no gp da argentina o ultimo podio de sua carreira que seria abreviada dois meses depois por um acidente aereo seu substituto hans joachim stuck conseguiu bons resultados como dois terceiros lugares na austria e na alemanha alem de pontuar nos gp da gra bretanha da belgica e da espanha com john watson pontuando em outras duas corridas e terminando em segundo no gp da frança a brabham terminou a temporada de 1977 em quinto lugar [caption id= attachment_381781 align= aligncenter width= 2048 ] pace na argentina em 1977[/caption] o carro contudo era inconsistente seu principal obstaculo continuava sendo o motor da alfa que era potente mas imprevisivel e exigente no acerto a confiabilidade tambem deixava a desejar comprometendo chances de vitoria mesmo em finais de semana promissores em 1978 murray decidiu que apenas ajustes incrementais nao seriam suficientes com base em experiencias acumuladas e nas discussoes tecnicas com a alfa romeo ele deu inicio ao projeto do bt46 que visava contornar de forma radical as limitaçoes impostas pelo motor flat 12 o resultado foi um carro extremamente avançado tanto no arrefecimento quanto no uso da aerodinamica — um verdadeiro salto conceitual [caption id= attachment_381787 align= aligncenter width= 770 ] murray e o brabham bt46 em 1977[/caption] batizado bt46a o novo carro tinha uma construçao mais compacta e sofisticada murray empregou materiais compostos e ligas especiais para manter o peso baixo e trabalhou obsessivamente na integraçao entre chassi motor e sistema de arrefecimento uma de suas inovaçoes mais notaveis foi o uso de radiadores horizontais montados sob paineis refletivos e selados uma tentativa de melhorar o arrefecimento sem comprometer a aerodinamica — uma soluçao tao ousada quanto problematica ja que os primeiros testes revelaram dificuldades em controlar a temperatura o sistema foi logo abandonado mas demonstrava o tipo de abordagem criativa de murray [caption id= attachment_381786 align= aligncenter width= 1213 ] o brabham bt46a note os radiadores horizontais em frente as rodas traseiras[/caption] diante do dominio da lotus 79 um carro projetado para usar e abusar do efeito solo murray sabia que precisava de algo igualmente disruptivo para ter alguma chance no campeonato assim nasceu o bt46b tambem conhecido como o fan car — provavelmente o projeto mais ousado eficiente e polemico de toda a carreira de gordon murray na formula 1 o fan car o bt46b da brabham e a lotus 79 representaram em 1978 duas abordagens diversas na interpretaçao do novo horizonte tecnico da formula 1 o conceito de efeito solo enquanto colin chapman apostou em uma abordagem elegante e passiva usando a aerodinamica do proprio assoalho para gerar pressao aerodinamica gordon murray seguiu um caminho ativo mecanico e segundo alguns ate subversivo — mas estritamente dentro do regulamento o lotus 79 que estreou no gp da belgica de 1978 foi o primeiro carro totalmente construido em torno do efeito solo utilizando tuneis de venturi sob o assoalho com saias moveis laterais que selavam o fluxo de ar — na pratica o assoalho do carro era um grande tunel de venturi o que criava uma area de baixa pressao sob o carro literalmente sugando o monocoque para o chao e gerando aderencia sem aumento de arrasto — o que mantem a velocidade de reta enquanto permite curvas mais rapidas algo que hoje e obtido pelas asas moveis a lotus dominou o campeonato com mario andretti e ronnie peterson impondo uma nova era no design da f1 murray por outro lado enfrentava um obstaculo fisico o motor flat 12 da alfa romeo seu grande volume e largura ocupavam exatamente o espaço onde os tuneis de venturi precisariam estar ou seja enquanto a lotus podia explorar livremente o solo do carro o bt46 nao podia adotar o mesmo principio isso forçou murray a pensar fora da caixa — e sua resposta foi uma interpretaçao radicalmente criativa do regulamento tecnico a regulamentaçao da epoca proibia dispositivos moveis que afetassem diretamente a aerodinamica do carro no entanto existia uma exceçao componentes relacionados ao resfriamento do motor eram permitidos murray se aproveitou dessa brecha projetou uma ventoinha traseira que oficialmente tinha a funçao de extrair o ar quente do compartimento do motor mas seu real proposito era sugar o ar sob o assoalho gerando efeito solo na pratica o bt46b operava como um aspirador de po ele retira o ar sob o monocoque criando uma area de baixa pressao que prende o carro ao solo como o ar e retirado mecanicamente o efeito e ainda mais intenso no brabham como a ventoinha era acionada por uma correia ligada diretamente ao motor ela tecnicamente estava integrada ao sistema mecanico de arrefecimento o que era permitido pelo regulamento ao menos teoricamente [caption id= attachment_381790 align= aligncenter width= 1152 ] niki lauda e o bt46b no gp da suecia[/caption] o carro estreou no gp da suecia em anderstorp foi devastador niki lauda que conhecia o carro ha poucos dias teve pouco trabalho para vencer mesmo sem largar na pole superou andretti e dominou com folga os pilotos adversarios relataram que o carro grudava no chao e parecia imune as limitaçoes tipicas de aderencia a curiosidade aumentou quando imagens televisivas mostraram a ventoinha traseira girando a altas rotaçoes lançando detritos e poeira — uma cena incomum na f1 logo apos a corrida as principais equipes protestaram — especialmente a lotus que via seu dominio tecnico ameaçado chapman alegava que a ventoinha era sim um dispositivo aerodinamico movel disfarçado o que violava o artigo 3 7 do regulamento murray e ecclestone por sua vez contra argumentaram o sistema era fixo integrado ao resfriamento e portanto legitimo a fia nao proibiu o carro oficialmente mas os bastidores deram um jeito ecclestone que naquele momento ja ganhava força politica como chefe da associaçao dos construtores da formula 1 foca na sigla em ingles optou por retirar voluntariamente o bt46b da competiçao para evitar um confronto institucional com a fisa entao presidida por jean marie balestre e proteger seus interesses estrategicos o fan car nunca mais correu apesar de ter sido homologado e aprovado pelos comissarios tecnicos [caption id= attachment_381789 align= aligncenter width= 1231 ] a f1 tambem corre nos bastidores [/caption] o episodio marcou um ponto de virada para murray a partir dali ele seria visto como um engenheiro que nao apenas compreendia a fisica do carro de corrida mas tambem o jogo politico que o cercava a tensao entre inovaçao tecnica e diplomacia institucional o acompanharia ate sua saida da f1 e alimentaria seu desprezo posterior por regulamentaçoes excessivamente restritivas o auge tecnico o final da decada de 1970 marcou uma transiçao crucial para a brabham e para gordon murray depois das temporadas frustrantes com o flat 12 da alfa romeo a equipe decidiu romper com a fabricante italiana e voltar ao confiavel motor cosworth dfv v8 essa escolha feita no segundo semestre de 1979 nao apenas simplificaria o conjunto como tambem permitiria a murray retomar sua filosofia de projeto baseada em leveza simplicidade e equilibrio aerodinamico dessa mudança nasceria o bt49 o carro foi projetado em tempo recorde — apenas seis semanas — para substituir o bt48 que ainda usava o motor alfa mesmo as pressas murray conseguiu criar um carro moderno e eficiente o bt49 foi construido em torno do monocoque de aluminio com geometria otimizada da suspensao dianteira e traseira e carenagens adaptadas ao conceito de efeito solo utilizando tuneis venturi sob o assoalho e saias moveis para selar o fluxo de ar o retorno ao cosworth dfv mais leve e compacto facilitou a distribuiçao de massa e o equilibrio dinamico do conjunto o bt49 estreou nas duas ultimas etapas da temporada de 1979 ainda de forma experimental e teve somente em 1980 sua primeira temporada completa — agora com nelson piquet como piloto principal da equipe substituindo niki lauda que deixara a formula 1 ao final do ano anterior [caption id= attachment_381791 align= aligncenter width= 1103 ] murray o novato piquet e lauda em 1979[/caption] piquet rapidamente se adaptou ao carro e a equipe demonstrando velocidade e maturidade impressionantes para um piloto que estava apenas em sua segunda temporada completa o bt49 se mostrou competitivo com tres vitorias e o vice campeonato de pilotos para piquet que ficou atras apenas de alan jones com a williams fw07 outro carro com efeito solo avançado [caption id= attachment_381793 align= aligncenter width= 1013 ] murray e piquet no bt49 em 1979[/caption] para 1981 gordon murray atualizou o carro para a versao bt49c enfrentando um novo desafio a proibiçao das saias moveis pela fia essa regra que visava reduzir a downforce e melhorar a segurança afetava diretamente os elementos geradores de efeito solo em resposta murray adotou saias fixas deslizantes em ranhuras o que manteve parte do desempenho sem violar a nova regulamentaçao alem disso ele implementou um sistema inovador de suspensao hidropneumatica ajustavel que permitia a brabham controlar a altura do carro nos boxes o carro estava dentro da altura minima exigida; mas em movimento a suspensao rebaixava automaticamente restaurando o efeito solo maximo essa manobra explorava uma brecha no regulamento e permitia a brabham manter sua vantagem aerodinamica o sistema nao era apenas engenhoso — era tambem politicamente sensivel pois as demais equipes logo perceberam que a brabham havia contornado o espirito da regra ainda assim a fia permitiu seu uso por boa parte da temporada apesar dos protestos dos rivais e a brabham colheu os frutos piquet venceu tres corridas argentina san marino e alemanha e manteve uma consistencia notavel superando adversarios como carlos reutemann williams e jacques laffite ligier no final da temporada no controverso gp de las vegas piquet garantiu o titulo de campeao mundial de 1981 — o primeiro de um brasileiro desde o bicampeonato de emerson fittipaldi em 1974 e o primeiro da brabham desde 1967 com denny hulme finalmente um projeto de murray era coroado embora a equipe tivesse terminado o mundial de construtores em segundo lugar o bt49d de 1982 deu continuidade a plataforma mas a temporada foi marcada por instabilidade politica guerra entre foca e fisa acidentes e a chegada do novo motor turbo da bmw que ainda estava em fase de desenvolvimento piquet venceu o gp do canada mas o ano foi inconsistente ainda assim o bt49 em suas varias versoes foi um simbolo do auge tecnico da engenharia de gordon murray um carro equilibrado veloz ajustado com precisao milimetrica as nuances do regulamento o sucesso do bt49 tambem consolidou a parceria entre murray e nelson piquet uma dupla que compartilhou nao apenas talento tecnico e pilotagem refinada mas uma relaçao de confiança comunicaçao e respeito mutuo que seria fundamental no proximo passo da carreira de murray o brabham bt52 turbo no inicio de 1983 a formula 1 vivia uma transiçao tecnica os motores turboalimentados ate entao pouco confiaveis e usados por poucas equipes notadamente renault e ferrari começavam a mostrar um potencial de potencia superior aos cosworth dfv aspirados que haviam dominado os anos 1970 a brabham sob a liderança tecnica de gordon murray e gerencial de bernie ecclestone ja havia firmado um acordo com a bmw motorsport para o desenvolvimento de um motor 1 5 litro turbo de quatro cilindros — o bmw m12/13 o motor era baseado no bloco de ferro fundido dos antigos carros de turismo bmw dos anos 1960 mas a engenharia germanica o transformara em um pequeno monstro capaz de passar dos 850 cv em configuraçao de classificaçao na primeira temporada dos motores turbo contudo o brabham bt50 o novo carro turbo da equipe enfrentou severos problemas de confiabilidade detonaçao e consumo o que comprometeu sua competitividade a equipe passou parte da temporada intercalando o bt49d com cosworth e o bt50 turbo mas em 1983 tudo seria diferente [caption id= attachment_381798 align= aligncenter width= 1200 ] o brabham bt50[/caption] no fim de 1982 a fia baniu os carros com saias aerodinamicas e o efeito solo determinando que os carros deveriam ter um assoalho plano entre os eixos de uma hora para outra murray e as demais equipes precisavam repensar completamente seus conceitos de chassis suspensao distribuiçao de peso e aerodinamica novamente em seis semanas gordon murray projetou um carro do zero o bt52 um carro inteiramente novo construido em torno do motor bmw turbo e suas caracteristicas [caption id= attachment_381801 align= aligncenter width= 2560 ] o brabham bt52[/caption] o carro era visualmente radical com seus sidepods curtos asas traseiras largas e a famosa pintura branca e azul da parmalat patrocinadora da brabham murray concentrou todo o peso motor transmissao radiadores o mais proximo possivel do eixo traseiro para otimizar a traçao uma vez que o motor turbo despejava torque subitamente em rotaçoes medias a massa concentrada na traseira resultou em um carro que tracionava melhor que a concorrencia especialmente em pistas de baixa aderencia o chassi era um monocoque de aluminio reforçado com distribuiçao de peso calculada para equilibrar a brutalidade do turbo e a reduçao do efeito aerodinamico nelson piquet que ja mantinha uma relaçao solida com murray soube extrair o maximo do carro a temporada de 1983 contudo foi acirrada piquet enfrentou a forte oposiçao de rene arnoux e patrick tambay ambos com a ferrari 126c3 e de alain prost com o renault re40 a ferrari tinha potencia e confiabilidade a renault velocidade e aerodinamica — mas a brabham tinha a criatividade e liberdade de piquet e murray que decidiram usar o reabastecimento como estrategia de corrida [caption id= attachment_381800 align= aligncenter width= 1287 ] um dos pit stops da brabham no gp da alemanha de 1983[/caption] as paradas planejadas para reabastecimento nao eram comuns na epoca mas ao usa las como estrategia de prova piquet poderia largar mais leve com menos combustivel para ganhar vantagem depois realizava pit stops rapidos para reabastecimento parcial retomando o ritmo forte no segundo stint essa inovaçao estrategica surpreendeu os rivais e rendeu vitorias importantes a piquet permitindo que ele assumisse a liderança do campeonato nas etapas finais a decisao do titulo veio no gp da africa do sul em kyalami piquet precisava terminar ao menos em quinto lugar para conquistar o campeonato com sagacidade e segurança terminou a prova em terceiro e garantiu o titulo piquet tornou se o primeiro campeao com um carro turbo e murray o primeiro projetista a vencer um campeonato com um carro turbo o titulo infelizmente tambem marcou o fim da brabham como potencia dominante ja que nos anos seguintes a bmw enfrentaria dificuldades com a confiabilidade do motor o que levou piquet a seguir para a williams ao final da temporada de 1985 e murray e trocar a equipe pela mclaren ao final de 1986 um coadjuvante discreto na mclaren ao deixar a brabham no final de 1986 gordon murray foi recrutado por ron dennis para integrar a mclaren international como diretor tecnico de desenvolvimento e design avançado o momento era estrategico a equipe se preparava para uma reformulaçao tecnica completa depois da saida de john barnard para a ferrari o ambiente era propicio para inovaçoes e dennis ofereceu a murray a liberdade necessaria para pensar adiante o primeiro projeto em que murray esteve envolvido foi o mp4/3 usado na temporada de 1987 embora ainda derivado de conceitos de barnard o carro ja apresentava ajustes aerodinamicos e de arrefecimento com a assinatura discreta de murray principalmente para lidar com os motores turbo tag porsche — que na pratica ja estavam defasados frente aos propulsores honda ferrari e renault mesmo assim alain prost conseguiu algumas vitorias importantes mantendo a equipe competitiva no fim de 1987 a mclaren anunciou um movimento decisivo a parceria com a honda que forneceria seus motores ra168e v6 turbo ate entao usados pela williams com grande sucesso e paralelamente ayrton senna foi contratado para correr ao lado de prost em 1988 era a hora de projetar um novo carro do zero em torno dessa nova motorizaçao — e essa seria a obra prima da equipe o mclaren mp4/4 a paternidade do mp4/4 e controversa gordon murray diz que o mp4/4 foi um carro derivado do mp4/3 que por sua vez e um carro baseado nos seus esboços para o bt55 de 1986 — murray deixou a brabham ao final daquela temporada para ocupar o cargo de diretor tecnico da mclaren em 1987 de acordo com esta versao da historia murray levou o projeto pois era legalmente o detentor dos direitos sobre ele steve nichols o projetista da mclaren na epoca diz que gordon murray estava de fato na mclaren e era o diretor tecnico mas de acordo com seus relatos ele era muito mais diretor do que tecnico e nunca trouxe tais projetos da brabham porque isso seria anti etico — entao isso nunca aconteceu segundo nichols foi ele mesmo quem ficou encarregado do projeto do carro e dificil chegar a uma conclusao sobre a verdadeira autoria do carro o bt55 foi projetado e disputou a temporada de 1986 enquanto o mp4/3 foi desenvolvido um ano depois com o mesmo conceito — e quando gordon murray chegou a equipe o mp4/4 embora desenvolvido do zero para se adequar as mudanças no regulamento e ao novo motor honda manteve o mesmo conceito de chassi lowline com uma linha de perfil rebaixada teria nichols se inspirado no bt55 murray realmente levou o projeto do bt55 para a mclaren ou tudo foi uma mera coincidencia e possivel que nichols tenha se inspirado no bt55 tal como e possivel que gordon murray tenha percebido essa influencia no mp4/3 e mais tarde no mp4/4 como diretor tecnico ele provavelmente foi um dos responsaveis pela aprovaçao — dai deve ter surgido a disputa pela autoria alem disso estamos falando de um intervalo de dois anos na formula 1 dos anos 1980 quando as equipes tinham mais liberdade para mudar o design dos carros — e justamente em um ano no qual o regulamento sobre o design dos carros foi revisado em entrevistas recentes nichols contou detalhes do projeto como somente alguem profundamente envolvido poderia contar — algo que gordon murray nunca se importou em fazer segundo o projetista americano o mp4/4 foi um projeto desenvolvido do zero que so herdou do mp4/3 a linha de perfil baixa [caption id= attachment_381762 align= aligncenter width= 999 ] nichols murray e neil oatley[/caption] e plausivel portanto que o mp4/4 tenha sido desenvolvido por nichols sob uma supervisao tecnica discreta de murray — segundo um memorando interno da mclaren foi o proprio murray que encarregou nichols dos projetos do mclaren mp4/3 e mp4/4 o quanto ele influenciou e algo que nunca saberemos o que se sabe e que o mp4/4 usa conceitos adotados por murray no fracassado bt55 de 1986 como a linha de perfil baixa o chamado chassi skate com a distribuiçao de peso cuidadosamente equilibrada e aerodinamica extremamente limpa com o motor honda um v6 de 80º o centro de gravidade era baixo e o carro era confiavel potente e progressivo — facilitando um mapeamento eficiente em termos de consumo — algo fundamental sob um regulamento que baniu o reabastecimento e limitava o consumo a 150 litros por prova independentemente da autoria o trabalho de murray como diretor e nichols como projetista resultou no carro mais dominante da historia da formula 1 foram 15 vitorias em 16 corridas possiveis um titulo de construtores para a mclaren e o titulo de pilotos para ayrton senna com alain prost como vice campeao juntos eles somaram 199 pontos mais que o triplo da ferrari a segunda colocada no mundial de construtores a vida fora da formula 1 murray nao permaneceu na f1 por muito tempo depois disso em 1989 ja com a proibiçao dos turbos e a chegada dos motores honda v10 aspirados o mp4/5 foi desenvolvido sem seu envolvimento ele passou a ocupar um cargo mais voltado a inovaçao e projetos especiais dentro da mclaren liderando por exemplo o projeto do mclaren f1 no inicio dos anos 1990 — o projeto mais famoso e bem sucedido de sua carreira ao longo de duas decadas na formula 1 gordon murray nao apenas projetou carros vitoriosos — ele redesenhou a propria forma de pensar o que um carro de corrida pode ser da leveza e eficiencia do bt44 a ousadia tecnica do bt46b fan car ; da genialidade conceitual do bt52 criado em apenas seis semanas a supremacia absoluta do mp4/4 murray mostrou que engenharia nao e apenas uma ciencia exata mas tambem pode ser humana considerando a força da personalidade necessaria para realizar projetos como os que ele realizou seu trabalho se destacou nao apenas pela inovaçao mas pela capacidade rara de transformar limitaçoes — regulatorias tecnicas ou materiais — em oportunidades estrategicas enquanto muitos engenheiros viam o regulamento como um obstaculo murray o via como um convite a criatividade depois da f1 ele continuaria a deixar sua marca na historia do automovel foi o responsavel pelo lendario mclaren f1 depois criou sua propria empresa a gordon murray automotive dedicada a construir carros leves eficientes e radicais em seus principios — como o t 50 e o t 33 verdadeiros manifestos contra o excesso tecnologico e a favor da interaçao homem maquina mas talvez seu maior legado esteja na forma como aproximou o engenheiro do artista murray foi um desenhista obcecado por proporçoes um tecnico apaixonado por harmonia mecanica um pensador que via beleza onde outros viam apenas numeros na formula 1 ele nao apenas acompanhou a evoluçao tecnologica — ele a impulsionou a subverteu e por vezes a antecipou seu nome esta entre os poucos capazes de rivalizar com os grandes chefes de equipe e os pilotos lendarios nao porque venceu mais mas porque mudou mais em uma categoria onde vencer e dificil e inovar e arriscado gordon murray fez as duas coisas — mais de uma vez
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