Já percebeu que a publicidade que aparece nos sites que você visita — o FlatOut, inclusive — fala exatamente sobre assuntos do seu interesse? Isso acontece porque o Google coleta dados de navegação dos usuários para otimizar o direcionamento desse tipo de publicidade.
O mundo conectado funciona assim. Se você tem acesso aos dados que estão do outro lado da linha, é por que o outro lado da linha também tem acesso aos seus dados. E é por isso que existem leis de proteção de dados sigilosos, que regulam o que “o outro lado” pode fazer com o que ele sabe sobre você.
Com os carros cada vez mais eletrônicos, as coisas não são muito diferentes. A navegação por GPS integrado, por exemplo, te mostra onde você está e como fazer para chegar a algum lugar. Mas se você olhar pelo outro lado do balcão, ele também pode contar a alguém onde você esteve, onde você foi, por qual caminho, em qual horário e à qual velocidade. Assustador, não?
Então veja só o que o vice-presidente de marketing e vendas da Ford, Jim Farley, disse sobre essa possibilidade de coletar dados do seu carro durante esta semana na CES, em Las Vegas:
Nós sabemos quais motoristas descumprem a lei, sabemos quando estão fazendo isso. Se há um GPS no seu carro, sabemos o que você faz, mas não fornecemos estes dados a ninguém.
O argumento para a coleta de dados é o mesmo de todas as empresas que fazem isso: utilizar as informações em benefício dos clientes — nesse caso dos carros, os dados anônimos podem ajudar a buscar soluções para o trânsito e até para eventuais upgrades nos carros.
Logicamente, a coleta de dados de usuários sempre gera a preocupação dos especialistas em segurança digital e dos mais céticos e com as declarações de Farley não foi diferente — especialmente quando o caso do vazamento de informações da NSA, a agência de segurança nacional dos EUA, ainda está quente na memória de todo o mundo. Até que ponto os dados serão compartilhados e sigilosos, e que tipo de empresas e pessoas terão acesso a eles?
Pensando mais adiante, se o sistema de navegação for integrado ao computador de bordo (caso dos Track Apps do Mustang, na foto acima), significa que ele está conectado à ECU do carro. Então, se houver uma forma de registrar esses dados, o fabricante pode ter acesso a absolutamente tudo o que acontece em seu carro — da posição da borboleta, à temperatura do ar-condicionado digital durante o percurso registrado pelo GPS. Só faltaria a câmera e o microfone para transformar seu carro em um Big Brother sobre rodas. Pensou no datalogger do Corvette Stingray? Nós também.
Por outro lado a Ford deixou claro que os GPS dos seus carros não registram dados o tempo todo, e que alguns serviços precisam ser ativados pelos usuários. Além disso um vazamento como o da NSA teria efeitos muito mais danosos a uma megacorporação como a Ford, podendo afetar diretamente a credibilidade da marca e, principalmente seu valor de mercado, por exemplo. A responsabilidade pela coleta de dados, nesse caso é muito maior.
Mas em tempos em que seu celular, seu computador e seu cartão do banco registram dados privados, não surpreende que os carro também comecem a fazer isso. A questão real é até quando a utilização desses dados será benéfica e quais as chances de que eles possam ser usados contra nós.
O que vocês acham disso? Vale a pena ceder um pouco da sua privacidade em troca de produtos, serviços e tecnologias melhores, ou chegaremos a um ponto no qual todos os nossos movimentos serão controlados e vigiados?