Desde que Gran Turismo 6 foi lançado, em dezembro de 2013, a desenvolvedora Polyphony Digital deu início a uma “brincadeira” com diversas fabricantes de automóveis: cada uma criaria um carro conceito especialmente para o game, e teria total liberdade para fazê-lo como bem entendesse — desde que o resultado ficasse de acordo com a identidade de cada marca. O que também é algo subjetivo.
São quase trinta as marcas participantes, e várias delas já mostraram seus conceitos — que, em sua maioria, não passaram de exercícios de design virtual de uma ousadia que só um game pode permitir. Algumas delas, no entanto, decidiram criar versões “de verdade” de seus conceitos. Foi o que a Bugatti e a Hyundai também fizeram, e ainda aproveitaram o Salão de Frankfurt para mostrá-los ao público. Vamos conhecer melhor seus conceitos agora.
Bugatti Vision Gran Turismo
À primeira vista, o conceito da Bugatti parece um belo sucessor para o Veyron. Contudo, a companhia francesa naturalizada alemã jura que seu Vision Gran Turismo não é uma previsão do tão aguardado Chiron. Quer dizer, dependendo da interpretação que se der às palavras de Wolfgang Dürheimer, atual presidente da Bugatti:
O Bugatti Vision Gran Turismo é o primeiro passo de uma nova jornada, na qual embarcamos depois do sucesso do Bugatti Veyron, e que culminará com a revelação do novo superesportivo da Bugatti em um futuro não muito distante. Este projeto mostra a nova linguagem de design da marca, que foi desenvolvida para celebrar este novo capítulo em nossa história.
Trocando em miúdos, isto quer dizer que, sem dúvida, elementos estéticos do Vision Gran Turismo estarão no Bugatti Chiron. Mas o que ele traz de novidade, então?
Bem, não dá para dizer que não há traços do Veyron no conceito. No entanto, isto se limita às proporções e às linhas gerais da carroceria. Nos detalhes, trata-se de um carro muito mais complexo e, por que não, moderno — afinal, o Veyron deu as caras onze anos atrás, em 2004.
A Bugatti diz que, além de ser uma evolução natural do Veyron, o Vision Gran Turismo busca inspiração no passado da marca nas pistas. Em especial, no Bugatti Type 57 Tank, o vencedor das 24 Horas de Le Mans em 1937 e 1939. Obviamente que estamos falando de um carro de quase oito décadas atrás, mas é possível enxergar suas influências no formato da grade, nas proporções gerais da carroceria e, principalmente, na pintura em dois tons de azul.
De acordo com a empresa, o desenvolvimento do carro virtual levou em consideração dados simulações realizadas pelo time de engenharia para carros de verdade da Bugatti. Além disso, o trabalho foi supervisionado por engenheiros do departamento de competição do grupo Volkswagen — tudo para garantir que a experiência de guiar o carro de corrida virtual fosse a mais autêntica possível. Ao todo, a Bugatti dedicou mais de seis meses ao projeto — o que é bastante para um carro feito para um jogo de videogame.
Todos os elementos aerodinâmicos são funcionais — das nas laterais dos para-choques à “barbatana” no teto, típica dos protótipos Le Mans, passando pelos vincos na carroceria, tomadas de ar e difusor traseiro. Até mesmo os faróis dianteiros executam função dupla: além de iluminar o caminho, seus alojamentos servem como tomadas de ar para resfriar os freios.
A Bugatti diz não ter estabelecido nenhum limite a seu time de engenheiros, que foram guiados apenas pelas normas de segurança da FIA — o que faz um pouco mais de sentido se considerarmos que o conceito do mundo real tem até mesmo um interior completo. Por dentro, o Vision GT deixa claro que é um carro voltado para as pistas, pois não conta com itens de conforto ou conveniência mandatórios em um superesportivo de rua.
Em vez disso, minimalismo impera. Os comandos são simples e há apenas dois mostradores para o piloto: um no volante e outro na coluna de direção. O primeiro atua como o cluster de instrumentos principal, trazendo todas as informações relevantes sobre o funcionamento do carro. O segundo exibe imagens em tempo real das três câmeras espalhadas pelo exterior do Vision GT. O ambiente é todo azul, com revestimentos em suede e fibra de carbono exposta.
Não há especificações sobre peso ou potência: a Bugatti se limita a dizer que o carro recebeu um motor W16 quadriturbo — o que significa que podemos esperar números parecidos com os do Veyron — e que, em simulações feitas por computador em uma versão virtual do circuito de La Sarthe, o Vision GT foi capaz de superar os 400 km/h.
Hyundai N 2025 Vision Gran Turismo
Enquanto o Bugatti Vision GT dá pistas de como poderá ser o Chiron, no lado coreano da força as coisas são mais concretas. Quer dizer: a Hyundai já deixou claro que seu N 2025 não deixará de ser um conceito agora, nem em 2025, nem nunca, mas isto não torna o carro menos importante. Sua revelação em Gran Turismo 6 e no Salão de Frankfurt representa o lançamento de uma nova divisão de alto desempenho: a divisão N, que será para a Hyundai o mesmo que a Nismo é para a Nissan, ou a divisão M para a BMW.
Para ficar mais sério do que isto, só se o N 2025 fosse correr nas 24 Horas de Le Mans. Dizemos isto porque, apesar de não declarada, a inspiração é evidente — é só reparar nas proporções gerais, nas rodas parcialmente descobertas e na barbatana que percorre o teto e desemboca na asa traseira, novamente seguindo os padrões estabelecidos pela FIA. Até mesmo a pintura, com um pouco de imaginação, lembra o clássico esquema da Gulf Oil.
Além disso, há o fato de o motor, ainda que virtual, entregar nada menos que 884 cv — resultado da soma dos 679 cv do motor movido a célula de combustível, posicionado atrás do cockpit; mais 205 cv entregues por dois motores elétricos nas rodas dianteiras. Estes são alimentados por um sistema de recuperação de energia cinética (KERS). De acordo com a Hyundai, o conjunto mecânico não é apenas potente: ele também representa o que há de mais avançado no campo da eficiência energética.
Tanto a carroceria quanto a estrutura do tipo monocoque fazem uso extensivo de fibra de carbono — essencial para atingir o baixo peso de apenas 972 kg. A marca diz que projetou o carro de forma que ele “pareça flutuar”, mas obviamente a função não é apenas estética: os vãos entre os para-lamas e os suportes do splitter frontal levam a dutos que percorrem todo o assoalho e minimizam a pressão do ar abaixo do carro, produzindo mais downforce. Além disso, a asa traseira funciona como freio aerodinâmico, dando uma força para os discos nas rodas.
Diferentemente do conceito da Bugatti, porém, o Hyundai N 2025 não traz um interior completo — trata-se apenas de uma maquete, mesmo. Uma bela maquete, por sinal.