Não faz muito tempo que falamos aqui sobre os carros modernos que melhor homenageiam seu passado (parte 1, parte 2). O Ford GT, supercarro inspirado no GT40 que venceu as 24 Horas de Le Mans quatro vezes seguidas entre 1966 e 1969, foi um dos destaques. E com razão: apresentado em 2005, ele conseguiu o feito de se manter extremamente fiel às formas do clássico sem parecer deslocado no tempo, mesmo 40 anos depois.
O Ford GT começou a ser concebido no início da década de 2000, e o primeiro conceito foi apresentado no Salão de Detroit de 2002, em comemoração ao 100 anos da fabricante. A Ford não planejava transformá-lo em um carro de rua, mas a recepção do público e da imprensa foi tão boa que, em 2004, o modelo já estava na linha de produção.
Fiel às linhas e proporções do GT40 original por dentro e por fora, o Ford GT era movido por um V8 de 5,4 litros equipado com compressor mecânico do tipo twin screw, capaz de entregar 558 cv a 6.500 rpm e 69,1 mkgf de torque a 3.750 rpm. Câmbio? Manual de seis marchas, e só. A carroceria era alumínio, enquanto o monobloco trazia alumínio e magnésio em sua construção.
O Ford GT era capaz de chegar aos 100 km/h em 3,5 segundos, com máxima de 330 km/h. Sendo um supercarro americano, ele também mandava muito bem no quarto-de-milha (402 metros): 11,2 segundos a 211 km/h. Além disso, com suspensão independente por braços sobrepostos nos quatro cantos, sua estabilidade impressionava tanto quanto o desempenho em linha reta. Clarkson que o diga:
As duas partes de uma vez
O caso é que esta é a história que todo mundo sabe. Menos conhecido é o fato de que, em 2005, a Ford apresentou uma versão conceitual conversível do Ford GT, chamada GTX1. Feito para o SEMA Show, a maior feira de carros modificados do planeta, o GTX1 original começou sua vida como o segundo Ford GT produzido na história. E ele era vermelho, e não laranja com listras prata — a nova cor foi fruto de uma repintura.
A ideia veio de Kip Ewing, que, na época, era engenheiro supervisor da SVT, ou Special Vehicle Team, divisão de alto desempenho da Ford (os caras por trás da picape F-150 SVT Lightning e do Mustang SVT Cobra, além do próprio Ford GT. Enquanto trabalhava no lançamento do supercarro, Ewing simplesmente achou bacana a ideia de uma versão roadster. Para sua (e nossa) sorte, ele estava na posição de fazer isto acontecer, e fez.
O trabalho de conversão ficou a cargo de uma fabricante de carrocerias americanas chamada Genaddi Design Group. Definidas as linhas do roadster, a Genaddi teve poucos meses para transformar aquele Ford GT cupê em um conceito pronto para o SEMA Show 2005. As linhas gerais do carro permaneceram inalteradas — obviamente, com exceção do teto, que foi removido; do deque traseiro, que foi refeito para incorporar barras de proteção (os famosos “santantônios”); das portas e colunas “B”.
Além disso, os amortecedores foram retrabalhados (o GTX1 é 2,5 cm mais baixo em relação ao solo) e as rodas são maiores. O sistema de escape original também foi substituído por um da Borla, garantindo que o ronco do motor ficasse ainda mais alto e encorpado — o que cai como uma luva em um conversível, diga-se. Falando em motor, o GTX1 recebeu modificações que garantiram um aumento de potência para mais de 700 cv. As mudanças jamais foram detalhadas (o que é comum se tratando de conceitos), mas sabe-se que, além do escapamento Borla, o compressor mecânico recebeu uma nova polia, e que o sistema de injeção foi remapeado.
Sem supresa, o carro foi um sucesso no SEMA Show — tanto que, depois do evento, seguiu para sessões de fotos, reportagens em revistas e programas de TV e se tornou o wallpaper no computador da molecada. Nessa brincadeira, o carro acumulou mais de 53 mil milhas (pouco mais de 85 mil km) no hodômetro. Nada mais natural, afinal o GTX1 deve ser realmente incrível de guiar.
A verdade é que muita gente pensou o mesmo. Tanto que, para atender à demanda, a Ford autorizou a Genaddi a realizar a conversão por conta própria — desde que o cliente comprasse um Ford GT zero-quilômetro e o enviasse direto para a sede da companhia, em Wisconsin. Cerca de 50 exemplares foram convertidos.
Isto explica o fato de este exemplar, à venda em uma loja chamada Topline Motors, nos Emirados Árabes Unidos, não ter rodado mais do que alguns metros. O dono original, que pediu pelo mesmo esquema de pintura do primeiro protótipo, deve ter esquecido de ir buscar…
A loja pede 1,69 milhão de Dirhams — ou pouco mais de R$ 1,66 milhão. Considerando que, nos últimos anos, o valor dos Ford GT vem crescendo consideravelmente (atualmente os preços oscilam entre o equivalente a R$ 700 mil e R$ 1,4 milhão, lá fora), pode ser uma opção interessante.