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Em outubro de 2008 a Ford finalmente trouxe ao Brasil o Focus de segunda geração. O modelo havia sido lançado na Europa em 2004 com um visual mais convencional, que não foi muito bem recebido pelo público local. Como o modelo brasileiro estava apenas em seu quarto ano de mercado, a Ford manteve a primeira geração até o fim de seu ciclo de sete anos (um padrão da indústria), o que aconteceu no final de 2008.
Àquela altura o Focus de segunda geração já havia sido reestilizado com uma nova dianteira bem mais harmônica e, ao mesmo tempo, mais palatável para o gosto brasileiro — especialmente por não ser tão polarizadora quanto a primeira geração.
Ele chegou inicialmente apenas com o motor 2.0 Duratec recalibrado para produzir 145 cv em vez dos 147 cv da geração anterior devido ao novo protocolo de emissões adotado a partir de 2009. Combinado à carroceria maior em todos os aspectos — no peso, inclusive — ele perdeu um pouco da agilidade da primeira geração, mas ganhou muito em conforto, especialmente para os ocupantes do banco traseiro, graças ao entre-eixos 2,5 cm mais longo e a largura 14 cm maior. O aumento das dimensões refletiu no peso do carro, que passou dos 1.150 kg para 1.350 kg. Foi um ganho significativo para um carro que perdeu 2 cv.
Naquele primeiro ano o Focus foi oferecido somente nas versões GLX e Ghia, que diferenciavam-se externamente pelas rodas de liga leve (cinco raios no GLX e sete raios duplos no Ghia), nos detalhes cromados da versão Ghia na grade dianteira inferior, e no emblema Ghia na coluna C. O pacote de equipamentos, claro, era bem mais generoso na versão de topo. Somente o Ghia tinha partida por botão/chave presencial,ajuste da assistência do volante, sistema multimídia da Sony com comandos no volante, teto solar e bancos de couro com ajuste lombar de série.
Em 2009 veio a versão 1.6, porém não com o motor Rocam, e sim com o “novo” Sigma 1.6 16v. Novo está entre aspas porque a família Sigma foi lançada em 1995 na Europa, e já havia sido vendida no Brasil entre 1996 e 2000, como Zetec SE no Fiesta e na Courier. O motor do Focus era uma versão atualizada, também com comando duplo no cabeçote, porém ainda sem variador de fase e com apenas 115,6 cv — um ganho de somente 2,6 cv com etanol, visto que o antigo Rocam produzia 113 cv com o combustível vegetal.
Apesar disso, o cabeçote multiválvulas e o projeto mais moderno fizeram dele um carro melhor em altas rotações, e em velocidades rodoviárias — possivelmente com uma curva de potência mais elevada a partir das 4.000 rpm quando comparado ao Rocam, que parece ter uma curva mais plana. Como seu antecessor, o motor 1.6 era flexível e oferecido somente na versão GL e GLX. A primeira era uma novidade na segunda geração do Focus e, previsivelmente, era mais simplificada que a GLX, perdendo os vidros elétricos das portas traseiras e o rádio com bluetooth. Rodas de liga leve e computador de bordo continuavam sendo equipamentos de série, mas os faróis de neblina passaram a ser opcionais na GLX 1.6.
A chegada do modelo 1.6 ajudou a engrossar o volume de vendas e o Focus superou o envelhecido Golf em 2010, tornando-se o terceiro hatch médio mais vendido no Brasil. Outra novidade que o ajudou naquele ano foi a chegada do motor 2.0 flex, que devolveu ao Duratec seus 147 cv e ainda acrescentou mais 1,3 cv para chegar aos 148,3 cv quando abastecido com etanol (143 cv com gasolina) usando um coletor de admissão variável. O novo motor também trouxe um novo câmbio para o Focus 2.0, que passou a usar a caixa IB5 do Focus 1.6, no lugar da robusta MTX75 usado até então.
Logo em seguida, na linha 2011, o Focus Ghia deixou de ser oferecido e foi substituído pelo Focus Titanium, ganhando faróis direcionais com sensor crepuscular, sensores de chuva, retrovisor eletrocrômico e rodas de 16 polegadas com o mesmo desenho das rodas do Focus ST. Nesse ano o GLX também passou a ser faróis de neblina de série na versão 1.6, sensor crepuscular e de chuva, sistema keyless e sistema multimídia My Connection na versão 2.0, e porta-luvas refrigerado em todas as versões. Foram as últimas alterações no Focus, que se manteve assim até o fim de sua carreira, depois de apenas cinco anos-modelo, no final de 2013.
Por que considerar um Focus de segunda geração?
Se você gostou da ideia de ter um Focus mas acha a primeira geração antiga demais — afinal os modelos mais novos estão completando 12 anos —, o Focus de segunda geração pode ser uma boa opção. Ele já não é mais tão ágil como seu antecessor, mas está longe de ter um desempenho fraco e o aumento das dimensões o tornaram mais espaçoso e confortável.
Quem procura o bom comportamento dinâmico da primeira geração também encontrará neste Focus, porque ele manteve a aclamada suspensão traseira independente com excelente calibragem e um bom equilíbrio entre conforto e desempenho. “Ele ainda tem o DNA da primeira geração, faz curvas muito bem como o anterior. Mesmo que seja mais pesado e pouca coisa menos ágil, ele é mais confortável de rodar no dia-a-dia, com um acerto mais macio“, conta Henrique Almazan, proprietário de um Focus 2.0 Sedan 2009 há oito anos.
O acabamento e o pacote de equipamentos também é um atrativo em sua faixa de preço. Ainda que alguns rivais ofereçam equipamento semelhante, o Focus tem em seu favor a maior popularidade que faz suas peças serem mais fáceis de se encontrar. Em 2011 foi vice-líder do segmento e em 2012 foi o hatch médio mais vendido no Brasil. “É um excelente custo/benefício no mercado de usados. Principalmente pelo pacote que oferece. O que o Focus Titanium oferece você encontra por, no mínimo, o dobro do valor dele hoje. O painel é soft touch, bancos de couro de ótima qualidade, mesmo os plásticos são de acabamento satisfatório“, conta Fernando Zimmermann, proprietário de um Focus Titanium Hatch 2011/2012.
Em termos gerais, os proprietários entrevistados mencionam a robustez e a confiabilidade do carro, que apresenta poucos problemas crônicos e tem manutenção relativamente simples se feita corretamente. Custando entre R$ 25.000 e R$ 45.000, ele oferece um nível de equipamentos, confiabilidade e, principalmente, de conforto que se destaca entre os carros da mesma faixa de preço.
As versões que recomendamos
As melhores versões dependem da faixa de preço e do que você procura no carro. Se a ideia é ter um carro com bom desempenho, a escolha óbvia serão as versões 2.0. Os entrevistados apontam que os modelos a gasolina são os melhores e mais confiáveis — além de ter o câmbio MTX75 europeu em vez do IB5 mexicano na versão manual.
Os modelos flex, por outro lado, são pouco mais potentes e podem ser mais convenientes para quem está acostumado a usar etanol — especialmente no estado de São Paulo. Além disso, são a única opção para quem procura um Focus mais novo. Nos dois casos — mono e flex — a dica é procurar com calma, porque é possível encontrar as versões de topo pelo mesmo preço do GLX. Os modelos Ghia/Titanium foram oferecidos com câmbio manual, mas são muito raros, então é mais fácil encontrá-los com o câmbio automático de quatro marchas. Se você prioriza o conforto, são elas as versões a serem escolhidas. Se você quiser desempenho ou pretende comprar o carro para preparação, os modelos GLX com pacote de opcionais e com o motor a gasolina são a melhor opção.
O Focus 1.6 é uma boa escolha se você procura conforto, mas não faz questão de desempenho e usa o carro em cidades sem trânsito ou em viagens. O motor 1.6 pede rotações elevadas por não ter variação do comando de válvulas, então o consumo no pára-e-anda do trânsito urbano pode acabar elevado a ponto de se igualar ao 2.0. Nesse caso, a versão recomendada é a GLX 1.6 a partir de 2011, que tem faróis de neblina de série e o porta-luvas refrigerado, além de ter problemas menores sanados pela fabricante.
Quanto custam?
Focus GLX 2.0 gasolina: R$ 26.000 (2009) a R$ 32.000 (2010)
Focus Ghia 2.0 gasolina: R$ 28.000 (2009) a R$ 34.000 (2010)
Focus GLX 2.0 flex: R$ 28.000 (2009) a R$ 42.000 (2013)
Focus Ghia/Titanium flex: R$ 33.000 (2011) a R$ 45.000 (2013)
Focus 1.6 GLX flex: R$ 25.000 a R$ 35.000 (2013)
Em que ficar de olho?
Apesar da fama de confiabilidade, o Focus de segunda geração tem alguns pontos críticos que precisam de atenção para não se tornar um problema maior. O mais comum são os coxins do motor. Tanto nas versões 1.6 quanto nas versões 2.0 os coxins são hidráulicos. Preste atenção se o motor se movimenta demasiadamente ou se transmite vibrações para a cabine. Aqui não é uma questão de fragilidade, mas de custo de reparo, pois eles custam cerca de R$ 500 o conjunto.
Os modelos automáticos têm um problema crônico nas semi-árvores, que acabam com folgas, causam ruídos e precisam ser trocadas. São peças caras e difíceis de se encontrar — as originais podem chegar aos R$ 5.000 o par.
Nos modelos flex alguns proprietários apontaram a possibilidade de problemas elétricos menores. Verifique se as luzes de checagem do airbag se acendem e apagam normalmente, pois pode ocorrer um problema no sensor de afivelamento do cinto de segurança (que é interligado ao airbag para detonar o sistema de retenção em caso de acidente) e seu reparo pode variar desde uma limpeza com spray limpador de contatos elétricos até a troca completa do cinto de segurança.
Alguns modelos 2.0 também apresentam problemas na bobina de um dos cilindros, mas este é um problema fácil de se identificar e de resolver. Se a bobina estiver falhando o motor ficará mais áspero e com pouco torque, além de produzir vibração irregular em marcha-lenta. “Se for com motor 2.0 Duratec recomendaria prestar atenção principalmente em vibrações excessivas e na rotação do motor, ambos em marcha lenta. O primeiro devido à um problema comum de ocorrer nos coxins, e o segundo devido à problema na bobina de um dos cilindros. Não são peças extremamente caras, mas ajudam a indicar o estado geral do carro, que por sinal é muito confiável“, explica Jonatas Rodrigues, dono de um Focus GLX 2009 deste 2015.
Outro ponto a se prestar atenção é no ruído da suspensão traseira, que repete o problema da bieleta da barra estabilizadora apresentado na primeira geração — o que faz algum sentido se considerarmos que se trata de uma evolução da suspensão independente “Control Blade”. O reparo também é fácil e barato.
Por último, no modelo 1.6 é importante questionar o vendedor sobre a manutenção da correia de sincronização. O motor Sigma usa correia dentada em vez de corrente, e a manutenção deve ser feita por volta dos 100.000 km, com troca da correia, polias, rolamentos e tensores. Se o carro já tiver mais de 100.000 km, peça alguma comprovação da troca e observe o estado geral da correia (que geralmente tem a data de fabricação estampada). Se o carro estiver próximo desta quilometragem, considere a troca na conta.
Onde e como achar peças?
Infelizmente não há um catálogo online onde é possível encontrar o part number para ajudar na pesquisa das peças. Por outro lado, por ser um modelo relativamente popular no mercado e ter usado um powertrain produzido até poucos anos atrás, é fácil encontrar componentes nas concessionárias da marca e em lojas de auto peças. As concessionárias recomendadas foram as do grupo Souza Ramos e Sonnervig. Pela internet, os proprietários indicam a Memorial Peças e a FordeTem, ambas lojas especializadas em peças da Ford. Há também diversos grupos de entusiastas dos modelos Ford nas redes sociais.
Testemunho dos proprietários
Angelo Fantin (@angelofantin)
Angelo tem 30 anos, é servidor público e mora em Concórdia/SC. Filho de um funcionário de concessionária Ford, ele conta que cresceu no trabalho de seu pai e se apaixonou pela marca. Sempre teve modelos da Ford e comprou seu Focus GLX 1.6 em 2016.
Saí de um Fiesta Rocam pro Focus Mk 2.5, um GLX 1.6. O desempenho é bem próximo ao do antigo Fiesta. Não surpreende, mas não deixa a desejar. Só desenvolve depois das 2.500 rpm, e por ter primeira e segunda marchas mais curtas, o carro parece um pouco amarrado. Da terceira para cima, ele anda bem com giro alto — já que é 16 válvulas.
Sobre o consumo, ele varia muito de acordo com o estilo de condução e da forma de uso. Na minha cidade, que tem muitos aclives, faço entre 8,5 e 9 km/l com gasolina. Na rodovia, a 100 km/h ele chega a 14 km/l. A 110 km/h cai para cerca de 12 km/l.
Por outro lado a dirigibilidade do carro é muito boa. Ele é envolvente, você sente bem o carro. Ele te passa muito a sensação de controle e responde bem aos movimentos da direção. Na estrada é excepcional.
Carina Santos
Carina Santos é oficial de justiça e vive em Brusque/SC. Ela comprou seu Focus GLX 2.0 manual zero-quilômetro em 2009 e o utiliza até hoje diariamente para o trabalho e lazer. Já rodou mais de 250.000 km com o carro.
Com 11 anos de uso intenso, um quarto de milhão de quilômetros rodados, sendo 180.000 km em estradas rurais, rodovias de pista dupla, ruas esburacadas. Só agora ele começou com os primeiros barulhos. O sensor do alarme também parou de funcionar e o para-sol perdeu a pressão que o mantinha fechado, mas eu o uso como se fosse um Jeep diariamente. Realmente não tenho do que falar mal.
Lucas de Biazzi Neves (@lbngarage)
Lucas é jornalista, tem 29 anos, mora em Mogi-Mirim/SP e conheceu o Focus em seu lançamento nacional no ano 2000, onde se apaixonou pelo carro. Quase 20 anos mais tarde, em dezembro de 2017, ele finalmente comprou seu Focus, um modelo GLX 2.0 ano 2012.
Ser apaixonado por carros no Brasil é você sofrer um pouco na hora de comprar um carro. Muitas vezes temos que ficar entre razão e paixão. O quanto o custo-beneficio de um modelo vem na frente do prazer de dirigir. Mas ainda existe uma salvação para os que tentam escolher algo que equilibre essa balança. E essa salvação para mim é o Focus 2.0 Duratec. Câmbio manual, praticamente 150 cv disponiveis aliados q uma suspensão ao mesmo tempo confortável e também pronta para quando quiser encarar umas curvas mais quentes.
Nesses tempos de pandemia, pude sentir bem isso ao fazer um passeio com um amigo, cada um no seu carro. Ele com o seu New Fiesta 1.6 manual e eu com o ilustre carro da nossa matéria. Pegamos um trecho de retas, onde deu para fazer um bom comparativo amigável entre os carros. Em retomada, o Fiesta saiu um pouco na frente, bem provável devido ao motor 2.0 16V do Focus começar a encher por volta das 3.000 rpm.
Quando chegamos a essa faixa de giro, não deu outra. O Fiesta apareceu no nosso retrovisor e foi ficando cada vez mais longe. Entramos sentido a uma estrada de serra, ou seja, com bastante curvas. Onde mais uma vez, o Focus deu conta do recado, mesmo não tendo nenhuma alteração na sua suspensão. Voltei para cada mais tranquilo e relaxado, curtindo o passeio em todo o seu conforto, com uma velocidade entre 80 e 100 km/h. Um ponto importante do carro, é ser tão bom quanto é andando mais forte, quanto apreciando a paisagem.
Viajo constantemente com o carro, principalmente para ir para a faculdade. Acostumei a ir em um ritmo mais tranquilo e vendo o computador de bordo cada vez mais aumentar a média de consumo feita. Consegui várias marcas acima dos 11 km/l, o que considero muito bom, no etanol. Mas também se pisa, aí vem aquela famosa máxima de “Cavalo corre, cavalo come”. Vida que segue. Mas viajo tendo a certeza que estou muito mais seguro que se tivesse em um carro popular brasileiro. Sendo um projeto inglês, o Focus conta com ABS, 2 Air Bag, e pneus próprios tanto para o asfalto seco quanto molhado. Isso graças aos Michelin Primacy, linha que desde que coloquei a primeira vez nele, nunca mais tive problemas com chuva. Peguei uma das “brabas” na Imigrantes a noite, e ele não me deixou na mão.
Claro que todos os projetos vem com coisas que precisam e podem ser melhoradas. A suspensão do Focus, mesmo sendo um padrão melhor do que estamos acostumados, em certos pontos acaba sofrendo com a baixa qualidade das nossas estradas e ruas que muitas vezes causam inveja à superficie lunar. Fato percebido quando utilizei por quase um ano o Focus como meu veículo de Uber. Sim, ele não teve só vida fácil, mas também trabalhou e foi muito bem na tarefa.
Passou por alguns maus-bocados infelizmente, como o dia que pegamos uma quase enchente e um bairro não-asfaltado na periferia. Mas também tirou de letra, com a nossa unica perda sendo a placa dianteira. Depois de todo esse trabalho, comecei a notar que começou um barulho meio chato na parte dianteira. Levamos no mecânico, que trocou uma das peças, e parou o barulho. Mas agora percebemos que ele está de volta, mas apos acabar essa loucura vamos levar para resolver.
Um problema chato que já vi acontecer com muitos donos do modelo é a questão do rádio My Connection, que costuma dar muito problema com os modos de Bluetooth e USB. O rádio perde essas funções com frequência. Mas é um problema que muitos estão resolvendo trocando a placa de Bluetooth do som, uma peça facilmente encontrada nos sites de vendas por aí e com um preço baixo. A minha está guardada aqui, também pronta para ser trocada, de novo, quando tivermos condições de fazer o serviço com segurança. De resto, não me vem na cabeça mais tipos de problemas crônicos, só alegrias. Para quem tem sobrando na conta algo na faixa dos R$ 30.000 e quer uma escolha sensata mais ao mesmo tempo apaixonante, faça um test-drive e, de preferência, a transferência.