Eu já estava bastante satisfeito com os progressos que consegui fazer no meu carro. Ele estava na altura que considero ideal, com belas rodas 18” e desempenho melhor que o original. Porém, nas minhas pesquisas (que acabaram culminando nessa postagem) comecei a ficar realmente tentado a trocar os comandos de válvulas.
Após alguns meses de pesquisa de preço e espera os Drag Cartel Drop-In Cams (DIC) aparecerem em promoção. Para mim, esses são os melhores comandos para os motores Honda série K considerando comandos do tipo “drop in”, que não pedem troca de molas e travas de válvulas, pratinhos, etc. Mesmo na promoção, uma compra dessa não dá para chamar propriamente de “barata”, mas apertando um pouco mais o cinto era viável e o Amex cantou feliz.
Aproveitei que eles seriam trocados e comprei outras peças para fazer uma revisão. Tensor da corrente dos comandos é primordial quando se troca eles, ainda mais considerando que o meu estava beliscando os 140 mil km de vida, então comprei um novo. Os tensores da correia de serviço já estavam dando seu canto do cisne, então comprei novos, assim como a correia em si. Tudo peça OEM Honda, que seriam bem mais baratas se o dólar tivesse mais baixo, mas paciência, a gente tem que dançar conforma a música que tá tocando no momento.
A embreagem já estava muito pesada e nunca havia sido trocada, então isso era um indício de fim de vida, comprei um kit da Exedy que substitui o OEM. Além de mais barato, esse kit lida melhor com o incremento de potência que eu esperava. Aproveitei o ensejo e resolvi trocar também o cilindro mestre do acionamento da embreagem. A peça original Honda possui uma espécie de câmara de ressonância de vibrações (círculo vermelho na imagem abaixo).
Isso deixa o acionamento mais uniforme, sem vibrações no pedal, mas com um pênalti que eu considero grave. Nas trocas de marcha daquele jeito, isso faz com que a embreagem náo desacople como deve, ocasionando aquelas arranhadas de marcha ou até mesmo que a marcha não entre, principalmente nas trocas 1ª-2ª e 2ª-3ª. Naquela viagem para o Canadá e EUA veio comigo na mala um kit de cilindro-mestre e duto de malha de aço (popularmente conhecido como aeroquip) também da Exedy.
Após todas as peças estarem na mão, foi mais uma questão de casar agendas. Como eu sabia que o carro precisaria ficar parado por alguns dias, tentei planejar de deixar o carro no período que estaria de férias. Acabou que a oficina estava muito cheia, e quando voltei o carro ainda não estava pronto. Isso não foi de todo ruim, já que deu tempo de entregar o cilindro-mestre novo lá para ser montado tudo de uma vez.
Os únicos pontos a se observar, foram uns engasgos bem leves em determinadas situações. Como eu levei o Hondata Flashpro comigo, consegui pegar essas situações fazendo datalog e que o Felipe viu e corrigiu posteriormente, no ajuste fino.
Já neste mês, fomos para o dinamômetro onde o Felipe poderia fazer o ajuste fino de injeção, ponto de ignição e variação de fase dos novos comandos, tendo como base o ajuste básico já feito e alguns datalogs coletados por ele e por mim. O resultado final está aí abaixo, um ganho final de 11 hp e 1 kgf.m nas rodas, mas foi percebido ganho de torque (e consequentemente de potência) em toda a faixa de rpm.
Sabem aquela máxima “Se você não olhou para trás, você está com o carro errado”? Eu posso me considerar um cara realizado nesse aspecto. Nunca pensei que ia gostar tanto de um carro, ao ponto de cogitar seriamente não vendê-lo nunca. Eu tenho alguns amigos que possuem carros alçados a essa categoria, e apesar de admirá-los por isso, não entendia direito o porquê.
Nunca me imaginei na mesma situação. Hoje é assim que eu me sinto com meu carro. Ele não é o mais rápido, o mais econômico, o com a pintura mais brilhante ou o melhor conservado de todos. Mas aquele outro clichê que eu não me lembro bem, mas diz algo a respeito das cicatrizes contarem histórias não poderia ser uma verdade mais sólida. Cada arranhão, mossa, marca de uso é na verdade um causo, uma história, um fato da minha vida. E eu não sei se devo vender a minha vida assim.
Epílogo
Na quarta-feira, dia 9 de novembro, ganhei um dos melhores presentes de aniversário da minha vida, que foi ter a oportunidade de acompanhar os treinos oficiais do GP Brasil de F1 do camarote Sky Lounge, da Mercedes-Benz. Como o convite foi muito em cima da hora, as passagens para São Paulo, ida e volta, estavam com preço praticamente igual o que paguei para ir e voltar de Toronto. Liguei para o Felipe, meu amigo e preparador do SI, já que o carro ainda estava lá com ele. Ainda bem que o carro estava praticamente pronto, faltava somente fazer o acerto básico.
Recebi o carro no dia seguinte. Eu já tinha contado para ele da viagem, e que a faria com o Civic. O ajuste que foi feito ainda não era o fino, porém o carro estava pronto e poderia pegar estrada até mesmo naquele momento, caso eu quisesse.
Na sexta-feira, dia 11, menos de 24h após ter pego o carro, por volta de 10h da manhã, eu liguei o carro e caí na estrada. Às 22h da noite, eu o desliguei já no hotel, em São Paulo. Na segunda-feira, 14, fiz o caminho de volta. O carro se comportou exatamente da maneira que eu esperava. Não deu absolutamente nenhum problema e a viagem foi uma das mais legais que já pude fazer na vida.
Por Carlos Eduardo Almeida, Project Cars #368
Uma mensagem do FlatOut!
Carlos, não poderíamos concordar mais com esse desfecho do seu Project Cars. Um carro que não te faz contar histórias, olhar para trás e não marca bons momentos se torna apenas um equipamento de mobilidade, sem grande valor além do material. Parabéns pelo projeto e pelas histórias com o carro!