É arriscado fazer afirmações definitivas como esta mas, desta vez, decidi… arriscar: mesmo quase dois anos depois, Horizon Chase continua sendo o melhor game de corrida que você pode ter no seu celular.
Sim, como já disse, eu sei que é preciso tomar cuidado. Mas é que, no último fim-de-semana, finalmente criei vergonha na cada e baixei o game sobre o qual falamos pela primeira vez aqui no FlatOut em agosto de 2015, logo que foi lançada a versão para iOS. Depois de jogar a prévia gratuita, com apenas três pistas e dois carros liberados, dissemos: é totalmente viciante.
Já se passaram dois anos, novos games foram lançados e a fama de Horizon Chase se espalhou bastante. O jogo é uma homenagem declarada e escancarada a Top Gear, o clássico lançado em 1992 para o Super Nintendo, que completou 25 anos nesta semana. O aniversário de Top Gear foi a oportunidade perfeita para, finalmente, dar a Horizon Chase a atenção que ele merece.
Para começar, o jogo foi totalmente desenvolvido no Brasil, pela Aquiris Game Studio, desenvolvedora sediada em Porto Alegre/RS, e chamou a atenção do mundo todo. A indústria de games mobile é extremamente concorrida e, em meio a tantos clones, é difícil se destacar. Ainda mais com um jogo pago.
Depois de jogar as primeiras cinco corridas, você precisa ir até o menu e optar pela versão completa, que custa R$ 4,99 – quase nada, convenhamos. E, meu amigo, que bela maneira de gastar cincão!
Como Top Gear, trata-se de um arcade puro e simples: você escolhe a pista, escolhe o carro e começa a correr. O grid de largada é composto por vinte carros, e você sempre larga na última posição. A escalada até a liderança depende muito mais da sua habilidade do que do desempenho dos diferentes carros, que é bastante equilibrado. A jogabilidade é muito mais precisa que em Top Gear, e o esquema de controles padrão é fácil de acostumar: com o polegar direito você acelera (tocando a tela) e freia (soltando a tela), com o esquerdo você muda a direção e aciona o nitro. Se não curtir você pode inverter estes comandos ou optar por outros, incluindo a opção de inclinar o celular para virar o carro. Mas não recomendo esta última pois falta precisão no acelerômetro.
Uma vez na corrida, você deve se preocupar em desviar dos outros carros, seguir o traçado da pista e pegar os galões de combustível, cilindros de nitro e fichas azuis. Os galões são essenciais, pois o tanque do seu carro vai esvaziando ao longo da corrida, e perder por falta de combustível é realmente frustrante. Já os cilindros de nitro e as fichas são opcionais: você começa com três shots de nitro, mas nem sempre precisa utilizá-los; e pegar todas as fichas em todas as corridas garante que você complete o jogo com mais de 120% e assim, consiga todos os bônus (vamos falar deles mais adiante).
Os carros e pistas vão sendo liberados à medida que você progride. E é muita coisa: nada menos que vinte carros bloqueáveis normalmente, e 74 pistas espalhadas em nove regiões diferentes. Destas 74 pistas, nove são bônus e não contribuem para a porcentagem, mas garantem que você ganhe mais carros e os upgrades para eles.
A nostalgia é garantida da tela inicial aos créditos. Tudo no game remete aos jogos de 16-bits: a jogabilidade simples e direta, os gráficos (que são tridimensionais, mas têm contornos suaves, linhas retas e cores vibrantes) e a música composta por Barry Leitch, o compositor de Top Gear, San Francisco Rush e da série Lotus Challenge. São músicas deliberadamente inspiradas em composições clássicas dos games, mas todas têm personalidade própria e são memoráveis. Não se surpreenda se ficar cantarolando as melodias o tempo todo por vários dias.
O melhor é que o jogo não cansa, além de ter um altíssimo fator replay, graças à quantidade de carros e pistas. As corridas têm de duas a dez voltas, dependendo da extensão dos circuitos, e duram algo entre um minuto e meio e três minutos, o que significa que você pode brincar por uns dez minutos ou passar algumas horas em Horizon Chase sem que se comprometa a experiência.
Mas a verdade é que isto tudo já era esperado, pois era exatamente o que o game prometia. O que me chamou a atenção de verdade em Horizon Chase foi a atenção aos detalhes entusiastas.
Todos os carros são baseados em modelos reais, e cada um deles tem seu próprio ronco. Os muscle cars, como o Dodge Charger ou o Mercury Cougar, têm roncos rasgados e graves, bem como o Dodge Viper e o Chevrolet Camaro “Bumblebee”. O Lamborghini Gallardo, a Ferrari 458 Italia ou o Koenigsegg Agera têm roncos mais estridentes. Aliás, a seleção de carros é bastante variada: Lancia Stratos, BMW M3 E92, Mercedes-Benz CLS 63 AMG e até o DeLorean DMC-12 estão presentes. Por questões de copyright, porém, nenhum deles traz o nome ou os emblemas de suas versões reais.
O desempenho dos carros é equilibrado porque o mesmo é dividido em Velocidade, Aceleração, Controle, Nitro e Combustível – e a relação entre estas características é o que define o modo como cada carro se comporta. Alguns carros são velozes e rápidos, porém ruins de curva e beberrões. Outros são excelentes na hora de virar, mas pecam na velocidade máxima, enquanto outros têm em seu forte a aceleração e consumo de combustível. E o mais legal é que dá para perceber nitidamente enquanto se joga. Algumas corridas exigem que você abandone seu carro favorito e, acredite, você vai perceber quando isto acontecer.
Os upgrades são bem úteis, e vêm em kits com itens que fazem sentido. Por exemplo, se você comprar suspensão melhor, seu carro vai melhorar em velocidade máxima e controle. Se colocar um novo sistema de injeção, o carro passa a consumir menos combustível. A revisão completa do motor inclui “novos pistões resistentes ao calor, velas e ignição melhores, assim como um sistema VVT para o comando de válvulas, maximizando o desempenho”. Mesmo que o jogador casual não saiba exatamente do que se trata isto, nós, os entusiastas, sabemos. Dá para ver Horizon Chase foi feito por entusiastas, para entusiastas.
O “DeLorean” é o melhor carro de todos, e só é liberado depois de vencer o último campeonato
E então, você começa a prestar atenção nos detalhes. O cenários são bem construídos e dinâmicos: amanhece, anoitece, começa a chover, pára de chover, a pista muda de asfalto para terra, de terra para neve, de neve para grama… e a aderência do piso muda conforme a superfície, como é de se esperar.
A variedade de cenários é enorme
Com tudo isto, é verdade, fica difícil errar. Horizon Chase acertou na mosca e acumulou prêmios desde que foi lançado, tornando-se o título de maior sucesso da Aquiris até hoje. Me pergunto porque não o baixei antes. E, na verdade, ainda não acabei: falta recolher algumas moedas para abrir o último bônus – um carro secreto. Os outros bônus também são legais – um “modo retrô”, que deixa a tela toda pixelada, e a música-tema de Top Gear em novo arranjo, que pode ser habilitada através do menu de opções.
Agora existem versões para PlayStation 4 (através da PSN), Android Play e Apple TV. Então, você não tem desculpa para não jogar. E vale a pena!