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Car Culture

Hunaudiéres, o Bentley que quase foi o Bugatti Veyron

Faz menos de um mês que a Bugatti, enfim, encerrou o ciclo de vida do Veyron com uma última unidade especial, apropriadamente batizada de “La Finale”. Foi o fim de uma era – o superesportivo foi, por dez anos, o carro mais extravagante que o dinheiro (muito, muito dinheiro) podia comprar, em todos os aspectos.

Há algum tempo, falamos de (quase) todas as edições especiais do Bugatti Veyron e também demos um giro por todos os conceitos que vieram antes da versão definitiva. Hoje, porém, vamos voltar um pouco mais no tempo e falar do Bentley que quase foi um Veyron. E, apesar de ter sido o precursor de um dos carros mais importantes dos últimos anos (goste você dele ou não), projetado pelo mesmo designer e usado o mesmo motor, você talvez nunca tenha ouvido falar no Bentley Hunaudiéres. Chegou a hora de mudar isso.

Era 1999 e, em julho do ano anterior, a Volkswagen havia comprado 100% da Bentley (na verdade, a Bentley e a Rolls-Royce, mas a segunda acabou vendida para BMW). No mesmo negócio, o grupo alemão também adquiriu toda a Bugatti Automobiles e os direitos de uso dos nomes da marca e de todos os modelos já produzidos por ela.

Então, no Salão de Genebra daquele ano, a VW apresentou dois conceitos que, de acordo com a companhia de Wolfsburg, apresentavam o direcionamento que as duas marcas tomariam dali para a frente.

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O Bugatti se chamava EB218, e era um sedã de luxo que, observado com atenção, até lembra os atuais sedãs da Bentley. Seu motor era um exagerado W18 (feito com a junção de três seis-em-linha, separados por 60° cada um) de construção extremamente complexa, 6,3 litros e 563 cv.

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O visual, projetado pelo estúdio Italdesign, trazia pelo menos uma referência que seria vista cinco anos mais tarde no Bugatti Veyron: a enorme grade semicircular, elemento de estilo presente desde os primeiros anos da Bugatti, no início do século 20; e o formato dos faróis. Nós já contamos a história dele (e dos outros conceitos que vieram antes do Veyron) aqui.

Por outro lado, o conceito da Bentley tinha um apelo mais esportivo. O Hunaudiéres, projetado pelo alemão Hartmut Warkuss, tinha este nome em homenagem à famosa reta do circuito de La Sarthe, em Le Mans. Como lembramos ainda hoje quando mostramos os protótipos do Grupo C em Goodwood, a longa reta de Le Mans não se chama Mulsanne — na verdade, ela recebeu apelido porque ela leva ao vilarejo de Mulsanne, que cedeu seu nome para a curva que vem logo depois da reta.

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De qualquer forma, a Bentley tem uma certa tradição em batizar seus carros com referências a circuitos famosos — o sedã Brooklands tem este nome em homenagem ao primeiro circuito inclinado do mundo, inaugurado em 1907; e o Bentley Arnage tem o mesmo nome de outro trecho de La Sarthe. Mas isto é assunto para outro post…

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Voltando ao Hunaudiéres, ele era um supercarro conceitual equipado com, veja só, um motor W16 de oito litros e 64 válvulas. Se estas configurações são exatamente as mesmas do Bugatti Veyron, acredite: não é coincidência. Este motor, desenvolvido pela Volkswagen na virada da década de 2000, tinha como base o W12 da marca que, por sua vez, era em essência a união de dois motores VR6 (aquele encontrado em diversos modelos do grupo VW, do Golf ao Bentley Continental).

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Era um motor bem mais simples que o W18 do sedã da Bugatti, mas ainda era uma bela obra de engenharia: os dois VR6 receberam dois cilindros a mais cada um e foram unidos pelo virabrequim. Além da relativa simplicidade, era um motor que tinha praticamente o comprimento e a largura de um V6 convencional, porém com dez cilindros a mais. Seu primeiro uso foi no conceito Audi Rosemeyer, apresentado em 2000 e, como também já dissemos, outro dos projetos que acabaram influenciando o design do Veyron.

O W16, ainda naturalmente aspirado, entregava 632 cv a 6.000 rpm e 77,5 mkgf de torque a 4.000 rpm e era acoplado a uma caixa manual de cinco marchas. O conjunto, em tese, seria capaz de levar o Hunaudiéres aos 100 km/h em 3,2 segundos.

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Um jeito fácil de descrever o Hunaudiéres: ele tinha as proporções que conhecemos em 2004 no Bugatti Veyron, porém sua identidade visual era totalmente Bentley — especialmente no formato dos faróis e da grade, além da clássica pintura verde British Racing Green com detalhes cromados, como as saias laterais e as rodas.

Na lateral, porém, é possível melhor algumas linhas que acabariam indo parar no Veyron, especialmente os vincos na região das portas e o bocal do tanque de combustível na coluna C. O interior dos dois carros também tem uma semelhança quase constrangedora.

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Em cima, Bentley; embaixo, Bugatti

Se você está pensando “isto não pode ser coincidência”, você está… certo! Pouco depois do Salão de Genebra de 1999, a VW mudou de ideia e decidiu que a Bentley deveria continuar sendo uma marca de carros de luxo, enquanto a Bugatti seria o berço de um novo hiperesportivo inspirado no Hunaudiéres.

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Warkuss, o designer do Bentley, foi o chefe da equipe que projetou os conceitos do Veyron, cujo desenho é de autoria do eslovaco Jozef Kabaň, ainda em 1999. E mais: apesar de o primeiro conceito (batizado de 18/4 Veyron em homenagem ao piloto de testes Pierre Veyron, um dos amigos pessoais de Ettore Bugatti, fundador da companhia) empregar o mesmo W18 que foi apresentado em 1999, sua evolução — o 16/4 Veyron, de 2001 — trazia atrás dos bancos traseiros o W16 do Hunaudiéres.

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Se esta não é uma ligação mais do que direta entre os dois carros, não sabemos o que pode ser. Depois de três anos de desenvolvimento, a versão de produção do Veyron era apresentada em 2004, no Salão de Tóquio. O desenho era mais refinado e harmônico e a maior novidade mecânica era a adição de nada menos que quatro turbocompressores, que elevavam a potência do motor de 632 cv para 1.014 cv, enquanto o torque saltava para espantosos 127,5 mkgf — um marco na indústria automotiva mundial.

Com esta potência, o Bugatti Veyron é capaz de chegar aos 100 km/h em 2,5 segundos, com máxima de 407 km/h — ele foi o primeiro carro de produção a ultrapassar a marca dos 400 km/h. E pensar que ele quase foi um Bentley…