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Isdera Imperator e Commendatore: os supercarros alemães com motor Mercedes que o mundo esqueceu

Sua memória é boa? Então você provavelmente lembra do Isdera Autobahnkurier, um grand tourer alemão feito com peças de Fusca sobre o qual falamos há pouco mais de três anos, em setembro de 2014. A linha do teto, o para-brisa e as portas eram claramente oriundas do Besouro, mas o motor era um V16 feito com dois motores V8 Mercedes. Sua principal inspiração era o Bugatti Type 57, e o resultado foi um supercarro com cara de clássico dos anos 30 e 600 cv à disposição do pé direito.

O Autobahnkurier começou a ser feito nos anos 80 e ficou pronto em 2006, levando mais de duas décadas para ficar pronto. Talvez porque, ao longo do tempo, a Isdera trabalhou em outros superesportivos que conseguem ser tão impressionantes quanto ele. Demoramos, mas vamos falar sobre eles hoje.

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A palavra Isdera é um amálgama de Ingenieurbüro für Styling, DEsign und RAcing, que pode ser entendido como “Escritório de Engenharia de Estilo, Design e Automobilismo” em uma tradução livre. A firma foi fundada na Alemanha em 1969 por Eberhard Schulz, e seu primeiro carro foi uma réplica do GT40 – possivelmente uma das primeiras, visto que em 1969 o GT40 conquistou a última de suas quatro vitórias nas 24 Horas de Le Mans.

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O nome do carro era Erator GTE, e ele diferia do GT40 original no desenho dos faróis e da face traseira. Era bonito e parecia muito veloz, mas o motor não era um V8, e sequer era um Ford: o Erator GTE era movido por um boxer VW arrefecido a ar de 1,6 litro com dois carburadores e 55 cv. Por sorte o carro usava alumínio na estrutura e na carroceria, pesando apenas 760 kg, e era capaz de chegar aos 175 km/h.

Mas já pode parar de rir, seu maldoso. Em versões subsequentes, o Erator GTE passou a usar o motor V6 de 2,3 litros e 110 cv do Ford Capri, elevando sua velocidade máxima até os 220 km/h. A versão final, após diversas alterações, foi equipada com um V8 M117 da Mercedes-Benz, de cinco litros, preparado para entregar 420 cv. Só assim o Isdera Erator GTE ganhou desempenho à altura de seu visual, sendo capaz de chegar aos 315 km/h.

“Tá rindo ainda? Tá?”, disse o Isdera Erator GTE

Foi ali que começou a tradição da Isdera de usar motores Mercedes-Benz em seus carros. Em 1978, foi a vez do Isdera Imperator 116i, que tinha um visual bastante familiar para os fãs mais ardorosos da estrela de três pontas.

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Tudo começou com o conceito C111 da Mercedes-Benz, de 1969. Como contamos neste post, o C111 era um conceito com carroceria em forma de cunha que foi usado pela Mercedes para diversos experimentos, de testes de motores a recordes de velocidade. Ele teve um motor Wankel de três rotores e 280 cv, um cinco-cilindros turbodiesel de 190 cv e um V8 biturbo de cinco litros e 500 cv, além de passar por algumas modificações estéticas ao longo de dez anos.

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Em 1979, logo após bater os 403 km/h na pista de testes de Nardò, na Alemanha, o C111 teve seu programa encerrado. A Mercedes-Benz precisava concentrar seus esforços no desenvolvimento de uma resposta ao do BMW Série 3, que fazia um sucesso tremendo.

O que a Isdera tem a ver com isto? É que Eberhard Schulz chefiou a equipe de design do C111 (que, àquela altura, já tinha evoluído e passara a se chamar CW311) e tinha muito carinho pelo projeto. Por mais que alguns boatos dissessem o contrário na época, a Mercedes jamais considerou colocar o conceito em produção. Schulz, então, conseguiu permissão para fazê-lo por conta própria. A relação da Isdera com a MB era boa.

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O “chapeuzinho” em cima do carro é um retrovisor periscópico

As linhas básicas do carro eram as mesmas, mas obviamente a estrela da Mercedes-Benz na grade deu lugar ao falcão da Isdera. Quando o Imperator começou a ser produzido, em 1984, o motor era o mesmo V8 M117 de 420 cv usado pela última versão do Erator GTE, mas no caso do Imperator, que usava uma estrutura tubular de alumínio com carroceria de fibra de vidro, a velocidade máxima era de 300 km/h.

Com o passar dos anos a Mercedes foi lançando novos motores, e os mesmos foram adotados pela Isdera no Imperator 116i. Foram fabricados 30 exemplares do carro entre 1984 e 2001, e alguns deles foram equipados com motores AMG. Dizem que a única forma de comprar um era ligar para a Isdera e falar pessoalmente com Eberhard Schulz, o que provavelmente dificultava um pouco as coisas.

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No entanto, talvez o mais famoso dos Isdera seja o Commendatore 112i. No embalo do post de ontem sobre o Ford Indigo, você provavelmente vai lembrar dele por causa de Need for Speed II.

Diferentemente do Imperator, o Commendatore jamais foi produzido em série. O protótipo, criado por Schulz com a ajuda de seus dois filhos, foi apresentado em 1993 durante o Salão de Frankfurt. A ideia era que uma série limitada começasse a ser fabricada logo depois, mas não rolou: a Isdera pediu falência, como diversas outras fabricantes “alternativas” de supercarros.

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O motor era um V12 AMG de seis litros capaz de entregar 410 cv. Trata-se do M120, uma verdadeira obra-prima da engenharia alemã, que esteve no cofre de praticamente todo Mercedes-Benz com motor V12 nos anos 1990 e início dos anos 2000. E isto inclui até mesmo o Mercedes-Benz CLK GTR, que nasceu para competir nas provas de longa duração e ganhou uma versão de rua para homologar o carro de corrida. Ou seja: pedigree ele tinha. Vale lembrar que o M120 ganhou versões com deslocamento ainda maior. O Pagani Zonda, um dos supercarros italianos mais incríveis de todos os tempos, usou uma versão de 7,3 litros e 760 cv — sem qualquer tipo de indução forçada, é importante frisar — no modelo 760LM.

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O Isdera Commendatore tinha linhas arredondadas e limpas e entradas de ar discretas e funcionais que trazem à mente o estilo do McLaren F1. Os faróis circulares vinham do Porsche 968, e o longo balanço traseiro era inspirado do Porsche 917 Langheck.

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O interior tinha volante e painel de instrumentos Mercedes-Benz. De acordo com informações divulgadas na época, Schulz gastou perto de € 4 milhões no desenvolvimento do carro, que tinha recursos como um freio aerodinâmico ativo que se levantava no momento em que o pedal do freio era acionado e suspensão ativa, que ajustava automaticamente a altura em relação ao solo.

O carro era um protótipo funcional e existe até hoje. O carro roda pela Europa e, vez ou outra, aparece em eventos de carros exóticos. Contudo, a melhor forma de dirigi-lo é mesmo em Need for Speed II.