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Isto é uma Ferrari 308 com três motores elétricos e o dobro da potência original

Por volta de 2010 e 2011, uma porção de casos de Ferrari pegando fogo acabou dando origem a uma piada que dura até hoje — ou vai dizer que você não vê quase todos os dias alguém falando sobre como as máquinas de Maranello têm uma queda pela auto-imolação?

Foi exatamente isto o que aconteceu com esta Ferrari 308 há alguns anos. Olha só a coitadinha:

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OK, a gente também já fez gracejos com esse assunto, mas a gente sabe o quanto é triste ver um supercarro queimado. Mesmo que seja uma 308 GTS, modelo relativamente comum para uma Ferrari — foram feitas quase 3.000 delas em dez anos —, que não tem a mesma estirpe de uma 288 GTO ou F40, mas é um belo esportivo, que faz parte da linhagem que hoje é representada pela 488 GTB.

Hoje a 308 está recuperada e a salvo, o que é ótimo. Só há um porém, especialmente para os mais tradicionalistas: agora, ela não tem mais um motor V8, e sim três motores elétricos. Chocante? Bem, eles estão dispostos em V, se isto ajudar. Ah, e ela agora se chama Ferrari 308 GTE.

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Originalmente, o motor V8 de 2,9 litros (a Ferrari arredondou o deslocamento para cima na hora de batizar a 308) entregava 240 cv e 28 mkgf de torque. É o caso deste carro, cujos dados de fábrica indicam 0-100 km/h em cerca de sete segundos e velocidade máxima de 255 km/h. Fabricado em 1978, este exemplar faz parte do primeira leva com carroceria de metal — de 1975 a 1977, o material usado era fibra de vidro. O peso subiu de cerca de 1.050 para cerca de 1.200 kg mas, em compensação, o novo posicionamento do motor deixou o centro de gravidade mais baixo.

De qualquer forma, isto não importa mais: agora, a Ferrari 308 tem 471 cv e 45,6 mkgf de torque entregues pelos três motores elétricos. São três unidades do AC 51, motor de 8” de diâmetro cuja potência de fábrica equivale a 88 cv. Porém, com um conjunto de 48 baterias de íon de lítio de 3,3V cada — produzindo no total 31,5 kWh —, a potência combinada chega aos 346 kW, ou  471 cv.

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Os três motores levam a potência para as rodas traseiras através de um eixo cardã único, que por sua vez é movido por um esquema de polias e correias dentadas. Há, ainda, um transeixo Porsche G50, usado no 911, instalado de ponta-cabeça por questões de espaço — as baterias estão distribuídas ao longo do assoalho, com 24 no porta-malas dianteiro e 12 delas em compartimentos nas laterais traseiras. Com elas, a Ferrari tem autonomia de até 160 km.

Mas, afinal, quem foi o responsável por esta heresia? Seu nome é Eric Hutchinson, que faz parte da ElectricGT, empresa especializada em converter veículos para eletricidade. Ele abriu a empresa depois de muito contato com amigos que também se aventuraram na ideia de colocar motores elétricos em carros e, inicialmente, queria algo bem mais comum — uma Kombi de primeira geração, famosa “Corujinha” (ou split-window nos EUA). Só que ele encontrou esta 308 GTB em um leilão. O carro, que havia pegado fogo, estava bem feio, com o interior todo derretido e a tampa do motor destruída pelo corpo de bombeiros, que fez de tudo para deter o fogo.

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Eric acabou arrematando a Ferrari por US$ 10 mil (aproximadamente R$ 35,9 mil), feliz com a certeza de que não deixaria os tifosi revoltados estragando uma 308 boa para restaurar. Quer dizer, ele acabou restaurando o carro, mas as adaptações feitas poderiam ser vistas como sacrilégio caso o V8 ainda funcionasse — definitivamente não era o caso. Provavelmente, não fosse por ele, a Ferrari passaria o resto dos seus dias enferrujando em um ferro velho ou, pior ainda, faria uma visitinha sem volta ao triturador. Porque ninguém daria a ela a mesma atenção que é reservada às Ferrari mais preciosas.

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Se a preocupação é o peso, Eric garante que não é um problema tão grande assim: sem tanque de combustível e aliviada em todos os lugares possíveis, o carro pesa só 68 kg a mais do que um exemplar original de fábrica, ou seja, por volta de 1.270 kg. Em quarta marcha (lembre-se, foi instalado um transeixo Porsche), a 308 GTE é capaz de chegar aos 250 km/h. A quinta marcha não está acoplada mas, em teoria, com ela o carro seria capaz de atingir até 328 km/h.

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O que realmente está incomodando a gente são estas tiras de LED na dianteira…

Eric diz que sua empresa está pronta para começar a realizar conversões comercialmente, mas usa a sua 308 GTE no dia-a-dia pois a autonomia é mais que suficiente — e, de acordo com o próprio, “é muito melhor que um Nissan Leaf”. Dito isso, ele já está começando a trabalhar no próximo projeto de conversão: um Fiat 124 Spider que também iria para o ferro velho. Pensando bem, a gente também iria preferir um clássico renovado a um elétrico moderno. Ao menos por enquanto.