Se realmente quer entrar de cabeça no mundo dos simuladores de corrida, não basta ter um bom computador: você ter de investir em um bom volante também. Um conjunto de boa qualidade, com pedais moduláveis e volante com force feedback (que usa motores elétricos para simular o peso e a resistência do volante de um carro de verdade em diferentes situações) custa, em média, R$ 1.500. É o caso do Logitech G29, por exemplo, que só não traz uma alavanca de câmbio manual.
Com um volante desses, você consegue ter uma experiência consideravelmente mais envolvente e realista do que teria usando o teclado do PC ou um controle de videogame. No entanto, existem equipamentos muito, muito mais sofisticados que podem ser usados para simular uma corrida de automóveis com realismo extremo, incluindo a movimentação do carro e as forças G agindo sobre o corpo do piloto.
Já falamos de alguns cockpits com simulação de movimentos antes, e alguns deles já levaram o realismo a níveis altíssimos – como o CXC Motion Pro 2, que custa o equivalente a R$ 160 mil. Por esta grana, você leva para casa um cockpit com um sistema de simulação de movimentos capaz de gerar 1,63 mkgf de torque, enquanto a maioria das alternativas disponíveis no mercado não passa dos 0,2 mkgf. O que isto significa? Que, dependendo da intensidade dos movimentos, o CXC Motion Pro 2 pode até te machucar.
Acontece que existe sistemas ainda mais extremos em termos de realismo e simulação de movimentos. É o caso do simulador Ansible Motion Delta, que além de oferecer uma experiência audiovisual extremamente imersiva, possui tecnologia para simular até mesmo a inércia sob aceleração e desaceleração de forma contínua. É por isso que, bem, ele custa £ 1 milhão, ou cerca de R$ 4,12 milhões em conversão direta.
O preço é em libras porque a Ansible Motion é britânica. De acordo com eles, seus simuladores são tão sofisticados que equipes da Fórmula 1, da Nascar e do WEC, além de fabricantes de automóveis estão entre seus clientes. E há bons motivos para isto.
O modelo de simulador mais avançado da Ansible Motion, o Delta Series, precisa de uma sala inteira só para o equipamento. Uma tela curva, de mais de 180 graus, recebe as imagens projetadas, e a plataforma com o cockpit fica no meio. Dentro dela, o piloto usa fones de ouvido para ficar totalmente imerso na simulação. Mesmo em vídeo é possível ter uma noção de como os movimentos do cockpit são perfeitamente integrados às imagens e alinhadas com os comandos e instrumentos físicos da cabine.
O fundador da Ansible Motion, Kia Cammaerts, diz que o principal diferencial do simulador Delta Series e os outros simuladores de movimento é a forma como estes movimentos são gerados: em vez de um sistema hexapodal, com seis pés articulados (sistema surgido nos simuladores de aviação e utilizado, com adaptações, pela maioria dos simuladores de carro atualmente), a plataforma usa um suporte móvel com esteiras e polias para realizar movimentos verticais, laterais e longitudinais.
De acordo com Kia, tais características trazem dois benefícios principais: um ambiente mais confortável para o piloto e uma precisão muito maior nos movimentos, permitindo-se quvoce simule o comportamento de diferentes tipos de automóveis com fidelidade. Conforme ele mesmo explicou ao AutoExpress:
[Os simuladores hexapodais] não se movem rápido o bastante e induzem náuseas. Se o movimento do simulador deixa o piloto desconfortável, então o feedback é ruim. Simuladores hexapodais são bons para entretenimento, porque te fazem se sentir em um carro de verdade, mas não em carro específico. O propósito de um simulador de direção é justamente saber se você está em um determinado modelo de carro esportivo ou SUV, por exemplo. Caso contrário, não é muito útil.
O truque usado pelo Delta Series é o modo como os movimentos são realizados. Eles são sutis, e não atuam sobre o corpo do piloto, e sim em seus ouvidos. Mais precisamente, no aparelho vestibular, um conjunto de nervos, músculos e pequenos ossos que são responsáveis pelo seu equilíbrio. Ao realizar os movimentos certos, o simulador da Ansible Motion faz com que o aparelho vestibular transmita sinais neurológicos que o cérebro interpreta como movimentos. Como não dá solavancos bruscos, porém, o Delta Series não causa enjoo.
Dito isto, o simulador traz outro recurso importante: a simulação das forças G sob aceleração e desaceleração. Atrás do cockpit, uma espécie de braço mecânico controlado pela mesma CPU é preso ao capacete do piloto para simular a inércia agindo sobre a musculatura do pescoço. Segundo a Ansible Motion, o sistema é exclusividade da companhia, e é a peça que faltava para conseguir uma simulação virtual praticamente perfeita de uma corrida de verdade.
O conjunto completo do Ansible Motion Delta Series inclui equipamentos de telemetria em tempo real. É algo dispensável para o consumidor comum, mas para uma equipe de corridas ou fabricante de automóveis é essencial. No caso de uma equipe, por exemplo, os engenheiros podem dar feedback ao piloto em tempo real observando os dados de telemetria, ajudando-o a aperfeiçoar seu traçado em versões virtuais de circuitos do mundo todo. Uma fabricante pode testar diferentes acertos de suspensão sem, de fato, modificar um carro de verdade, economizando tempo e dinheiro em seu desenvolvimento. Ou seja: as possibilidades são muito maiores do que jogar Assetto Corsa.
(via WTF1)