Jackie Chan é certamente uma das personalidades mais conhecidas e mais queridas de Hollywood. E não estamos falando só do o sentimento de nostalgia que muita gente tem em relação a seus filmes – são mais de 150 em toda sua carreira no cinema, que começou na década de 1960. Jackie Chan também é carismático, filantropo e, claro, exímio artista marcial, conhecido por seu estilo acrobático (que, aliás, levou vários moleques a se machucar tentando imitá-lo) e por dispensar dublês na maioria de suas cenas de ação.
No entanto, há uma faceta de Jackie Chan que você talvez não conheça: ele é entusiasta de automóveis, como nós. Ele não ficou famoso, contudo, por uma bela coleção de carros ou algo do tipo – nem faz seu estilo. No entanto, eles já dirigiu alguns automóveis bem bacanas em alguns de seus filmes. Mais do que isto: ele também dispensava dublês em boa parte de suas cenas ao volante.
Tudo começou em 1981, com The Cannonball Run (conhecido no Brasil como “Quem não Corre, Voa”), no qual Jackie Chan teve um papel pequeno – Subaru Driver nº 1. Evidentemente, na versão do trailer feita para Hong Kong, Jackie Chan teve um destaque muito maior do que no filme…
Neste filme, Jackie dirige um Subaru DL – outro nome para o Subaru Leone hatchback, movido por um boxer de quatro cilindros e 1,6 ou 1,8 litro.
Em Cannonball Run 2, lançado em 1984 e exibido no Brasil como “Um Rally Muito Louco”, o personagem de Jackie Chan retorna. Desta vez, ele é um engenheiro da Mitsubishi – sim, ele virou a casaca e está listado nos créditos como “Mitsubishi engineer” – e tem uma participação mais proeminente, com mais falas e mais cenas de ação.
Desta vez, seu colega de equipe é um gigante (interpretado por Richard Kiel, morto em 2014 aos 75 anos) e seu carro, um Mitsubishi Starion Turbo. O Starion era um esportivo bem interessante, e não apenas por seu visual: o motor era o quatro cilindros de dois litros 4G63, o mesmo usado no Lancer Evolution anos mais tarde, com turbo e 200 cv. No filme, o carro de Jackie Chan ainda era capaz e andar sob a água, como o Lotus Esprit de James Bond. Agora, olhe bem para a lateral do carro:
Originalmente, o Starion não tinha o enorme letreiro que dizia “MITSUBISHI” nas laterais. No caso do filme, porém, tratava-se de merchandising: Jackie Chan havia firmado um contrato com a Mitsubishi, e neste contrato estava estipulado que seu personagem deveria dirigir um automóvel da fabricante.
Jackie Chan também promoveu, pela primeira vez naquele ano, o Jackie Chan Championship, um campeonato de turismo para pilotos e jornalistas automotivos japoneses cujo dinheiro da bilheteria era revertido para instituições de caridade de Hong Kong.
Foi o início de uma longa parceria, que durou mais de três décadas. A partir daí, quase todo filme de Jackie Chan contava com a presença dos carros da Mitsubishi. A seguir, algumas evidências:
Em “Detonando em Barcelona” (Wheels on Meals, 1984), Jackie Chan é dono de um food truck que vende comida em Barcelona e, evidentemente, a história se desenrola de forma a colocá-lo para brigar. O food truck em questão é uma Mitsubishi L300, van compacta que já dura cinco gerações. A L300 é toda modificada, com para-lamas alargados, suspensão preparada e um sistema computadorizado (que devia ser de última geração em 1984) que a configura para acelerar ou, bem, vender comida.
Dois anos depois, em 1986, Jackie Chan estrelou “Armadura de Deus” (Armour of God, 1986). A tal armadura é um artefato sagrado escondido em um mosteiro na Iugoslávia, e Jackie Chan é um ex-rockstar que se torna caçador de aventuras e recompensas. Foi um dos primeiros trabalhos de Jackie Chan como diretor. Como sempre, o filme é temperado com ação, comédia e kung fu, mas o que nos interessa é a cena de perseguição, filmada em Zagreb, na Croácia.
Nela, Jackie Chan dirige um Mitsubishi Colt de segunda geração, lançado em 1983, extremamente modificado: o carro tem teto targa, os retrovisores montados em cima do para-brisa, faróis de milha circulares enormes (claramente inspirados pelos carros de rali) e um gigantesco emblema Mitsubishi na grade falsa do radiador. O carro do filme também tem um motor “Twin Turbo” e, aparentemente, os turbocompressores são acionados ao toque de um botão.
Mas foi em 1993, com “City Hunter: o Caçador de Encrencas” (City Hunter, 1993) que Jackie Chan realmente se superou na ligação com a Mitsubishi. No filme (que é baseado no anime City Hunter, sobre o qual falamos recentemente), Jackie interpreta o motorista de aluguel e caçador de recompensas Ryo Saeba, enquanto Kaori, sua braço-direito, é interpretada por Joey Wong.
O grande destaque do filme é o carro que Ryo dirige: um Mitsubishi 3000GT VR4. Mas não é qualquer 3000GT (se é que existe algo como “qualquer 3000GT”, não é mesmo?), e sim o primeiro protótipo do carro, que a fabricante apresentou no Salão de Tóquio de 1989. O 3000GT começou a ser fabricado no ano seguinte.
O conceito HSX já trazia boa parte das linhas que seriam vistas no modelo de produção, além de alguns elementos de aerodinâmica ativa que a Mitsubishi vinha desenvolvendo desde 1987. O motor, de acordo com a maioria dos registros, já era o V6 biturbo de três litros e 280 cv usado no carro que foi às ruas.
Curiosamente, em 1993 a Mitsubishi começou a trabalhar na reestilização do 3000GT, que perdeu os faróis escamoteáveis característicos da primeira leva. De qualquer forma, a presença do HSX no filme de Jackie Chan foi vista como uma boa oportunidade de promover o esportivo, especialmente para o público japonês (lembrando que, no Japão, o 3000GT era vendido como Mitsubishi GTO).
O auge da parceria entre Jackie Chan e a Mitsubishi nas telas aconteceu em 1995, com o filme “Thunderbolt: Ação sobre Rodas” (Thunderbolt, 1995). Novamente Jackie interpreta um mecânico da Mitsubishi – e desta vez ele tem nome: Chan Foh To (ou Alfred Tung na versão americana) que se torna piloto de testes e ajuda a polícia a combater as corridas ilegais em Hong Kong – ainda que ele próprio participe de corridas ilegais às vezes.
Jackie Chan pilota um Lancer Evolution III amarelo no filme, e também um 3000GT de competição, enquanto os policiais e vilões usam o Nissan Skyline das gerações R30, R32 e R33.
Ele tornaria a se envolver com o Evo tempos depois. Em 2005, a Mitsubishi criou uma série especial do Mitsubishi Lancer Evolution IX, batizada simplesmente como “Jackie Chan Edition”. No total, 50 exemplares foram feitos, e a Mitsubishi disse na época que o próprio Jackie Chan havia projetado as modificações.
O resultado foi um project car típico da metade dos anos 2000: cheio de apliques de fibra de carbono, grafismos e elementos aerodinâmicos em profusão.
Hoje em dia, dificilmente o carro faria sucesso, mas estamos falando de 2005, quando “Velozes e Furiosos: Desafio em Tóquio” ainda nem havia sido lançado e todo mundo jogava Need for Speed: Underground 2. Era legal naquela época.
Além da Mitsubishi
Desde 2015, Jackie Chan também é um dos donos da equipe de corrida DC Racing, que participa do World Endurance Championship (WEC) da FIA. Jackie compete nas categorias LMP2 e LMP3, e já anunciou sua participação nas 24 Horas de Le Mans de 2017 com o piloto Tristan Gommendy.
Antes disto, a equipe já venceu o campeonato asiático de endurance em 2015, entrando para o WEC no ano passado.