FlatOut!
Image default
Motos

Kawasaki GPZ900R: a moto do clássico “Top Gun”

Como motociclista inexperiente, com pouco mais de um ano sobre duas rodas, tenho feito uma pesquisa intensiva sobre várias motos, várias fabricantes e vários estilos – descobrindo um novo e cada vez mais ardente interesse sobre as motocicletas, procurando inspiração para possíveis projetos e colocando cada vez mais motos na minha bucket list de modelos que quero testar um dia.

Ainda não é assinante do FlatOut? Considere fazê-lo: além de nos ajudar a manter o site e o nosso canal funcionando, você terá acesso a uma série de matérias exclusivas para assinantes – como conteúdos técnicoshistórias de carros e pilotosavaliações e muito mais!

 

FLATOUTER

O plano mais especial. Convite para o nosso grupo secreto no Facebook, com interação direta com todos da equipe FlatOut. Convites para encontros exclusivos em SP. Acesso livre a todas as matérias da revista digital FlatOut, vídeos e podcasts exclusivos a assinantes. Direito a expor ou anunciar até sete carros no GT402 e descontos em oficinas e lojas parceiras*!

R$ 26,90 / mês

ou

Ganhe R$ 53,80 de
desconto no plano anual
(pague só 10 dos 12 meses)

*Benefícios sujeitos ao único e exclusivo critério do FlatOut, bem como a eventual disponibilidade do parceiro. Todo e qualquer benefício poderá ser alterado ou extinto, sem que seja necessário qualquer aviso prévio.

CLÁSSICO

Plano de assinatura básico, voltado somente ao conteúdo1. Com o Clássico, você terá acesso livre a todas as matérias da revista digital FlatOut, incluindo vídeos e podcasts exclusivos a assinantes. Além disso, você poderá expor ou anunciar até três carros no GT402.

R$ 14,90 / mês

ou

Ganhe R$ 29,80 de
desconto no plano anual
(pague só 10 dos 12 meses)

1Não há convite para participar do grupo secreto do FlatOut nem há descontos em oficinas ou lojas parceiras.
2A quantidade de carros veiculados poderá ser alterada a qualquer momento pelo FlatOut, ao seu único e exclusivo critério.

Olho com carinho para as motos trail clássicas, para as big trail modernas, e para as clássicas cafe racers e scramblers que andam tão na moda ultimamente. As cruisers também são interessantes, e até as esportivas carenadas, com motor maior – embora estas últimas ainda me intimidem um pouco.

Nessa pesquisa, me dei conta de algo bem bacana: em 2021, o clássico Top Gun – ou, no título em português repetido de tempos em tempos pelo locutor da Sessão da Tarde, “Top Gun: Ases Indomáveis” – completa 35 anos. E, com isto, também completam-se 35 anos da estreia da Kawasaki GPZ900R no cinema.

Uma das fundações da carreira de Tom Cruise em filmes de ação, Top Gun é um daqueles filmes que já foram a definição de cool e descolado, mas hoje assistimos simplesmente para satisfazer rompantes de nostalgia oitentista, este fenômeno tão na moda hoje em dia. A fotografia levemente amarelada, a trilha sonora que ia de Europe a Berlin, a personalidade arrogante e despreocupada de Maverick – tudo perfeitamente encaixado na clássica cena em que ele chega com sua Kawasaki GPZ900R para encontrar sua instrutora de voo, Charlie Blackwood – que também se tornaria alvo de seus galanteios.

A cena, apesar de inofensiva e romântica com “Take My Breath Away” como plano de fundo, fez muito pela moto – que havia acabado de ser lançada e estava prestes a fazer história como a primeira Kawasaki Ninja. Ela quase chamava mais a atenção do que o caça F-14 – a ponto de tornar-se o novo sonho de consumo de uma legião de jovens assim que deixaram a sala do cinema em 1986. Os fãs da moto até hoje acreditam que ela é a verdadeira protagonista de Top Gun.

A Kawasaki GPZ900R foi lançada em 1984 (primeiro com “z” minúsculo, o que mudou depois), e chegou com uma tarefa extremamente importante: ser a primeira moto produzida em série com motor de quatro cilindros, 16 válvulas, comando duplo no cabeçote e arrefecimento líquido – uma combinação que a colocaria imediatamente à frente de qualquer rival.

O motor de 908 cm³ desenvolvia 115 cv a 9.500 rpm e 8,6 kgfm de torque a 8.500 rpm, era moderado por um câmbio de seis marchas, e permitia que a GPZ900R passasse dos 240 km/h tranquilamente. Eram números surreais para aquela época.

A moto era construída sobre um quadro de aço, do tipo berço duplo (usando o motor como componente estrutural),o tinha suspensão dianteira a ar com 140 mm de curso e 115 mm na traseira – que era do tipo monochoque (ou Uni-Trak, segundo a nomenclatura da Kawasaki). O freio dianteiro era por disco duplo 280 mm, enquanto atrás havia um disco de 270 mm, ambos com pinças de um pistão.

Mais do que uma bela ficha técnica, porém, a GPZ900R era uma moto absurdamente competente – na sua proposta de ser uma máquina de alto desempenho feita para superar todas as outras, ela era espetacular. Mas também era uma moto dócil quando em ambiente urbano, com um rodar confortável, posição de condução mais ereta e ciclística bem resolvida. E também era robusta – conseguia suportar sem problemas longas sessões de pilotagem mais animada, sem superaquecer e estragar a diversão.

É importante mencionar isto porque a GPZ900R foi criada justamente para entregar desempenho e suportar abuso sem abrir o bico. Ela foi o fruto dos esforços da Kawasaki para criar um motor altamente potente que pudesse funcionar por longos períodos sem esquentar demais – o que era uma tarefa dificílima com o arrefecimento a ar. No início do desenvolvimento da GPZ900R, que foi feito em segredo e levou seis anos, inúmeros protótipos com motor a ar, o arrefecimento não era eficaz o bastante para lidar com um ritmo de funcionamento tão intenso. Como resultado, os componentes internos do motor dilatavam com o calor e simplesmente quebravam, forçando a Kawasaki a incorporar um radiador ao projeto.

Foi a solução ideal – e um típico caso de overengineering: o motor era tão bem amarrado que a GPZ900R tinha até vocação para pegar a estrada: era elástico o bastante para funcionar bem em rotações mais baixas, em velocidade de cruzeiro, e “acendia” rapidamente quando necessário. E ainda havia um contrapeso estrategicamente colocado para reduzir a vibração do motor em rotações mais altas que funcionava muito bem.

A natureza versátil da GPZ900R – que, apesar de ser uma superbike, também fazia as vezes de sport tourer, explica-se facilmente. A princípio a Kawasaki havia pensado em uma moto mais estradeira, menos esportiva, para suceder a icônica Z1, mas o desempenho acabou “subindo à cabeça”, de certa forma. Ainda bem!

A GPZ900R, sem dificuldade, tornou-se o centro das atenções. Encarava sem dificuldade a VFR1000R da Honda quando o assunto eram longos percursos em alta velocidade – e com 100 cc a menos.

Não foi por acaso que a Kawasaki manteve a GPZ900R praticamente igual ao longo de quase vinte anos – ela foi vendida nos Estados Unidos até 1986, na Europa até 1993, e no Japão até 2003. E não é tão fácil diferenciar um exemplar de 1984 e outro de 2003 se você não souber para onde olhar.

Apesar da vida mais curta nos Estados Unidos, onde na época as motos cruiser locais ainda reinavam soberanas, foi lá que a GPZ900R estabeleceu outro marco importantíssimo – seu nome. Por lá, ela se chamava Kawasaki Ninja ZX900A, ou simplesmente Ninja 900.

A ideia partiu de Mike Vaughan, então diretor da Kawasaki USA. Ele já havia morado no Japão e, de acordo com a marca, inspirou-se nos antigos ninja (忍者) também conhecidos como shinobi (忍び), mercenários do Japão feudal que agiam como espiões, assassinos, sabotadores ou guerrilheiros e se tornaram um ícone cultural japonês, como símbolos de força, valentia e eficiência. Assim, “Ninja” é um nome mais do que apropriado para uma moto japonesa com o cacife da GPZ900R.

A Kawasaki logo transformou a linha Ninja em sua família mais numerosa. Já em 1986 foi lançada a GPZ500S, uma Ninja menor, mais barata e mais ágil. E foi só o começo: depois dela, a família Ninja já teve dezenas de representantes – incluindo uma popular e acessível versão de 250cc que fez bastante sucesso no Brasil, e ficou conhecida como “Ninjinha”.

Sem dúvida, claro, “Os Ases Indomáveis” também tiveram uma mãozinha nisso.

Não é à toa que em Top Gun: Maverick, a sequência prevista para estrear em novembro de 2021, Tom Cruise terá uma Kawasaki Ninja novamente – mas uma Ninja H2, com motor supercharged de 310 cv.