Você certamente sabe do que estou falando: a gente menciona os preços dos carros novos, e invariavelmente aparece alguém para questionar “quem é que compra carro zero-quilômetro?”
Pois bem, a maioria das pessoas que podem colocar a prestação de um carro zero-quilômetro no orçamento mensal. Porque o mundo não é feito de entusiastas dispostos a dedicar suas horas de lazer à manutenção do carro. A maioria das pessoas quer apenas dirigir o carro e, na hora de fazer as manutenções, prefere entregá-lo à concessionária pela manhã, ir para o trabalho e voltar a tarde para retirar o carro pronto para o uso por mais seis meses ou 10.000 km. Só isso.
Além disso, como o MAO já explicou antes, o carro zero-quilômetro é o melhor que um carro pode ser. A menos que seja refeito pela fabricante com peças da linha de produção, ele jamais voltará a ser tão bom quanto foi no momento em que saiu dos portões da fábrica nas costas de um caminhão-cegonha. É por isso também que as pessoas costumam vender seus carros antes que eles fiquem “velhos demais”, o que normalmente acontece depois dos 150.000 km, na percepção do mercado geral.
Quando começamos a falar de usados, a coisa muda de figura. Os semi-novos — ou melhor, os usados com menos de cinco anos – são carros que já não são perfeitos, mas ainda são relativamente fáceis de se manter. Carros que até podem ir à concessionária, mas normalmente param nas mãos do mecânico de confiança da família.
Agora, se o papo se volta para os carros mais antigos, com dez, quinze ou até vinte anos, aí o negócio é para iniciados. Gente que gosta de passar o tempo livre com seus carros, que tem disposição para cuidar do carro e, acima de tudo, conhecimento para isso. Porque se há uma certeza sobre carros mais antigos ou mesmo clássicos, essa certeza é de que ele terá algum problema cedo ou tarde. É como eu e você. Aos 15 anos podemos passar frio, dormir pouco, estudar muito e nada acontece. Já aos 30…
Então, se você quer dirigir um carro mais antigo, seja por estilo, por gosto pessoal, por falta de grana ou por qualquer outro motivo, você precisa aprender o máximo que puder sobre ele. Não estou falando de dados técnicos, mas de como ele funciona, como ele quebra e como consertá-lo. Em alguns casos você acaba aprendendo com o tempo. O mesmo vale para os antigos.
Nestes casos em que você já conhece o “temperamento” do carro, você acabará montando seu kit de sobrevivência a bordo. O problema é que isso normalmente é feito com base em (más) experiências anteriores. Ou seja: todas as roubadas que você já se meteu porque não estava preparado para resolver os problemas do carro — afinal, você não os conhecia.
Evidentemente você não precisa passar por isso. Basta ser um pouco esperto e pesquisar a respeito do seu carro e montar o kit de sobrevivência baseado no temperamento dele. Se você tem um Ford Rocam, por exemplo, é muito aconselhável ter uma ou duas tampas do reservatório de expansão do sistema de arrefecimento. Eu tenho…
Além disso, meus carros sempre tiveram seus kits de sobrevivência em um canto escondido e inofensivo. O básico? Segue a lista:
- fita isolante
- capa de chuva descartável
- par de luvas táteis
- um fusível e um relé de cada tipo usado pelo carro
- uma lâmpada de cada tipo usada pelo carro
- uma lanterna de dínamo
- um conector OBD2 Bluetooth/wifi
- uma estopa
- uma trena de 3 m
- um rolo de papel
- cabo USB e carregador 12v
- um pacote de guardanapos
- álcool em gel (sim, antes da pandemia isso já existia)
Parece muita coisa, mas tudo isso sempre coube no porta-luvas e em uma pequena bolsa junto do estepe. Falando nele, eu sempre mantenho também o jogo de porcas/parafusos para rodas de aço estampado, para usar com o estepe.
Nos carros antigos, é legal manter um jogo de soquetes nas medidas mais usadas no carro, uma correia de alternador, spray desengripante e cabos de acelerador e embreagem. A partir daí, dependendo do estoque de bordo, você começa a formar o conjunto de ferramentas. Quais chaves são necessárias para trocar o cabo do acelerador? O que você precisa para apertar o tensor da correia do alternador? Ou para acessar o giclê do carburador?
Nos carros mais modernos — ao menos nos carros feitos depois de 1996 — um conector OBD2 e um aplicativo de scanner no smartphone podem ser úteis. Há vários aplicativos dedicados a marcas específicas e você também pode desembolsar um pouco mais por um scanner mais abrangente. O que recomendo aqui é que você verifique se o modelo/versão do seu carro é compatível com determinado scanner. Alguns prometem mais do que podem cumprir e podem não ler modelos específicos do Brasil, por exemplo.
No meu carro atual, um Focus Mk1 2008, o porta-malas tem uma mochila com tudo aquilo listado acima, mais duas tampas do reservatório de expansão e uma ferramenta múltipla da Karcher, daquelas que juntam alicate, jogo de bits, lima e faca. Por uma questão de conveniência eu também tenho uma caixa dobrável de mudança, que serve para carregar as compras ou organizar a carga do porta-malas. O fato de ser dobrável permite que você a mantenha no porta-malas sem atrapalhar em viagens, por exemplo.
Tudo isso acaba cobrindo os problemas que estão ao alcance de minhas habilidades. Se precisar de algo além disso, felizmente tenho o seguro para me ajudar. Por isso também é uma boa ideia manter na agenda do celular o telefone de dois ou três serviços de socorro (guincho/reboque/plataforma), caso você não tenha seguro. Uma boa recomendação também é ter um par de cabos de recarga (chupeta, no jargão clássico da estrada), cintas de reboque e de amarração de carga, caso você tenha uma picape. Tudo depende do que você pode/quer/consegue fazer na hora do aperto.
E por aí, como é o “kit de sobrevivência” do seu carro?
Esta matéria foi sugerida pelo FlatOuter Guilherme Oliveira em nosso Grupo Secreto do Facebook. Se você quer participar do grupo, mandar suas sugestões, conhecer os bastidores do FlatOut, e descobrir promoções e matérias antes de todos, clique no botão abaixo e faça parte do plano FlatOuter!