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Laguna Seca: um festival de roncos de motor em um dos circuitos mais legais do mundo

Na última semana, entre os dias 23 e 26 de agosto, aconteceu a edição 2018 da Monterey Car Week, um dos eventos de clássicos mais importantes do calendário a nível mundial. A celebração aos clássicos que acontece em Monterey, na Califórnia, conta com exposições e leilões de clássicos que, aos apreciadores do antigomobilismo, representam oportunidades únicas de ver de perto algumas preciosidades de valor quase inestimável.

Agora, se os desfiles pelas ruas e a reunião de carros nos gramados de Pebble Beach são bacanas (bacana é bem pouco, na verdade), hoje vamos falar de outra parte da Monterey Car Week: as voltas rápidas em Laguna Seca, um dos circuitos de corrida mais famosos do planeta. Nos dias após o evento a internet recebe vídeos de alguns dos carros de corrida e esportivos clássicos mais valiosos que existem — e é claro que selecionamos os melhores para vocês. Mas antes, vamos falar um pouquinho sobre o circuito.

Meu primeiro contato com Laguna Seca foi através de Gran Turismo 2, de 1999, que foi o primeiro game da franquia a contar com circuitos do mundo real. Todo mundo gosta de citar Nürburgring Nordschleife quando fala de seus circuitos favoritos de Gran Turismo, mas o Inferno Verde só foi aparecer anos depois, Gran Turismo 4, lançado em 2004 – possivelmente devido às limitações técnicas do primeiro PlayStation, que não daria conta de recriar um traçado de 20 km. Laguna Seca, porém, é um clássico. Como não lembrar do sofrimento para conseguir domar o Dodge Viper no Corkscrew (o famoso “Saca-Rolha”) para conseguir a Super License?

Vídeo em widescreen forçado, com o game em russo, mas tá valendo

O segredo para encarar o Corkscrew é entender a física por trás dele. O “Saca-Rolha” consiste em uma curva à direita em uma subida, com ponto de tangência encoberto pela subida cega, seguida por uma repentina queda na elevação. É um desafio muito grande contorná-la de forma perfeita porque, além de não poder visualizar o traçado correto até chegar lá (o que pode ser feito após algumas tentativas e a subsequente memorização), você sofre com a inércia vertical, que sobrecarrega os pneus dianteiros e induz ao subesterço. Não é raro que em games e simuladores, e até mesmo em amadoras, os pilotos prefiram “pegar um atalho” pelos bancos de areia.

The Corkscrew at Mazda Raceway Laguna Sega

Laguna Seca foi inaugurado em 1957 e, com mais de seis décadas de história, é um do principais circuitos permanentes dos Estados Unidos. A ideia partiu de um grupo de empresários, investidores e entusiastas do automobilismo que buscava uma alternativa para o circuito de rua de Pebble Beach, considerado perigoso demais. Então foi fundada a Sports Car Racing Association of the Monterey Peninsula (Associação de Automobilismo da Península de Monterey, em tradução livre), ou SCRAMP, que até hoje administra o circuito.

A primeira corrida, realizada em 9 de novembro de 1957, foi vencida pelo norte-americano Pete Loveli ao volante de uma Ferrari 500 Testa Rossa, spyder com motor de quatro cilindros de 2,5 litros e 190 cv que teve 17 unidades fabricadas em 1956.

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O carro foi levado de volta ao circuito no ano passado, inclusive, para comemorar os 60 anos daquela primeira corrida

Os 3,6 km e 11 curvas de Laguna Seca já viram muita coisa em 60 anos. A pista serviu como palco para corridas de diversas categorias do automobilismo, como Trans-Am, Can-Am, Fórmula 5000, Fórmula Indy e American Le Mans. Também recebeu provas de motovelocidade da AMA (American Motorcyclist Association), da MotoGP e do WSBK (o Campeonato Mundial de Superbike). O circuito também é um dos mais populares em provas para carros de corrida históricos justamente por ser um dos mais tradicionais. E sem dúvida a maior reunião de bólidos antigos acontece exatamente na Monterey Car Week – como podemos atestar com a seleção de vídeos abaixo. Bora ver?

Este aqui, registrado durante a Monterey Car Week 2018, foi um dos que achei mais impressionantes: Mika Hakkinen no McLaren F1 GTR que venceu em 1995 as 24 Horas de Le Mans. Por quê? Bem… é um finlandês bicampeão da F1 domando o supercarro com o ronco do V12 de 6,1 litros como trilha sonora. Por conta do regulamento da categoria GT1, tinha potência limitada a 600 cv a 7.400 rpm – o McLaren F1 de rua tinha 627 cv. O escape menos restritivo adotado pelo modelo de competição amplifica de forma matadora o uivo dos 12 cilindros.

 

Neste outro onboard, também feito durante a Monterey Car Week, o que vemos é algo bem mais old school: Danny Baker ao volante do Lotus 27, de 1963 – monoposto da Fórmula Junior que tinha um quatro-cilindros DOHC de 997 cm³ e 75 cv – mais que suficiente para uma volta eletrizante em Laguna Seca, com o motor roncando a centímetros da câmera no capacete do piloto e uma visão privilegiada dos movimentos da mão esquerda direita de Baker nas trocas de marcha. Repare como o curso da alavanca é curto e preciso. Quem disse que não dá para se divertir na pista com um carro 1.0? 😉

 

O piloto: Zak Brown, CEO da McLaren Racing. O carro: seu recém-adquirido Audi 200 Quattro Trans-Am, que em 1986 quebrou o recorde de velocidade do circuito de Talladega Speedway ao chegar aos 332 km/h e, dois anos mais tarde, e mostrou aos norte-americanos que um sedã alemão turbinado e com tração nas quatro rodas poderia superar seus muscle cars em casa. Hans-Joachim Stuck, Hurley Haywood e Walter Röhrl hipnotizaram os espectadores com a precisão de seu trajeto nas curvas de cada corrida, carregando mais velocidade do que qualquer outro, mesmo com uma desvantagem de 100 cv em relação ao resto do grid, composto em sua maioria por carros com motor V8 aspirados de 600 cv e tração traseira. O que se seguiu foi uma sequência impressionante de oito vitórias em treze corridas, garantindo 93 pontos para a Audi, que ficou com o título de construtores na temporada de 1988 da Trans-Am. Ironicamente, Laguna Seca não fazia parte do calendário da competição…

 

Agora, por que nos prendermos apenas aos vídeos da Monterey Car Week 2018? Este é um onboard do Ferrari Racing Days 2012, evento VIP para proprietários de Ferrari, com Marc Gené ao volante do Ferrari F2003GA, monoposto da Scuderia para a temporada de 2003 da Fórmula 1. Gené, que já era piloto de testes da Ferrari naquela época, conduz no vídeo o carro que era de Rubens Barrichello. Bons tempos, aqueles: o motor é um V10 de três litros e 880 cv a 19.000 rpm, sendo que em acerto de classificação a potência chegava aos 950 cv. O tempo de Gené: 1:05,78, recorde absoluto do circuito desde então.

 

Para encerrar esta breve, porém intensa seleção, vamos de Dodge Viper – uma homenagem pessoal à minha “primeira experiência” em Laguna Seca no Gran Turismo 2. A volta fez parte da turnê que o Dodge Viper ACR fez quebrando recordes para carros de produção em circuitos do mundo todo. Sim, porque apesar de ser totalmente acertado para as pistas, com um V10 de 8,4 litros e 650 cv, o Viper ACR era um carro de rua, produzido em série. Com o experiente e carismático Randy Pobst ao volante, o supercarro americano virou 1:28,65, superando o recorde anterior, pertencente ao Porsche 918 Spyder, em quase um segundo inteiro – o 918 havia virado 1:29,89.