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Project Cars Project Cars #57

Malzoni GT “Projeto Agulha” – a história: intervenção divina

Para esse meu primeiro post no FlatOut, da série Project Cars, vou contar um pouco da minha história e da história desse modelo desconhecido da maioria dos brasileiros, mesmo entre os amantes de carros: o Malzoni GT. Meu nome é Charles, sou advogado e funcionário público, e sou um autoentusiasta desde criança. Das lembranças da minha infância, as mais marcantes são dos Galaxies e Landaus rodando imponentes nas ruas da minha cidade. Sim, eu vi esses carros rodando embora tenha apenas 36 anos.

Lembro-me dos passeios em toda linha Volkswagen com motores arrefecidos a ar, pois todo mundo nos anos 70 tinha algum carro VW.  Lembro das motos Amazonas e principalmente, dos veículos fora-de-série nacionais, como o Miúra e o Puma, que eram os carros que aproximavam os brasileiros do design dos carros internacionais. Cresci acompanhando a evolução dos carros na indústria nacional, e minha paixão são os carros das décadas de 60, 70 e início dos anos 80 – época em que as importações eram proibidas pelo governo, o que forçou os entusiastas brasileiros a criar carros que fugissem da mesmice dos parcos modelos fabricados em nosso país de então.

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Como venho de origem pobre, não tive oportunidade quando jovem de adquirir veículos fora de série naquela época, pois, apesar de ser sonho de toda a rapaziada, o preço de um fora de serie nacional era exorbitante. Uma Miura Sport (foto acima), por exemplo, chegava a custar o mesmo do que um apartamento bem localizado na cidade de São Paulo. Depois de adulto, os carros fora de serie nacionais, invariavelmente feitos de plástico reforçado com fibra de vidro, ficaram bastante acessíveis, então comecei a resgatá-los para restauração e salvação, na maioria dos casos, não só para minha satisfação pessoal, mas para a preservação da história automobilística nacional. Como a gama desses veículos é enorme, ao contrário da minha renda, tive que concentrar meus esforços em um segmento específico. Neste ponto, a emoção sempre fala mais alto, e decidi me dedicar aos esportivos nacionais – mesmo que originalmente eles não entregassem muito desempenho esportivo graças às limitações mecânicas da época.

Mas, na verdade, foram os esportivos que me escolheram. Primeiro encontrei um Puma que seria destruído, depois um Miura, depois um Bianco e assim a coleção foi se direcionando naturalmente a este tipo de veículo.

O Malzoni entrou na minha vida por intervenção divina.

Eu tinha conhecimento histórico sobre esse modelo, assim como sobre a maioria dos nacionais fora de série, e o GT era um objeto de desejo meu, não tanto pela raridade, mas pelo design dele. Ele foi projeto pelo hoje economista Francisco Malzoni (Kiko), filho do criador da Puma, que se inspirou no desenho da Maserati Khamsin para produzir esse carro sobre a plataforma mecânica da Volkswagen arrefecida a ar.

O modelo foi apresentado no salão do automóvel de 1976 ao preço de Cr$ 220 mil – equivalentes a aproximadamente R$ 100 mil em valores atuais. No período de 1976 a 1980, período em que foi comercializado, foram produzidas apenas 35 unidades.

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Revista Quatro Rodas, agosto de 1978

Embora estivesse à procura de um exemplar desde 2003, somente em 2012 decidi intensificar a procura por esse carro.

Conversando com um amigo sobre a procura pelo Malzoni o mesmo me disse: “é mais fácil encontrar uma agulha no palheiro do que encontrar esse carro” – afinal, foram produzidas pouquíssimas unidades! Recebi o comentário com um sorriso e respondi que para Deus não há tarefas impossíveis.

Na minha busca, segui todas as pistas possíveis sobre esse carro, até que numa busca por peças de Puma, acabei encontrando um Malzoni GT, na cidade do Rio de Janeiro. Como moro no interior de São Paulo, liguei imediatamente para o dono do carro e agendei uma visita para ver o carro, embora o proprietário já tivesse me enviado fotos por email durante nossa conversa.

Liguei para meu amigo Fernando Lapagesse, que mora em Saquarema (RJ), e pedi para que me ajudasse, indo em meu lugar visitar o carro, o que ele fez prontamente. Dando seu aval técnico, já que é colecionador, restaurador e fabricante de carros esportivos de fibra, concluí a negociação com o proprietário – e assim, o Malzoni imediatamente foi levado para a oficina do Fernando, a Lapagesse’s Cars para iniciar a restauração.

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Tão logo a compra foi sacramentada, compartilhei com minha esposa a notícia da compra (com jeitinho é claro) e dividi com ela minha alegria. Qual foi o passo seguinte? Entrei em contato com aquele amigo que estava descrente sobre as chances de achar um Malzoni GT e disse: “lembra do que você me disse sobre o Malzoni? Pois bem, aqui está a agulha!”

Assim começa a minha jornada na restauração deste carro que divide opiniões: alguns acham lindo, outros acham feio, alguns odeiam mecânica boxer VW, outros adoram (assim como eu). Mas de uma forma ou de outra, vou dividir minhas experiências com vocês, amigos leitores. E tenho certeza de que aprenderei com vocês também, além de saborear das histórias e experiências dos outros participantes do Project Cars.

No próximo post colocarei as fotos do início da restauração e falarei dos problemas iniciais e das suas soluções. Abraço e até a próxima!

Por Charles de Marchi, Project Cars #57

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