O quadro FlatOut Street se dedica aos carros preparados e customizados estrangeiros e nacionais, de todas as épocas e estilos.
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Achado meio perdido
Você já se perguntou alguma vez para onde vão os carros do “Achados Meio Perdidos” depois que eles são encontrados? Alguns vão para coleções, outros acabam se perdendo novamente. Alguns ganham um destino mais brilhante. É o caso desse Jetta prata, que não é o que parece.
Não que ele possa ser chamado de sleeper, afinal, suas rodas, saias e spoiler entregam que há algo especial sob o capô. Mas eles não entregam que a potência do carro quadruplicou desde que passou por nossas páginas pela primeira vez, em outubro de 2014.
Foi quando esta história começou. No dia 22 de outubro de 2014, Marcio chegou ao escritório mais cedo do que costumava e, aproveitando o tempo livre, abriu o computador para se deparar com a postagem do FlatOut do dia anterior, na qual falávamos sobre um Jetta Wolfsburg Edition equipado com o mesmo motor de 2,5 litros vendido por aqui, porém em uma inusitada combinação com o câmbio manual de cinco marchas.
Sim, inusitada porque o carro foi importado pela embaixada dos EUA no Brasil. Quais as chances de um carro americano, usado como um mero meio de transporte por um americano, ser equipado com um câmbio manual?
Mas ele era, e Marcio sabia que aquela era uma oportunidade única. Em meia hora já havia feito o depósito do sinal para o vendedor lhe reservar o carro. Aquele Jetta seria seu.
A história de Marcio com o Volkswagen Jetta começara alguns anos antes, quando ele teve um exemplar importado oficialmente pela fabricante, com o câmbio automático de seis marchas. “Eu tive um Jetta e gostei muito, mas sempre ficou aquela impressão de que ele poderia ser melhor por causa do câmbio automático”, conta.
Ele sabia que o câmbio manual resolveria parte deste problema, não apenas pelo melhor controle do motor, mas também porque uma caixa manual abriria inúmeras possibilidades para melhorar o Jetta e explorar seu potencial ao máximo.
Foi assim que naquela mesma quarta-feira, 22 de outubro, Marcio voltou para casa com seu Jetta 2.5 manual de 150 cv e começou os planos de upgrades no carro. Juntamente com seu preparador, Marcio decidiu que iria instalar um turbo e novas molas para rebaixar e modificar o controle da carroceria.
O projeto começou com um jogo de rodas OZ Superturismo e molas esportivas, algo que desse ao carro um novo visual enquanto as peças da preparação eram compradas e enviadas ao preparador. Marcio optou por esperar ter tudo em mãos justamente para poder curtir o carro. Naquele ano, por exemplo, ele já levou o Jetta ao Bubblegun Treffen ainda sem preparação — tudo levaria seis meses para chegar, mais o tempo de montagem.
Wolfsburg Edition
No Brasil os fãs da Volkswagen lembram do Logus ao ouvir o termo Wolfsburg Edition, e logo o associam a uma versão especial luxuosa e equipada com tudo o que há de melhor para determinado modelo. No caso do Jetta a história é um pouco diferente. Ele tinha bancos de couro, rodas de 16 polegadas, um “kit de inverno” com aquecedores para os bancos e teto solar elétrico, porém não tinha câmbio automático, nem o motor turbo, nem o ar-condicionado digital — isso o torna ainda mais inusitado para o Brasil: por que trazer um carro com “kit de inverno” para o maior país tropical do planeta?
Como é um carro de 2007, ele ainda tinha o 2.5 na configuração de 150 cv e veio ao Brasil naquele mesmo ano — aparentemente ele jamais foi emplacado nos EUA, já que Marcio ainda guarda a licença temporária usada pelo Jetta nos EUA.
Descobrindo o cinco-em-linha
Marcio sabia que o Jetta tinha mais potencial para upgrades — a convivência com a versão automática deixou claro isso. Agora, com o câmbio manual, ele poderia finalmente explorá-lo. Mas… como?
O Jetta nunca foi um carro muito preparado no Brasil. Ao menos não em 2015. A solução seria buscar inspiração nos projetos estrangeiros, mas isso também não ajudaria muito porque o 2.5 não era a primeira escolha do tuning euro-americano do Golf e Jetta MkV e MkVI — eles sempre preferiram o motor 2.0 TSI para isso, mais simples e fácil de extrair mais potência.
Felizmente, o fato de não ser o preferido não significava que era completamente ignorado. Marcio encontrou um conjunto dos americanos da Integrated Engineering, que produziam os componentes que ele precisava para isso. De lá vieram a tampa de válvulas o sistema de ignição e uma das peças mais importantes para a preparação: o plenum de admissão.
Você conhece a história de que o L5 do Jetta é “meio V10 Lamborghini”, não? Pois ainda que o design do bloco seja relativamente diferente, o desenho do cabeçote é muito semelhante e ajudou os especialistas da Integrated Engineering a desenvolver um coletor de admissão inspirado no coletor do V10.
Marcio comprou os componentes nos EUA e completou a lista com pistões Iapel, bielas Scat, válvulas injetoras Deka Siemens (10 delas, sendo cinco auxiliares sequenciais), bobinas R8, injeção Injepro S8000, um turbo Garrett GT3582R, pressurização Fabripower, escape Giba e abafador/saídas de escape Flowmaster. Montou tudo e, na primeira passagem pelo dinamômetro, o carro bateu nos 560 cv.
O número impressionou Marcio, mas havia algo desagradável. O motor enchia muito rapidamente e tornava o carro muito arisco para ser usado na rua, como ele desejava. Foi quando Marcio percebeu o parentesco com o motor 2.5 TFSI da Audi e decidiu girar o botão de volume até o 11. Trocou o turbo GT3582R por um maior, o Garrett GT38W, o que deixou o carro mais progressivo e extraiu ainda mais potência.
O câmbio também ganhou reforços, primeiro nas engrenagens de terceira e quarta marchas, mas uma quebra o levou a refazer todas as engrenagens forjadas e, aproveitando o câmbio aberto, instalou um diferencial com bloqueio mecânico da Wavetrack. E ele ainda foi além e instalou um kit de óxido nitroso da NOS, modelo Sniper para dar um gás extra (sim, um trocadilho infame — acontece).
Tudo isso acabou fazendo o papel da outra metade do V10 que o Jetta não recebeu. O resultado foram insanos 760 cv, medidos no dinamômetro durante o acerto do nitro, que ainda permitem que o carro seja usado de forma civilizada (embora não muito comportada, como podemos imaginar).
Para completar o pacote, Marcio ainda instalou rodas de 19 polegadas Genunine Vortex Motorsport Wheels com discos de freio do Golf R32 e pinças Brembo 17Z do Porsche Cayenne. Além disso, por compartilhar o entre-eixos com o Golf Mk5 (afinal o Jetta é o Golf sedã…), ele também pôde usar as saias do GTI e conseguiu um spoiler traseiro do Jetta GDI Cup Edition, além de instalar bancos dianteiros do Audi RS6 e volante do Golf Limited Edition — o que nos impede de chamá-lo de sleeper.
Nas ruas com 760 cv
Agora, com o carro pronto, Marcio o dirige normalmente pelas ruas e estradas, participa de encontros e já o levou para a Driver Cup, onde chegou a 250 km/h em 800 metros. Além da competição de velocidade, ele também faturou o premio de melhor motor do Bubblegun Treffen de 2015, entre outros de encontros de clubes.
Agora, ele se prepara para levar o carro a outra competição de velocidade e segue usando o carro quando pode. “Ando para todos os lados com ele, é um carro que uso mesmo, apesar de ser pouco rodado — o painel não marcou 50.000 milhas. É um carro extremamente bem cuidado. Acho que as fotos falam por si”, finaliza.