Foto: Holyday Auto
No ano passado, ficamos bem empolgados com o conceito RX-Vision Concept, que promete ser sucessor espiritual do mítico Mazda RX-7. Não é para menos: já faz quase dez anos que ouvimos boatos sobre uma suposta volta do RX-7. É tanto tempo que um novo esportivo com motor rotativo Wankel, ainda que não carregue o mesmo nome, já nos deixaria bem satisfeitos.
Em 2015, dissemos que a Mazda não iria desistir dos motores Wankel. É verdade: por mais que ele tenha deixado de ser vendido em um carro em 2012 quando o RX-8 saiu de linha, a companhia japonesa jamais deixou de trabalhar para aperfeiçoá-lo. Agora, de acordo com o a revista japonesa Holyday Auto, um novo Wankel foi aprovado pelos executivos da marca, e um esportivo equipado com ele – o tal RX-9 – deverá ganhar as ruas em 2020. Eles até fizeram algumas projeções, usando as imagens de divulgação do RX-Vision Concept como base.
A vontade de comemorar está grande, mas vamos analisar tudo com calma. Afinal, esta é uma questão delicada.
Foto: Holyday Auto
A publicação japonesa, que afirma ter uma fonte dentro da Mazda, diz que um protótipo deverá ser apresentado no Salão de Tóquio de 2017 – bem a tempo do aniversário de 50 anos do motor Wankel, que estreou em 1967 com o Mazda Cosmo Sport. A versão de produção seria mostrada na edição de 2019 do evento, e o lançamento oficial aconteceria em janeiro de 2020, ano em que a fabricante completa seu centenário. E ainda acontecem as Olimpíadas de Tóquio.
Ainda de acordo com a Holyday Auto, o carro será mesmo chamado de RX-9 – nome que já foi até registrado pela Mazda, inclusive – e deverá seguir o visual do conceito RX Vision, porém com proporções mais contidas e carroceria mais leve, de até 1.300 kg. O carro também usaria um transeixo com diferencial integrado, o que ajudaria a equilibrar a distribuição de peso com o motor na dianteira.
O motor em questão é um Wankel de nova geração, com dois rotores de 800 cm³ (ou seja, 1.600 cm³, ou 1,6 litro), turbo e 400 cv. Ele foi patenteado em abril, e a gente falou um pouco a respeito:
Neste novo motor, as válvulas de admissão ficam na parte inferior e as de escape no topo, uma configuração invertida em relação aos motores anteriores. Isso permite que eles sejam instalados em posição mais baixa, reduzindo o centro de gravidade.
Além disso, com os coletores de escape em posição elevada, o caminho até os turbos (sim, ele terá turbos) será mais curto, o que reduz o lag de funcionamento. Por último, o calisador também ficará mais perto do motor, melhorando os níveis de emissões.
Agora, o SkyActiv-R for teria sido aprovado para produção. Se for mesmo verdade, isto significa que a Mazda conseguiu contornar os maiores problemas do motor Wankel: o consumo de combustível, a queima de óleo e as emissões de gás carbônico, especialmente na fase fria (quando o motor ainda não atingiu a temperatura ideal de funcionamento).
Não é tão difícil assim de acreditar: a Mazda já havia conseguido tornar o motor Wankel bem mais eficiente para o RX-8. Devido ao formato da câmara, pode ocorrer a combustão incompleta dos gases, que acabam queimando já no sistema de escape e, com isto, produzindo mais gases na combustão. Mudando de lugar os coletores de escape; adotando outros materiais, como a cerâmica, nos componentes internos do motor e trabalhando na selagem dos rotores (esta, a grande responsável pelo consumo excessivo de combustível, por causa dos vazamentos), a fabricante conseguiu reduzir as emissões de poluentes do motor Wankel do RX-8 em até 50%, e ainda baixou o consumo de óleo.
Pode não ter sido o bastante para manter o RX-8 vivo até agora, mas não é de se duvidar que, desde então, a Mazda tenha conseguido tornar o motor Wankel eficiente a ponto de viabilizar sua produção até 2020. A companhia vem experimentando diferentes soluções, como ignição a laser, injeção direta de combustível, e até mesmo um sistema que elimina completamente as faíscas, comprimindo a mistura ar-combustível até o ponto de auto-ignição como um motor diesel.
Foto: Holyday Auto
A real é que a gente já perdeu as esperanças de ver um novo RX-7 com o mesmo apelo dos clássicos das décadas de 1980 e 1990. E, considerando todas as vezes em que ouvimos estes boatos, achamos que o melhor mesmo é não nos anteciparmos. Ainda mais considerando que, certamente, as metas para emissões de poluentes e consumo de combustível certamente estarão ainda mais rigorosas nos próximos anos.
Queremos muito ser otimistas, então vamos concluir com o seguinte: se um RX-9 com motor rotativo se tornar mesmo realidade daqui a quatro anos, será uma agradável surpresa. Vamos torcer para que isto aconteça.