Três V8 e dezenas de belas estradas. Talvez para muita gente isto não faça muito sentido, mas para quem é apaixonado por carros americanos, isto é sinônimo de satisfação. Sabe o que acontece quando pegamos esta receita e misturamos com amigos e estradas de perder o fôlego?
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Que somos apaixonados por Mopar, isto é um fato. Ah, os Mopar… Dos carros americanos dos anos 60 e 70, são os que mais nos fascinam. Pode ser que você esteja perdido, então vou explicar: Mopar é a denominação que damos aos carros fabricados pela Chrysler, incluindo aí os Dodge, Plymouth, Jeep, entre outros. Para quem gosta, eles têm visual mais matador que os carros normais. Certo dia, pensamos: por que não juntar tudo isso? Mopar, V8, estrada, amigos e cenário espetacular.
Foi assim que, no final de 2017, começamos a organizar a viagem. No início, foram vários interessados, mas sabemos bem que não são todos que topam uma aventura dessas – pelos mais variados motivos. Por fim, em setembro de 2018, tínhamos nossos viajantes definidos: Luiz, Marcelo “Ração” e Márcio.
Luiz de Brasília-DF, com seu Dodge Dart Sedan 1971
Marcelo “Ração” de Taubaté-SP, com seu Dodge Dart Coupe 1979
Márcio e Talita de Goiânia-GO, com seu Plymouth RoadRunner 1970
Ainda tivemos mais alguns integrantes no decorrer do caminho, o que tornou a viagem ainda muito mais interessante.
Planejamos um belo itinerário. Com dois carros saindo do Centro-Oeste, ainda passaríamos pelo Sudeste (onde encontraríamos o Marcelo) e pelo Sul brasileiro até chegar em Montevidéu, no Uruguai. Soa bem, não?
O primeiro ponto de encontro dos três carros foi em Águas de Lindóia, cenário comum para encontro automobilísticos. Mas esse em particular era especial: era o Mopar Nationals Brasil, encontro organizado pelo Chrysler Clube. Um lugar onde todos os veículos são Mopars. Passamos um dia interessante, encontramos muito amigos.
Pórtico em Águas de Lindóia
Abastecendo os carros com a galera de Curitiba. Imaginem a alegria do dono do posto!
Em Águas de Lindóia, agregamos mais um integrante: o Barouki. No outro dia seguimos rumo a Curitiba. De lá, partimos em um comboio de V8, junto com o pessoal de Curitiba. É muito legal ver a estrada forrada de carros com o som borbulhante dos oito cilindros e cores que em muito diferem do feijão-com-arroz moderno. É quase como voltar para os anos 70.
Porém, foi quando tivemos o primeiro imprevisto. De repente uma onda de fumaça começa a sair de um dos escapamentos do Dart do Luiz. Paramos. Avaliamos. Por um momento pensamos em cancelar a viagem, mas nós não podíamos desistir tão facilmente.
Embora já estivéssemos perto da divisa do Paraná, voltamos para Taubaté (com o Dart no guincho) para tentar salvar a viagem, enquanto Marcelo seguia para o Rio Grande do Sul. A ideia era nos encontramos mais adiante. Já na oficina do nosso amigo mecânico Glauco, tivemos o veredicto: apenas um susto e uma junta queimada. Depois de trabalhar a madrugada toda e fazer um pit stop recorde, o Glauco nos entregou o carro na hora do almoço do dia seguinte, e assim seguimos viagem.
Único momento triste da viagem – hoje são apenas boas recordações
As estradas das regiões Sudeste e Sul são um show a parte. Além de muito boas, são belíssimas. Nosso destino era chegar em Santana do Livramento, bem na divisa com o Uruguai. Uma vez em Santana, iríamos ao encontro de Alberto, um conhecido vendedor de peças de veículos antigos no Brasil que nos acompanharia no trajeto uruguaio. Depois de andar pelos bonitos pampas gaúchos com neblina, chegamos em Livramento.
Para nós era uma situação peculiar. Apenas uma praça divide o Brasil do Uruguai, com o trânsito livre entre as pessoas. Claro que não é tão fácil assim entrar em outro país: os pontos alfandegários ficavam após a cidade.
Foi preciso que fazer um seguro chamado “Carta Verde”. Não é um seguro caro, porém o sistema informatizado brasileiro não reconheceu os modelos dos nossos carros por serem muitos antigos, e por isto o procedimento foi realizado em uma agência que utilizava o antigo método manual. Só faltava encher o tanque, pois encontraríamos uma gasolina bem mais cara no Uruguai.
Ainda em Livramento, demos saída no Brasil e entrada no Uruguai. Isto é feito utilizando documentos pessoais (identidade ou passaporte). O curioso é que o serviço alfandegário possui dois guichês: de um lado o brasileiro e do outro o uruguaio. Documentos em ordem, saímos das terras tupiniquins.
Pegando o Alberto em sua casa, em Santana do Livramento – cidade que faz divisa com Rivera, do Uruguai
Já no Uruguai, cruzamos o país de norte a sul. Pela Rota 5, são aproximadamente 500 km até Montevidéu. E foi o que nós fizemos. A estrada é ótima! O pedágio não é lá muito barato (cerca de 96 pesos uruguaios, ou pouco menos de R$ 12 na cotação atual), mas compensa pelas boas estradas. Até chegar à capital uruguaia, a paisagem em muito lembra a região sudoeste do Rio Grande do Sul.
Uma dúvida que tivemos foi sobre a gasolina uruguaia, que não contém álcool. Muito mais cara que a brasileira (quase R$ 8,00 o litro), era oferecida com 95 ou 97 octanas. Colocávamos sempre a de 97 octanas por medo de superaquecer nossos motores. Tivemos relatos que o carro ficava bem mais econômico com essa gasolina, porém em nossos carros carburados não percebemos nenhuma diferença no consumo.
Poucos (e caros) pedágios em estradas com pista simples mas bem cuidadas
Anoitecendo no Uruguai, belos registros
Chegamos a Montevidéu já à noite. No outro dia, passeamos bastante pela cidade. A população do Uruguai se concentra mais ao sul do país, exatamente na região litorânea. O Uruguai é famoso por ter carros antigos ainda em uso. Um questão interessante é sobre o estado dos carros de uso dos uruguaios – os carros brasileiros costumam ser visivelmente mais conservados, por mais estranho que isto possa parecer. A impressão que tivemos, também, foi que os uruguaios não gostam muito de reparar os pequenos acidentes acontecidos com seus carros, dado a quantidade destes com danos na lataria que seriam resolvidos com uma simples lanternagem.
Turistando na Rambla
Com certeza não poderia faltar um almoço no famoso mercado de Montevidéu
A arquitetura da cidade é muito bela. Reparem no Peugeot já com as novas placas do Mercosul
Aproveitamos para visitar alguns desarmaderos, como são conhecidos os ferros-velhos de lá. Ainda se tem muita coisa interessante na região.
Também não poderia faltar uma visita a Punta Del Este e suas lindas praias e cassinos. A cidade tem maravilhosas casas de veraneio que ficam fechadas a maior parte do ano, sendo tomadas por argentinos no verão.
Também visitamos a pacata José Ignácio e a interiorana Rocha. Como nossos carros foram feitos para rodar, não tivemos o menor receio de colocá-los em estrada de chão batido. A região toda é muito bonita, de tirar o fôlego!
La Mano, localizada na Praia Brava em Punta Del Este
O farol de José Ignácio
Porque nossos carros não são de plástico!
Rali?
Nossos Dodge pela Ponte Torta de La Barra
A Ponte Laguna Garzón, que liga Punta Del Este e José Ignácio, no Uruguai
Era chegada a hora de voltar para o Brasil. Voltamos pelo leste do Uruguai, entrando pelo Chuí, extremo sul do nosso país. Aproveitamos para fazer algumas compras no free shop da fronteira. A sensação de que ficamos pouco tempo com certeza deixou um gostinho de quero mais.
Pretendemos voltar ao país novamente. Talvez de V8 novamente, quem sabe?
Valeu o registro na fronteira do Chuy/UY com Chuí/BR
Na volta ao Brasil, aproveitamos para ir ao evento do HPV8, em Garibaldi. Muito V8 fantásticos, mais amigos, mais histórias. O mais legal foi expor nossos carros com as marcas da da viagem ao lado dos carros impecáveis. Estávamos orgulhos de cada pedaço de sujeira presente, deixando claro o espírito Dodgeiro que temos.
No dia posterior ao evento ainda participamos de um passeio pela bela Serra Gaúcha com a turma da região. Espetacular.
Tivemos lugar de destaque no evento em Garibaldi/RS
Passeio pela Serra Gaúcha organizado pelo HPV8 Clube
A foto foi tirada na propriedade da família Tasca. O Dart Azul 73 pertence ao amigo Fabiano Massone,
que nos acompanhou em nosso passeio pelas Serras Gaúchas
Em Santa Catarina, desviamos o caminho para aproveitar a Serra do Rio do Rastro. As curvas fechadas são fascinantes, não tem como descrever em fotos. Ao chegar no topo, tivemos (infelizmente) a vista coberta pela neblina. Não era possível enxergar nem a poucos metros de distância. Tudo bem, a subida foi simplesmente cinematográfica.
Esperamos a neblina diminuir um pouco e já pegamos a estrada novamente, já que o clima na região é totalmente imprevisível.
O tempo mudou de repente e, com neblina, mal dava pra ver os carros
Foto da turma no Mirante Urubici
Outra passagem curiosa: já na divisa de Santa Catarina com o Paraná, tivemos a surpresa de termos o carro revistado pela polícia. Pediram apenas para abrir o porta-malas pois estavam à procura de presidiários que haviam fugido de um presídio próximo. Será que confundiram nossos carros com carros de bandido?
Também demos um pulinho na bela Estrada da Graciosa, que tem uma boa parte feita de pedra. No estado de São Paulo, fomos agraciados pela companhia da Luciane, esposa do Luiz, que pegou um vôo de Brasília para nos encontrar. Juntos fizemos um tour pela nova estrada de Santos (com bem menos curvas que na música do Roberto Carlos) e um passeio em Campos do Jordão. E ainda tivemos o privilégio de participar do evento Mopar em Louveira, organizado pelo Mopar Clube Brasil. Ao final do evento fomos pegos por uma chuva torrencial, que caiu enquanto voltávamos para casa.
Evento em Louveira, minutos antes de pegarmos um tremendo temporal
Depois de quinze dias de estrada, quase oito mil km rodados a uma média de 4,5km/l, chegamos sãos e salvos em nossas casas. A viagem foi um sonho realizado que só nos traz boas lembranças, além de nos ter permitido conhecer novas pessoas e regiões deste Brasil.
Agora é revisar os carros para a próxima road trip. Já estamos com planos de rodar todas as capitais do Nordeste brasileiro. Até lá!